Duas
demissões/defenestrações marcam o tempo político na África do Sul e no
Zimbabwé. O sul da África pode estar à beira de uma pesada desestabilização.
José
Mateus | Jornal Tornado | 15 Novembro, 2017
Na África do Sul, o inenarrável
presidente Jacob Zuma (do ANC) expeliu, sem maneiras, o seu ministro da
Educação. No Zimbabwé, o mais que inenarrável Robert Mugabe, à sua maneira
habitual (ou seja, ao encontrão e insultuosa gritaria) afastou o seu
vice-presidente.
Coisas normais em África, dirão os
distraídos, com a habitual sobranceria. Enganam-se, porém.
África
do Sul
O agora ex-ministro sul-africano da
Educação, Blade Nzimande, é também o secretário-geral do SACP, o partido
comunista da África do Sul. Ora, o SACP é (tem sido…) uma peça fundamental na
estratégia de poder do ANC, tanto em termos eleitorais como (talvez sobretudo)
em termos de exercício do poder político.
O afastamento do governo de Nzimande
indica que a aliança política que atrás da sigla ANC tem governado a África do
Sul pós-apartheid está à beira de se desfazer… E, portanto, de abrir a porta a
outras soluções e a um período de instabilidade. Que pode ser ainda mais grave
se a terceira força dessa aliança – a central sindical sul-africana – se
decidir por não facilitar a vida a Jacob Zuma.
Zimbabwé
No Zimbabwé, a decisão de Mugabe (93
anos…) é igualmente uma aposta sobre o futuro e abre a guerra (até agora
encoberta) pela sucessão do dinossaurico ditador. O afastamento brutal do
vice-presidente Emmerson Mnangagwa pode ser interpretado como a manobra
necessária para abrir caminho à concretização das ambições presidenciais da
senhora esposa presidencial Grace Mugabe…
Mas se na África do Sul, o
secretário-geral do SACP não é um osso fácil de roer, o ex-vice-presidente do
Zimbabwé, Mnangagwa é um osso muito difícil de roer para os Mugabes que se
arriscam a morrer engasgados. Mnangagwa tem melhores relações com os militares
que os Mugabes e tem o apoio da poderosa Zimbabwe National Liberation War
Veterans Association que logo iniciou a guerra a Robert Mugabe.
Em comunicado formal e oficial, os
“veteranos” são explícitos: “Estamos afirmando em termos inequívocos que nós
desaprovamos completamente Mugabe”. E para quem não percebesse, estocada final:
“Ele não é mais um de nós”.
Este apoio da Zimbabwe National
Liberation War Veterans Association a Mnangagwa, para além do peso que tem na
relação de forças político-militares, é também uma enorme fonte de legitimidade
para o ex-vice-presidente.
Angola
e Moçambique
Em suma, os equilíbrios que
permitiram governar (melhor ou pior, mas permitiram governar) o Zimbabwé e a
África do Sul estão à beira da ruptura. São factos preocupantes para os Estados
lusófonos de Angola e de Moçambique. E, claro, para toda a África Austral e,
até, mais além.
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