segunda-feira, 29 de abril de 2019

Eleições Dão a Maior Fragmentação da Espanha Política


PSOE ganha, aumenta votos e deputados mas fica aquém da maioria.
A ERC catalã é a grande revelação ganhadora destas eleições.
Unidas Podemos “derrete” quase metade.
Ciudadanos cresce um pouco mas ‘morre na praia’.
Partido Popular e Vox longe de atingir objectivos.
Soma de Ciudadanos, PP e Vox não dá maioria.
Nacionalistas bascos e catalães sobem votos e deputados.

Recuperação (insuficiente) do PSOE. 'Podemos' a derreter como neve ao sol. A soma das esquerdas insuficiente para formar governo. A 'triade' da direita claramente derrotada. Os nacionalistas bascos e catalães a ganhar eleitorado e deputados, com destaque para a Esquerra Republicana de Catalunha que passa o milhão de votos e envia 15 deputados para Madrid e torna-se (se quiser...) um actor-chave da Espanha política, tanto na Catalunha como no Estado Espanhol. A ERC tem os deputados que faltam às esquerdas para aprovar no Parlamento um governo de Pedro Sanchez... 


A ERC Ganha na Catalunha... E Já Celebra!


domingo, 28 de abril de 2019

“Némein o l'Arte della Guerra Economica”, de Mirko Mussetti

Mussetti é colaborador regular da Limes, de Geopolitica.info e outros órgãos especializados. Este seu trabalho foi desenvolvido no quadro do CESTUDEC - Centro Studi Strategici Carlo De Cristofori, presidido pelo nosso amigo e colaborador Giuseppe Gagliano. O “IntelNomics” recomenda vivamente a sua leitura (e releitura...). A edição é de 2019, ou seja, acaba de sair.



sábado, 27 de abril de 2019

“Serviços” e Guerras da Sombra na Europa


Alex Jordanov é considerado o melhor repórter francês. Depois de anos de investigação, ele oferece agora um absolutamente inédito “mergulho” no interior dos ‘serviços’ franceses, da sua permanente luta contra o terrorismo islamista e de outras missões, como a ‘pirataria’ chinesa das tecnologias europeias. Em “As Guerras da Sombra da DGSI”, Jordanov revela um mundo que todos os dias passa junto dos cidadãos mas que estes não vêem...


“Pour la première fois, des officiers de la DGSI (Direction Générale de la Sécurité Intérieure) racontent avec franchise leur travail sur le terrain. Nous les accompagnons dans leurs surveillances et l'espionnage de djihadistes, le recrutement de sources, le démantèlement de réseaux terroristes, la manipulation rocambolesque d’un responsable du programme d’armement syrien... Ces missions ont lieu tous les jours, sous nos yeux, mais nous ne les voyons pas.

Ce carnet de bord, rédigé sur plusieurs années, offre une radiographie sans précédent des succès et des ratages du renseignement intérieur. On y découvre comment la France a échappé à un attentat chimique qui aurait été bien plus meurtrier que ceux du 13 novembre 2015. Comment certaines figures du djihadisme mondial sont passées entre les mailles du filet sécuritaire. Comment les réorganisations des services et stratégies de carrière de la hiérarchie mettent parfois à mal les missions les mieux préparées.

Au cours du récit, on croise des services secrets «amis» et parfois concurrents, comme le Mossad ou la CIA. On traque les tentatives russes ou chinoises de recrutement au coeur des industries stratégiques française, ou les nationalistes corses aux marges du banditisme. On subit les contrecoups de la guerre feutrée entre services français en charge de la lutte antiterroriste.

Coups tordus, ordres venus «d’en haut», parfois très politiques, grand banditisme, trafics au nom de la raison d’Etat… Cette plongée inédite au coeur des services nous fait entrer dans un monde terrifiant de vérité auquel nous n’avions jamais eu accès.”



Geopolitical Futures: Mapa da Presença Militar Americana em África


A presença militar americana em África é superior ao que tem sido divulgado. A permanente expansão do terrorismo islâmico em África tem sido o factor decisivo para esta dinâmica. O Pentágono reage a  cada etapa da expansão territorial do jihadismo e, discretamente, envia mais umas equipas para monitorizar essa expansão jihadista e ‘aconselhar’ no combate ao terrorismo. A Geopolitical Futures, de George Friedman, fornece um mapa mais próximo da realidade do que a narrativa vulgar.

"The US Military and the African Front

The U.S. military posture in Africa has often been described as a "light footprint." Recent revelations tell a different story."

para aumentar a foto, clicar na imagem


sexta-feira, 26 de abril de 2019

Deutsche Bank e Commerzbank Voltam a Falhar Fusão


Os dois maiores bancos alemães e também os dois maiores "buracos financeiros" (melhor seria dizer que são"abismos"...) e as duas maiores ameaças ao sistema financeiro mundial puseram termo às suas últimas negociações com vista à sua fusão.

"We have concluded that this transaction would not have created sufficient benefits to offset the additional execution risks, restructuring costs and capital requirements associated with such a large-scale integration", segundo a "explicação"de Christian Sewing, CEO do Deutsche Bank.

O Deutsche Bank e o Commerzbank vivem há anos uma situação insustentável, depois de não terem sido capazes de recuperar dos efeitos da crise financeira de 2008. São a grande herança que o longuíssimo consulado de Merkel deixa à Alemanha e também à União Europeia pois constituem os maiores problemas financeiros de toda a UE.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Angola: Quem Faz Esta “Guerra Irrestrita” aos Portugueses?



A cooperação luso-angolana parece estar a incomodar certos interesses de terceiros. Interesses que não conhecem limites, nem na sua avidez e nem nos “métodos” usados para os impor. "Tríades" mafiosas instaladas em Luanda (mas não só) estarão a subcontratar e usar a pequena criminalidade local para uma campanha de terror contra os portugueses que trabalham em Angola e cuja presença incomoda a expansão dessa potência emergente. É uma campanha típica da conhecida filosofia da "guerra irrestrita" na imposição dos interesses económicos e geopolíticos que procuram um domínio absoluto sobre Angola. A conjuntura de transição, entre o fim da longa presidência de José Eduardo dos Santos e o início da presidência de João Lourenço, com todos os acertos a fazer no Estado e, sobretudo, nos seus aparelhos de defesa e segurança, abriu uma janela de oportunidade para o lançamento desta ofensiva destinada a afastar trabalhadores e quadros portugueses de Angola, através de um clima de terror provocado por uma vaga de assassinatos... Pequena questão: o Estado português está ao menos a seguir a questão e a tirar daí as conclusões que se impõem...?


quarta-feira, 24 de abril de 2019

OBOR: A China Pratica a “Fuga p’ra Frente”...?


O projecto de Xi Jinping “One Belt, One Road” é o maior desafio geopolítico e geoeconómico deste primeiro quartel do século XXI. Mas, tanto do lado ocidental como do chinês, parece haver dificuldades em equacionar os problemas que o projecto implica e traz.

A maior parte dos observadores ocidentais teve de início dificuldades em entender tanto a lógica subjacente como o objectivo e o alcance deste projecto estratégico. O modo como a China o parece ver também não é claro (os chineses praticam aqui uma política de “deception”...) e até pode parecer (pelo menos, aparentemente) paradoxal: cínico, por um lado, e ingénuo, por outro.

No seu objectivo real mas nunca assumido, as “novas rotas da seda” são a ossatura para um império chinês que controle toda a Eurásia. E que crie graves dependências financeiras (via a exportação de capitais chineses) e estratégicas a vários Estados, mais fracos, que assim cairão numa nova espécie de Estados tributários do império centrado em Pequim. Este é o lado cínico do projecto.

Pequim parece, porém, encarar com insustentável ligeireza as inúmeras e fortes dificuldades do projecto. E igualmente subestima a imensa exposição a riscos e ameaças que o projecto atraírá uma vez concretizado (se alguma vez se concretizar...). As zonas críticas e problemáticas que as longas e vulneráveis vias do projecto atravessam são legião... Os chineses parecem conhecer mal o mundo exterior. O autor de “Imperialismo, estádio supremo do capitalismo”, Vladimir Ilitch Ulianov, Lenine, teria um imenso prazer em explicar a Xi que para ser imperialista não basta ter necessidade de exportar capital... Este é o lado ingénuo do projecto de Xi.

Obviamente, Xi, o seu estado-maior e o secretariado permanente do comité central do PCC terão visto tudo isto (mesmo o seu fraco conhecimento do “exterior”...) como dirigentes políticos hábeis, experientes e frios que são. Então porquê? Só nos parece existir uma resposta: o estado de desespero provocado pelo profundo conhecimento do (quase) natural bloqueio estratégico da “ilha” chinesa (melhor será dizer a “ilha” Han...) e da estratégica dependência da economia chinesa dos mercados europeu e norte-americano. A OBOR como fuga para a frente...? A ver nos próximos anos...

terça-feira, 23 de abril de 2019

Mensagem aos Economistas: "Keep Calm and Study Geopolitics"...

Depois de 2008 ter decretado o fim do "Fim da História", economistas entraram num frenesim de estudos sobre a "crise que ninguém vira chegar" e profecias várias sobre o "futuro do capitalismo". Nesta década, passaram-nos assim pelas mãos quantidades  de "indispensáveis" volumes em que, presos em desactualizadas grelhas teóricas do "Economics" e etc, economistas se agitavam rodopiando sobre si mesmos, como um cão a querer morder-se a cauda... Pobre espectáculo este, o de quem não viu chegar a tempestade e pretende, agora, explicá-la e apontar saídas e soluções. 

É caso para lhes dizer: Tenham calma e comecem por estudar Geopolítica...  “Keep Calm and Study Geopolitics”!


A China Instala-se na América do Sul

A China acelera a sua ofensiva na América do Sul abrindo, rapidamente, novas frentes. Ofensivas centradas em dois eixos: controlo e exploração de matérias-primas estratégicas (lítio e hidrocarbonetos) e recolha e controlo da nova matéria-prima, o ouro da sociedade da informação, os dados. Giuseppe Gagliano faz a síntese desta nova fronteira da influência de Pequim.

Videocamere e sorveglianza: la nuova frontiera dell’influenza della Cina in Sudamerica

Giuseppe Gagliano | 20 Aprile 20191

Roma, 20 apr – Nel febbraio del 2019, l’Uruguay ha iniziato a installare la prima di 2.100 telecamere di sorveglianza, donate dalla Repubblica Popolare Cinese per migliorare il controllo dei suoi confini con la vicina Argentina e e con il Brasile. 


Questa iniziativa si inserisce nel contesto un partenariato strategico iniziato nell’ottobre 2016 e ufficializzato con la firma di un memorandum d’intesa nell’agosto del 2018.



L’intesa Uruguay-Cina

L’intesa pone in luce una dimensione poco discussa ma importante della proiezione di potenza della Cina e cioè la sua esportazione di tecnologie di sorveglianza e controllo. Infatti l’installazione di sistemi di sorveglianza cinesi, acquisita attraverso donazioni governative della RPC o tramite contratti commerciali è un fenomeno in crescita in America Latina.

Tali sistemi hanno cominciato ad apparire nella regione più di un decennio fa, e cioè nel 2007, quando l’allora sindaco di Città del Messico (ora ministro degli Esteri messicano) Miguel Ebrard è tornato da un viaggio a Pechino con un accordo per installare migliaia di telecamere cinesi per combattere il crimine nella capitale messicana.

Esempi più recenti includono dispositivi denominati ECU-911 esportati in Ecuador, sistemi che hanno come finalità quella di realizzare un sistema nazionale di sorveglianza e comunicazione che viene naturalmente costruito in Cina.

Questo sistema di sorveglianza include attualmente 4.300 telecamere e un centro di comando presidiato da migliaia di ecuadoriani, ed è stato costruito quasi completamente da apparecchiature cinesi.

Nel Nord dell’Argentina i cinesi estraggono il litio

Anche la Bolivia ha un simile sistema costruito in Cina, anche se di portata più limitata, chiamato BOL-110 caratterizzato da un centinaio di telecamere di sorveglianza donate dalla RPC presenti in quattro delle principali città della Bolivia.

A Panama, nel 2017 il governo di Juan Carlos Varela ha acconsentito a Huawei di installare un sistema di telecamere nella città di Colon e nella zona di libero scambio associata.

Non a caso, nel luglio 2019, Hikivision, il maggiore produttore cinese di telecamere di sorveglianza, ha annunciato l’intenzione di creare un importante centro di distribuzione a Colon per supportare le vendite dei suoi prodotti in tutte le Americhe.

Nel nord dell’Argentina, in prossimità di una zona in cui i cinesi stanno estraendo il litio la società cinese ZTE sta installando un altro sistema di risposta alle emergenze con 1.200 telecamere.

In Venezuela, sebbene non si tratti in senso stretto di un sistema di sorveglianza, la compagnia cinese ZTE ha aiutato il regime di Maduro a implementare una “carta di identità della patria” che collega diversi tipi di dati alle persone attraverso questa carta di identità elettronica che consente allo stato di attuare un ampio controllo sociale.

Questa politica economica non deve sorprendere poiché la Cina intende promuovere e sostenere l’esportazione globale dei sistemi riconosciuti come strategici per la nazione cinese.

I pericoli dei sistemi di sorveglianza

Come per tutti i sistemi di sorveglianza anche per quelli cinesi i rischi sono molteplici e significativi, tra cui:

(1) la sensibilità dei dati raccolti su persone e attività specifiche, in particolare se elaborati attraverso tecnologie come il riconoscimento facciale, integrati con altri dati e analizzati attraverso l’intelligenza artificiale (AI),

(2) la possibilità di ottenere surrettiziamente l’accesso a tali dati, non solo attraverso i dispositivi di raccolta, ma in qualsiasi punto e infine

(3) la possibilità che a lungo termine tali sistemi possano contribuire a ridimensionare l’influenza americana sia dal punto di vista politico che economico. Infatti, le tecnologie di riconoscimento facciale e la possibilità di integrare i dati di diversi sensori incrociandoli con altre fonti come gli smartphone, consentono – a coloro che hanno accesso a questa tecnologia – di seguire il movimento di persone e di flussi commerciali.

Giuseppe Gagliano

segunda-feira, 22 de abril de 2019

A Arte da Guerra Económica, segundo Alain Juillet



Excelente apresentação da “arte” e do seu “estado”. Por isso, um ‘Obrigado’ a Alain Juillet mas também ao autor do blog suíço “Sun Tzu parle aux dirigeants stratèges”, Jérôme Gabriel, e, claro, ao Thinkerview que realizou esta magnífica entrevista ao grande senhor e Mestre que é Alain Juillet.

“Une excellent entrée en matière pour les novices en intelligence économique; un rappel des enjeux pour les plus curieux et une évidence pour les dirigeants stratèges.

Le décryptage de l’émission a pour but de vous repérer de manière chirurgicale parmi les nombreux sujets abordés dans cette interview. Chaque étape ‘chronologique’ est ponctuée par mots clés et références pour chacun en fonction de son niveau de connaissance des sujets traités.

Novices, apprentis ou experts en Intelligence économique y trouveront, je l’espère, leurs sujets de prédilection. En vous souhaitant une excellente ‘contre-lecture’ des signaux contradictoires ou auto-censurés des ‘mainstream medias’ !”


Raríssimo: Quando a “Patroa” da CIA Fala em Público...

É um acontecimento que só pela sua raridade já merece destaque.

“CIA Director Gina Haspel Speaks at Auburn University:

“(...) Over the past year, our leadership team has taken steps to improve CIA’s ability to tackle the many challenges we face. And our efforts are beginning to pay off.

For starters, we’ve devoted more time, money, and creativity to our effort against some our nation’s toughest adversaries.

Our Russia and Iran investment has been strengthened after years of falling behind our justifiably heavy emphasis on counterterrorism in the wake of 9/11. Groups like ISIS and al-Qa‘ida remain squarely in our sights, but we’re honing our focus and resources on nation-state rivals.

Additionally, we’re applying cutting-edge technologies and tradecraft to allow us to react more quickly to global developments—like targeting a terrorist organization wherever it arises and before it spreads.

We’re making great strides with our foreign partners—those ties are stronger than ever. And let me tell you ....”

Here's a link to her written comments posted by the CIA:





domingo, 21 de abril de 2019

Geopolítica: Da Importância do Lugar... Da Natureza das Nações

“A maioria das pessoas que pensa em geopolítica pensa em termos de interacção entre geografia e pessoas. Mas nessa equação, as pessoas são uma variável muito complexa. A geografia fornece imperativos para a sobrevivência, mas a geopolítica não exclui as origens e a natureza da comunidade, nem o carácter moral da nação. E, portanto, não ignora os regimes políticos que emergem. (...) Ainda assim, a moral deriva do necessário - e o necessário começa com o lugar.”

George Friedman, in The Nature of Nations, GPF, April 18, 2019



sábado, 20 de abril de 2019

“Collapse”, análise da crise estrutural

Escrito por um colaborador de Bill Clinton, homem há várias décadas ligado Partido Democrata, embora bastante crítico de Obama, o acabado de publicar “Collapse” defende a tese de que só um “assertive democratic idealism" pode salvar o mundo de um colapso total.

Douglas E. Schoen começa por estabelecer que as elites de governo deram a primazia aos seus próprios interesses em detrimento do interesse colectivo. Em resultado, a presidência de Obama foi uma “downward spiral”, incapaz de responder aos desafios que a situação colocava, tanto no plano interno como no externo.

Exemplo dessa incapacidade de Obama é o "ruinous nuclear deal with Iran" que "has all but guaranteed Tehran will become a nuclear power". No plano interno, Schoen destaca a “growing income inequality” e as “failing schools”... Em consequência, "the public has grown increasingly disgusted with elite institutions, especially government, but also business and the media".

É esta perda de confiança na elite política reinante, nos seus media e nas instituições em geral que leva à ascensão e triunfo de Trump: "the problems and trends that led to Trump's shock emergence have been festering for years...”. Mais explícito ainda: "Trump's rise would not have been possible without the loss of trust in government and institutions."

E pergunta final, será Trump, então, o homem certo no lugar e no tempo certos? Poderá Trump proporcionar a liderança que a América tanto precisa? Schoen tem dúvidas e dá uma resposta ambígua: "Pelo menos por enquanto, tudo se resume a Donald Trump. Ele está pronto para isso? Quererá ele sê-lo? As respostas a estas perguntas dir-nos-ão muita coisa."


“Collapse: A World in Crisis and the Urgency of American Leadership”, by Douglas E. Schoen – March, 2019

“Collapse” takes stock of a volatile and threatening international environment by looking at some of the underlying causes and flashpoints―the principal one being the failure of institutions and elites to respond to their constituencies and address the problems of our age.

This is a problem spanning the increased polarization that bred nationalist and populist movements, the continued failure of Western leaders to come up with effective strategies for combating authoritarian rivals like Russia and China, and the ongoing Islamist threat.

Schoen makes clear that the indispensable ingredient for any constructive path forward is effective, engaged, and committed American leadership. This is discussed through the lens of the failed models of President Trump’s two recent predecessors, which reflected, respectively, an uncritical embrace of American power―lacking strategic insight and proportion―and an uncritical abandonment of American leadership that suggested an abject view of the U.S. moral example in the world. Instead, Schoen posits assertive democratic idealism―an embrace of U.S. moral leadership around the world but in ways that remain leavened by realism and a guiding understanding of our national interest. Whether President Trump can deliver on such a vision remains to be seen.

Editorial Reviews

“At a moment when chaos and disequilibrium seem to define politics and statecraft around the globe, Schoen has given us not only a way to understand how we got here, but also a prescription for how we find our way back to a more perfect union and a calmer world. A seasoned veteran of political combat, he has advised presidents, prime ministers, governors, and mayors for decades. In his newest book, Collapse, he gives us a roadmap for a new north star for global stability. During these anxious times, Schoen helps us imagine a path toward a more hopeful future. Part professor, part hardnosed political adviser, Schoen is the perfect tutor at the perfect time.”

―Richard Plepler, Chairman and Chief Executive Officer of HBO


“This is a bracing, authoritative, and lucid account of the geopolitical crisis that is now afoot in the world and the need for clear-sighted, moral American leadership on the world stage. Schoen explains in an engaging, highly readable manner how the twentieth-century international alliances and pillars of Western democracy have been eroded―and surveys the rising threats posed by authoritarianism, extremist Islam, and other challenges. However, he does not succumb to defeatism; instead he appeals for a new type of American leadership known as ‘assertive democratic idealism,’ arguing that this could and should be supported by Democrats and Republicans alike. At a time when so much of the debate about domestic and global politics is deeply polarized, this vision of ‘assertive democratic idealism’ offers a welcome bipartisan call to arms, in the cause of common-sense policy making―and is precisely the type of sensible, clear-headed analysis which is so badly needed in Washington today.”

―Gillian Tett, U.S. Managing Editor, the Financial Times


“A remarkably comprehensive analysis of the challenges―internal and external―that we face today. Schoen is able to write intelligently about domestic and international issues alike, weaving them into one worrisome picture of the world. But Schoen ends up, like the man he worked for, Bill Clinton, optimistic about America’s ability to help the world out of the gloom and into broader sunlit uplands. Well worth reading.”

―Fareed Zakaria, author of The Post-American World



About the Author

Douglas E. Schoen has been one of the most influential Democratic campaign consultants for more than 40 years. A founding partner and principal strategist for Penn, Schoen & Berland, he is widely recognized as one of the co-inventors of overnight polling. His political clients include former New York City mayor Michael Bloomberg and President Bill Clinton, and his corporate clients include AOL Time Warner, Procter & Gamble, and AT&T. Internationally, he has worked for the heads of state of over 15 countries. He is the author of multiple books; his newest, America in the Age of Trump, was published in the summer of 2017. Schoen is a regular contributor to the Wall Street Journal, the Washington Post, and various other newspaper and online publications, as well as Fox News. He is based in New York City.


quinta-feira, 18 de abril de 2019

Em Quem Confiam os Brasileiros...?


A instituição em que os brasileiros depositam maior condiança é a instituição militar: 80% confia nas F.A e só 18% não confia. Os resultados de recente sondagem do Datafolha mostram que 45% dos brasileiros têm um alto nível de confiança nas F.A., 29% na presidência, 25% no poder judiciário, 24% nos media, 22% nas grandes empresas e 8% no Congresso. Síntese: os militares estão no topo e os políticos no fundo da hierarquia de confiança dos brasileiros.


Na leitura que o Datafolha faz do seu trabalho, “as Forças Armadas seguem como a instituição mais confiável para os brasileiros, com certa vantagem sobre as demais. 45% dos brasileiros com 16 anos ou mais confia muito nas Forças Armadas e 35% confiam um pouco. Há ainda 18% que não confiam nas Forças Armadas e 2% não tem opinião a respeito.

“Na sequência, com maior nível de confiança, aparece a Presidência da República (29% confiam muito, 41% confiam um pouco e 29% não confiam). Num patamar abaixo estão Ministério Público (25% confiam muito, 50% confiam um pouco e 22% não confiam), Poder Judiciário, considerando juízes e desembargadores (25% confiam muito, 49% confiam um pouco e 24% não confiam), imprensa (24% confiam muito, 48% confiam um pouco e 26% não confiam) e grandes empresas (22% confiam muito, 51% confiam um pouco e 26% não confiam). O Supremo Tribunal Federal, que apesar de fazer parte do Judiciário é tema de consulta exclusiva, merece muita confiança de 18%, um pouco de confiança 46% e nenhuma confiança de 32%.

“O Congresso Nacional é tido como muito confiável por 8% e como um pouco confiável por 49%. Para 41%, é nada confiável. O conjunto de deputados e senadores supera somente os partidos políticos, nos quais 5% confiam muito, 39% confiam um pouco, e 54% não confiam.”


quarta-feira, 17 de abril de 2019

“Queres dinheiro, vai estudar o camarada Xi...”


A China concede empréstimos aos empresários que queiram estudar a filosofia do camarada-presidente Xi... Assim se ‘planta’ a ideologia do PCC e se liga o financiamento económico à lealdade política!

Desta, de criar um laço absoluto entre o acesso ao dinheiro e a lealdade política ao "imperador", nem o próprio Mao se tinha lembrado... Sob a revolucionária direcção do PC e do camarada Xi, a China parece empenhada na restauração de modos de produção muito asiáticos, confucianos e tributários. 

Onde isso irá conduzir é, por enquanto, uma incógnita. O que já é claro é que tal está muito longe de quaisquer liberdades individuais (que a China nunca conheceu...) e da livre circulação dos factores de produção.


Care for a loan, comrade? Business owners in China have been receiving loans for studying the philosophy of President Xi Jinping. Granted, the business itself must be economically viable, but applicants who dutifully spread Communist Party ideology qualify for what’s not-so-subtly being called “red impetus loan.” The loans are reportedly guarantee and collateral free, and come with lowered interest rates.


Félix Ribeiro: Inteligência, Estratégia, Desenvolvimento...

José Manuel Félix Ribeiro, em "Portugal - A Economia de Uma Nação Rebelde", faz diagnósticos, aponta soluções. “Não temos de ser um protectorado germânico nem uma feitoria chinesa”. Os grandes eixos do seu discurso não são a dívida ou a despesa. São o crescimento ou essa palavra (entre nós) perdida que se chama estratégia. Há meia-dúzia de anos, Félix Ribeiro deu uma entrevista a Anabela Mota Ribeiro, para o Jornal de Negócios, que aqui se regista. Porque vale bem a pena a sua revisitação. Porque é histórica. E, sobretudo, porque continua actual.


O título do seu livro, "Portugal - A Economia de Uma Nação Rebelde", aponta para uma natureza que não se deixa domar. Estuda as razões porque não crescemos, porque somos um país endividado. Porque é que não nos deixamos domar?
Não sei. O que sei é que ao longo da história surpreendemos em vários momentos pela solução que encontramos para as nossas desgraças. O que tentei com este livro foi dizer que Portugal está numa daquelas alturas em que tem que mostrar o que vale. Para isso, só se pode inspirar nos momentos em que foi rebelde.

Rebelde?
Rebeldia é uma expressão pouco usada. As pessoas são normalmente revoltadas ou descontentes. Ser rebelde supõe auto-estima. As circunstâncias são tão asfixiantes que temos que virar a mesa.

Para virar a mesa, é preciso saber porque estamos nesta situação? Compreender para mudar.
Sim, e compreender como é que o mundo está a evoluir. Entre que pingos da chuva podemos navegar.  

Não é o famoso desenrascanço português.
Não, não. É uma inteligência estratégica.

Escreve que é preciso repensar o que foi fundador nestes 40 anos de democracia. Se respondemos bem em determinados momentos, isso é uma reacção, não é uma estratégia.
Acho que tivemos uma estratégia muito clara e bem concebida quando perdemos o império, derrubámos um regime e nacionalizámos uma economia – não tendo estado numa guerra civil.

Está a falar dos três D’s.
Sim. E tivemos três pilares. A Europa (o local de acolhimento que deu uma garantia de que a democracia era protegida pelo exterior)...

... a que aspirávamos pertencer.
Sim. Estes 40 anos têm uma matriz pró-europeia enorme. Segundo pilar: o Estado Social, que é uma ideia do prof. Marcello Caetano. Num regime e noutro traduz uma necessidade de encontrar uma legitimidade popular.

Seria possível a implementação de um Estado Social num regime não-democrático, com Marcello?
Sim. O seu foi um período de crescimento económico, o que lhe deu folga. O único grande problema era a guerra de África. Terceiro pilar: o municipalismo. Éramos um país de emigração, que praticamente parou, e recebemos 800 mil pessoas, que se integraram, espalhando-se pelo país. O municipalismo, pelas oportunidades que deu, foi fundamental. A reabsorção de uma parte das pessoas que vieram das colónias foi feita no Estado.

Não foi notável que em menos de um ano tenhamos recebido tantas pessoas, sem convulsões sociais?
Foi. Fizemos uma transição formidável.

O seu ponto: foi também para responder à chegada massiva de retornados...
... que começou a aumentar o Estado. O Estado na autarquia e na administração central. Para lhes dar resposta na educação, na saúde e no emprego. [Nessa fase] tivemos uma estratégia. Ao longo do percurso europeu tivemos também uma estratégia, que foi estar no núcleo duro do processo de integração europeia.

Pertencer a uma Europa dos primeiros. Não ser um parente pobre.
É. Na opinião das pessoas, se não tivéssemos feito essa aposta de estar desde o princípio no centro, seríamos uma periferia maior. Espanha teria sempre uma ambição de estar no centro. Espanha é um dos grandes problemas da história portuguesa. Somos o único país da Europa que tem um único vizinho. E o vizinho é quatro vezes maior do que nós. Tem pujança, ambição, coisa que nos falta às vezes. Alinhar com esse vizinho, sem o império, constituiu um desafio importante.

Mencionou as nacionalizações. Como foi feita a gestão desse dossier?
Constituíram uma coisa relativamente lateral. Corresponderam a...

... a uma deriva socialista, pura e dura?
Sim.

Tem noção que quando diz isso a direita fica exultante e a esquerda condena o seu discurso?
Sei. Um dos trabalhos que mais gostei de fazer, em 72/73, feito com a minha primeira mulher, que já faleceu, e um colega,  chamava-se  “Grande Indústria, Banca e Grupos Financeiros, 1953-73 – História da Economia Portuguesa”. Deu-me a percepção de que os grupos económicos no período do Marcello Caetano estavam a fazer uma alteração substancial da maneira de pensar a sua actuação. O Estado já não os podia ajudar tanto, e descobrem que têm de fazer coisas para o exterior. O grupo que lidera isso é o grupo CUF. Champalimaud também tentou. Com Rogério Martins e Marcello houve uma liberalização e uma vaga de investimentos enorme. Esse período (1967-73) é o de um capitalismo – dos grupos – que criava esperança. Foi tudo decapitado.

Como não podia deixar de ser?
Acho que não. Não era obrigatório. Até achei que as nacionalizações podiam ser necessárias. Mas depois escrevi: “As pessoas que quiseram as nacionalizações foram conquistar castelos vazios. O que lá estava já não era capital. Era dívida”.

Porquê?
Porque todos estes grupos estavam a embarcar em grandes projectos. Isto tem uma consequência: expressa um convívio muito mau da população com os ricos. Coisa péssima. Os ricos são muito úteis.

Repito a pergunta: como não podia deixar de ser? Não era inevitável num país tão desigual a convivência difícil entre ricos e pobres?
Não há pobres por haver ricos. Em todas as economias baseadas no controlo sobre a terra, a pobreza é o oposto da riqueza. No capitalismo (que se liberta da terra) a possibilidade de ascender ao capital e à riqueza é muito maior. O que vemos depois do 25 de Abril é que a riqueza se democratiza em torno da terra. Do imobiliário, da corrupção à volta da terra. Mas estes ricos não são muito úteis.
Tivemos três motores a funcionar: um a exportar, outro a investir e outro a aumentar o consumo por causa das remessas dos emigrantes.

Qual é o nosso motor neste momento?
Não temos nenhum. Aquele período [marcelista] era um período de ouro se esquecêssemos o quadro político em que ele se enquadrava. A máquina funcionava. Isto terminou sobretudo com a crise do petróleo de 73 (levou tudo uma machadada quando estava a construir-se). Estou a querer dizer que hoje estamos num período deste tipo.

Semelhante ao de 73?
Sim. Aquilo que foi possível fazer num período de 35 anos, chegou ao fim. Temos que nos reinventar.

Queria ainda falar dos ricos. Qual é o problema dos ricos portugueses? Não têm capital suficiente? São ricos sobre-endividados? São ricos dependentes do Estado?
No final do Antigo Regime alguns dos ricos estavam a fazer uma mudança enorme de agulha. Falo sobretudo do José Manuel de Mello. Estavam pela primeira vez a viver sem o Estado. Apoiados pelo Estado mas a fazer coisas para fora, aliados a suecos, americanos. Estavam num processo de aprendizagem que era bom. O que é que veio a seguir?

Saíram no pós-revolução. A maior parte para o Brasil.
Quando voltaram tiveram de comprar aquilo que era deles. Endividaram-se no exterior para comprar. O que nós tivemos [nos anos da democracia] foi uma multidão de novos ricos. Uma multidão de novos ricos!    

Com outra expressão. Pequenos, pequenos novos ricos.
Sim. Um rico útil é um rico capaz de telefonar para o Rockefeller e dizer: “Preciso disto”. Um rico útil é um rico que pertence à elite mundial ou europeia, que tem contactos com ela e que é capaz de fazer projectos com ela.

Quem são esses ricos em Portugal?
Hoje? Houve uma degradação... E democratizámos a riqueza a um nível baixo, formando um bloco: os bancos, as câmaras, os promotores imobiliários, os construtores civis, as obras públicas.

Quando está a falar de multidão de ricos está a falar de quem? Que tipo de vida têm esses?
Pessoas que passaram a ter um nível de vida muito melhor. Acumulam património, mas não acumulam capital. Não reinvestem.

Sublinha a diferença entre riqueza e capital, coisa muito esquecida em Portugal. Concorda?
Absolutamente. No fundo, não são aventureiros. Não quero dizer mal dos ricos nem dos pobres. Hoje temos as start-ups vindas das universidades, as PME’s. É um terreno fértil em termos de capacidade empresarial. Mas são muito pequeninos. Tenho um navio e preciso de lhe dar um novo rumo. E não tenho ninguém para dar o golpe de leme.

Ninguém: está a pensar num líder político?, num empresário?
Ninguém em termos empresariais. Precisamos de nos relacionar com grupos multinacionais através do Estado. Acho que o Estado tem um papel importante na reconversão da economia, ao contrário da maior parte dos economistas que acham que se pintarmos a casa e tivermos um bom comportamento, vem para cá tudo quanto é desejável. Não vem. Por uma razão simples: o mundo está cheio de sítios para ir.
Formámos uma geração muitíssimo mais qualificada do que alguma vez tivemos. Era fundamental para atrair investimento.

Porque é que não se investiu? Porque é que esta geração está a debandar?
Porque a Comissão Europeia não gosta. A CE tem alguma dificuldade em que façamos atracção de grandes projectos de investimento. Acha que temos é de pôr o dinheiro nas PME’s.

Quando fala de CE está a falar da Alemanha?
Não sei se é a Alemanha. É a máquina burocrática. Os alemães vieram muito para cá. Temos uma dívida de gratidão, se assim se pode chamar, ao investimento alemão. Auto-Europa, Siemens, Bosch, Continental (pneus).

Mas esse grande investimento, alemão, internacional, não é o fulcro da nossa economia.
Temos um peso grande de sectores de actividade, viradas para o mercado interno, que criam muito emprego mas não têm grande produtividade. E não têm capital. Vivem a crédito. Não lhe chamo economia capitalista, mas economia mercantil a crédito. Muito numerosa. A Troika enganou-se quando, ao deixar que houvesse uma contracção do crédito, dizimou uma parte deste tecido. É um tecido que não tem nada que ver com competitividade. São os restaurantes, os cafés.

Pequena construção civil e restauração: muito estava alicerçado aqui.
Claro. E no comércio. Quando contraem o crédito, aumentam o IVA, as rendas comerciais, quando fazem tudo ao mesmo tempo... É uma coisa de loucos. É não ter em conta que nós temos uma ecologia. Não se pode pedir a um estrangeiro que compreenda a ecologia desta selva se nós próprios não a conhecemos. Em Washington não têm que saber que há esta ecologia. Convém é que os que estão cá expliquem.

Estamos a despedir-nos da Troika. A fachada ficou pintada de fresco, apesar de as cores estarem esmaecidas. Não fomos à bancarrota, mas os números estão longe do esperado.
A Troika teve um papel fundamental. Vamos comparar. Tínhamos um automóvel. A certa altura, o automóvel deixou de ter certificação para circular na estrada.

Deixaram de nos emprestar dinheiro lá fora.
É o mesmo que ter um automóvel com uma certa idade, não fomos à vistoria, fomos apanhados pela polícia. O que a Troika veio fazer foi dar-nos outra vez as condições para circular na estrada.

Este elemento não é despiciendo: tivemos a esperança de que o carro ia sair novo deste processo.
O carro não saiu nada novo! 

O português espera sempre por um momento destes para se refazer, começar de novo, “agora é que nos vamos endireitar”. A ladainha conhecida. O sebastianismo.  
A Troika permitiu que nós, que estávamos proibidos de circular... Não estávamos só proibidos de nos endividar; tínhamos uma chancela tal que os investidores internacionais, se quisessem vir para cá, tinham dúvidas em vir para cá. Portanto nós podemos voltar a circular. É esse o significado de voltar aos mercados. O grande problema está em que o automóvel não foi transformado. As actividades típicas deste automóvel são as mesmas. Temos que fazer uma grande reparação, meter-lhe um motor novo. Isso não tem nada a ver com a Troika.

Não tem a ver com o dinheiro que nos emprestam?
Não tem a ver com a Troika. A Troika veio cá para um outro objectivo. A Troika teve três agendas diferentes. A agenda da Comissão Europeia, a agenda do Banco Central Europeu e a agenda do Fundo Monetário Internacional. Gostava de perceber até que ponto essas agendas foram articuladas convenientemente, de início. A CE veio com uma missão: mostrar que era capaz, perante os alemães, de pôr em ordem as contas públicas de um país que tinha ultrapassado os limites. Escondendo que ela, em 2009, tinha estimulado este actor a gastar dinheiro.

Tem um capítulo no seu livro em que diz, justamente: “De Bruxelas, autorização para gastar. De Bruxelas, a exigência de poupar.” Passámos rapidamente de uma a outra.
A necessidade de consolidação orçamental era muito importante. A necessidade de resolver a situação do sector empresarial público (que é uma fonte de prejuízo) era muito importante. Mas há aqui um problema: não foi por causa de o Estado ser grande que deixámos de crescer.

Pode esmiuçar? Fala-se muito do Estado gordo e da dívida. Fala-se menos de crescimento. 
O problema é que deixámos de crescer. A partir de 92/93 crescemos devagarinho e depois estivemos uma década praticamente parados – num período em que a economia mundial estava muito boa. Podíamos ter aproveitado. Não aconteceu. Fim do Cavaquismo, 94. A maioria que vem a seguir tem de trazer novidade. 

O que trouxe Guterres? A paixão pela Educação.
Trouxe mais Estado Social.

Não era inevitável que a despesa com o Estado Social aumentasse? Ele ainda não estava consolidado.
Era inevitável. O que quero dizer é que não há uma relação de causalidade entre ter um Estado maior e um crescimento baixo. Simultaneidade não é causalidade.

Estabelece-se frequentemente uma associação entre as duas curvas.
Estou a crescer pouco, o Estado está cada vez maior, logo, se reduzir o Estado passo a crescer: é falso! Nós deixámos de crescer por umas razões e aumentámos o Estado por outras. Como não cresço, tenho menos impostos, menos capacidade de financiar o Estado, isto vai aumentando e vou-me endividando.

Tudo mudou quando entrámos no Euro.
A dívida só foi possível quando entrámos no Euro. Até então ninguém nos emprestava dinheiro (naquela quantidade). Endividámo-nos para tentar gerir a situação de um Estado grande num país sem crescimento. O que é que estão agora a fazer? Assim: vamos ajustar o Estado e daí, quase com certeza, vai haver crescimento.

Falso?
Não estou de acordo com isto. Acho que é um equívoco. 

Esse equívoco serve projectos eleitoralistas. As pessoas precisam de encontrar responsáveis pela situação em que se encontram. É fácil misturar os dois planos e dizer: a culpa de não crescermos e do Estado gordo é do Governo anterior. 
Claro. A partir de certa altura, com o endividamento, deixámos de poder circular na estrada, e isso tem que ver com o crescimento e não com a dimensão do Estado. Ou seja, o automóvel deita muito fumo. “Arranjem maneira de não gastar tanta gasolina e não deitar tanto fumo.” Foi o que a gente esteve a fazer. Pode circular outra vez. Vai continuar a andar devagaríssimo.

A famosa reforma do Estado, anunciada como uma das obras que fazem a diferença: o que é que pensa sobre o assunto?
Não se pode fazer uma reforma do Estado sem haver um compromisso para décadas. O problema não é o Estado, o problema é que o modelo mudou. Estávamos habituados a que houvesse capitalismo e socialismo. Não conseguimos habituar-nos à ideia de que há vários capitalismos. O capitalismo da Europa continental – o do Euro – é muito diferente do capitalismo anglo-saxónico, onde se democratizou o empreendedorismo. Criou-se uma mitologia na Europa que faz do capitalismo americano uma coisa bárbara.

Desenfreado, sem protecção social. A marca negativa é essa.
No capitalismo europeu a protecção social é assegurada pelo Estado ou pela Segurança Social (por um acordo entre patrões e trabalhadores). Deste lado, o mundo empresarial é financiado pelos bancos. O mundo da zona euro é de Estado e bancos. Em certos momentos os bancos vão-se abaixo e o Estado mete dinheiro. A partir de certa altura o Estado tem dívida, baixa o seu rating, e os bancos vêem também o seu rating afectado.

Pescadinha de rabo na boca...
No mundo anglo-saxónico, as famílias devem ter património (a casa) e poupança institucional (fundos de pensões, seguros de vida). O Estado intervém supletivamente – herança do Roosevelt – para ajudar as pessoas que não conseguem fazer estas duas coisas. O sistema financeiro americano não está assente nos bancos, está assente no mercado de capitais. “Eu quero acções que me dêem segurança, que me dêem crescimento”. Escolhem. Os bancos, não. São dinossáuricos.

Em resumo: falta ao sistema continental o empreendedorismo que é a razão do sucesso e do crescimento do capitalismo anglo-saxónico.
Sim. Isto aqui está tudo pendurado nos bancos. E os bancos cada vez podem correr menos riscos.

Não correram enormes riscos? Olhemos para os portugueses e pensemos no quanto se sobre-alavancaram em relação às regras de Basileia, por exemplo.
Correram riscos de outra natureza. O que fizeram foi diferente. “Vou oferecer aos meus depositantes, não o depósito, mas fundos.” Ou seja, captaram depositantes. Hoje só sabem vender casas e crédito ao consumo. Em suma, a Europa não tem futuro com este modelo. O que estamos a tentar é que o BCE salve o parque jurássico para salvar o Euro.  

Mario Draghi não tem força em relação a Angela Merkel, que parece ser, verdadeiramente, quem manda?
Note: a Alemanha é isto. Um sistema financeiro continental com um Estado muito grande.

Mas cresce muito e o problema não se nota.
Cresce muito agora. Nos anos 90 esteve muito mal.

Fomos tergiversando. Mas começámos por falar da reforma do Estado.
Reforma do Estado não é uma palavra correcta. A reforma do modelo capitalista é que é a questão decisiva.

Em que sentido?
Posso aumentar a componente privada na protecção social, introduzir competição na oferta de ensino, por exemplo.

De certa maneira diz que devíamos ter um sistema híbrido, entre o que os europeus reconhecem como conquista do pós-Segunda Guerra (o Estado Social), e aquilo que no código anglo-saxónico garante a sua sustentabilidade, nomeadamente um regime mais liberal na economia e com espaço para o empreendedorismo.
Sim. E com uma profunda transformação do sistema financeiro.

A transformação do sistema financeiro é a pedra de toque que agiliza todo o processo?
Para mim, é. Como só temos bancos e os bancos estão aflitos, isto vai acabar como? Todos os bancos vão mudar de proprietário, ser controlados a partir do estrangeiro.
A mudança do modelo capitalista envolve também o reconhecimento de que o período da mão de obra acabou. Hoje, o paradigma é o do capital humano.

Como assim?
O capitalismo moderno, na Europa, para sobreviver precisa de pessoas que tenham empenho na sua qualificação e na melhoria de rendimento que resulta dessa qualificação.

Porque é que a única maneira de sobrevivermos, na sua opinião?
Para o resto, mão de obra desqualificada e barata, há aos pontapés no mundo inteiro. Eu não quero mão de obra barata para me tornar competitivo, eu quero trabalhadores que acumulam capital humano estimulados pelo mundo empresarial. 

Isto é ainda a Europa a redefinir-se/reorganizar-se 25 anos depois da queda do Muro de Berlim?
É. As pessoas não deram conta que a construção europeia é um projecto completamente artificial. Porquê? Nasce de duas coisas: um adversário à porta (é feita num contexto onde a União Soviética existia e tinha um enorme poder militar) e o maior país amputado e derrotado na guerra [Alemanha]. Em 1991 acontecem duas coisas: a União Soviética implode e a Alemanha reunifica-se. Como é possível acreditar que a seguir a isto a Europa vai ser a mesma?

Qual foi o salto que a Europa quis dar?
Vamos transformar-nos numa grande potência, todos juntos. A seguir vem o Euro.

Faz sentido. O problema é o modo como isso foi implementado.   
Isto tudo é inveja dos americanos. [riso] (Eu gosto muito dos americanos.) A Europa é como aquelas pessoas de idade que dantes jogavam no casino e agora estão sentadas à sombra de uma árvore a jogar à sueca. Têm uma enorme nostalgia do casino.

E agora?
A construção europeia actualmente é um conjunto de pessoas que estavam a jogar à sueca e dizem: “Vamos abrir um casino”. Um desastre.

A Europa tem a mania das grandezas, é isso?
Veja o que ela fez com a Ucrânia.

Vamos de novo centrar-nos em Portugal. Precisamos de um compromisso de décadas para sair do estado em que estamos. Compromisso entre partidos?
É preciso um consenso maioritário. Não se faz reforma do Estado com PS, PSD, CDS. Ou há uma mudança que envolve um conjunto de forças políticas amplo para reformar o modelo de capitalismo (Estado, sistema financeiro, mercado de trabalho, tudo junto) e assumir um compromisso para os próximos 30 anos, ou não há nenhuma reforma do Estado. Pela simples razão de o Tribunal Constitucional, com toda a razão, dizer que não dá.

Com toda a razão porque são medidas políticas que violam a Constituição?
Sim. Mas o que estou a dizer é que é preciso mudar a Constituição.

O que é que responde àqueles que dizem que vivem num país em que é o TC que governa?
Digo o seguinte: nunca se faz uma mudança de compromisso sob uma intervenção estrangeira. Não consigo fazer um compromisso que apareça como um ditame do estrangeiro. As resistências internas são enormes. Tenho de ter de moto-próprio uma capacidade política para dizer: “Tenho esta proposta, arriscada, que temos de fazer por isto e isto. Vamos chegar a acordo”. Mas não é com o manual de instruções da Troika.

Estivemos a cumprir um manual de instruções?
Estivemos. E agora dão-nos outra vez a carta para voltarmos a circular.

Acha que em breve vamos voltar a perder gasolina e deitar fumo (para manter a metáfora do automóvel)?
Claro. Não quero transmitir a ideia pessimista de que foi tudo tempo perdido. Não foi. Se não tivessem feito isto, nem carta tínhamos para andar.

Esperava mais?
Esperava diferente. Esperava uma coisa mais inteligente.

A Troika devia ter-nos obrigado/ podia ter-nos obrigado a fazer diferente, de um modo mais inteligente?
Não. Os elementos europeus da Troika vieram formatar Portugal para que o país continue na União Económica e Monetária sob liderança alemã. Ponto final parágrafo. O FMI veio para pôr Portugal mais competitivo e resolver o problema da balança de pagamentos. Quando começou a haver muito desemprego, teve uma resposta que não acho correcta; foi dizer: “Temos que baixar os salários até que haja emprego”.

Discorda, então.
Discordo. A questão é que as diferentes agendas coincidiram no manual de instruções.

E foram três choques em simultâneo.
Nós chamámos uma junta médica. Não!, chamámos um hospital e o hospital mandou uma junta médica. Devíamos ter percebido melhor o jogo entre as forças – dentro da Troika. Estamos cegos para isso porque a nossa ideia é a de que os europeus é que são bons. Não percebemos que algumas das coisas absurdas resultaram de imposições europeias.

Talvez não estejamos tão incapazes de perceber isso. A diabolização da Alemanha e de Merkel nos anos mais recentes – sempre apontados como os maus da fita – é sintomática. Cresceu um sentimento anti-alemão.
É verdade.

Faltam dias para acabar o período Troika. Que balanço faz destes três anos?
Estou contente porque o país voltou a ter carta de condução para andar na estrada europeia e mundial. Resta-nos agora o trabalho de pôr o carro na oficina e pô-lo a andar melhor. Era bom que fizéssemos isso sem precisar de uma Troika.

Sem precisar de novo de uma Troika?
Sim, de novo.

Está a dizer que isto pode não ficar por aqui.
Não. O que estou a dizer é que temos de tratar muito bem da relação entre consolidação orçamental, crescimento e política do sistema financeiro. Nos livros que escrevi tento explicar o que é que podemos fazer – no mundo – que nos permita crescer.

Porque é que praticamente não falámos de política e da importância das ideias? Estou a perguntar pelo papel da política. Ainda central?, ou ela foi de tal maneira engolida pelos problemas do sector financeiro que parece que saiu do mapa?
Os grandes políticos não se distinguem por ser grandes governantes. Os grandes políticos são aqueles que são capazes de formular uma ideia que mobiliza. As pessoas não se mobilizam para fazer o TGV. O Soares foi um grande político e não se interessava por nada disto [aponta para um desenho onde escreveu TGV].

Soares não se preocuparia com o TGV?
Soares falava da Europa, de prosperidade, de justiça social.

Trazia com ele um ideário.
Sim. Que no fundo é um conjunto de sonhos e pesadelos. Sonhos que quero realizar, pesadelos que afasto. Nesse sentido, não temos políticos que desbloqueiem este nó. Não temos políticos. Temos gestores. Para construir um novo compromisso para os próximos 30 anos, precisamos de políticos.

E precisamos que eles tenham a inteligência de contratar bons gestores.
Sim.

Ouço-o falar de 30 anos...
20 anos. Compromisso para o futuro. Se é verdade o que estou a dizer, que estamos num momento semelhante ao de 73, que é o momento do impasse, temos que romper e ter um novo discurso. Um novo ponto de encontro para as gerações mais novas, que têm que ter uma parte do seu imaginário concretizável neste país. Não é com um conjunto de gestores que isso se faz.

Quarenta anos depois da revolução, esperava ver o país, as pessoas exangues?
O país não está só exangue. O 25 de Abril trouxe um péssimo Estado e uma sociedade muito melhor.

Está a referir-se à máquina administrativa de um Estado péssimo? Sondagens recentes revelam que uma grossa parte da população considera o Estado Social o melhor do que a revolução trouxe.
Os dirigentes do Estado estão sem estratégia. Felizmente que tiveram um manual de instruções. Senão, não faziam a menor ideia do que tinham que fazer.

Está a falar de quem?
Sabe tão bem como eu. [riso] Temos de encontrar alguma coisa semelhante à estratégia protagonizada por Soares no passado (Europa, Estado Social). Uma estratégia. Não há-de ser a minha geração...


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