Trump
terá sido, para Clinton, Obama e um certo tipo de “elites”, um ‘Cisne Negro’.
Que não viram chegar e que lhes disruptou os planos e a vida... Não viram e não
quiseram ouvir. Nassim Taleb, precisamente o autor de ‘The Black Swan’, já
tinha avisado a 30 de Junho 2016: Voters tired of elitism.
Pouca
gente parece tê-lo ouvido e muito menos tê-lo percebido. Aqui, no Tornado, há
anos que o vínhamos a dizer e, desde Maio 2016, que vínhamos a antecipar a
vitória de Trump. Por isso, ver depois aparecer Nassim Taleb com uma análise
coincidente fez-nos sentir em muito boa companhia...
Nas
vésperas da eleição, Nassim Taleb anunciava na televisão, com toda a precaução,
a vitória de Trump e esclarecia que tal não seria um qualquer apocalipse. Depois
de Trump ganhar, apareceu, claro, um imenso coro de “esclarecidíssimos”
comentadores a explicar como Trump era um “cisne negro”... Se necessário for um
exemplo para explicar a diferença entre “comentário” e “inteligência”, este
caso da vitória de Trump esclarece toda essa diferença.
É
justo e imprescindível referir que John Robb e George Friedman anteciparam
igualmente o que veio a passar-se. Robb foi dos primeiríssimos a destacar o
crescimento exponencial da desigualdade na repartição da riqueza nos USA, desde
os anos setenta, como responsável pelo fim do “sonho americano” e as
consequências sociais e políticas (e, portanto, eleitorais) desse facto maior. Robb
antecipou igualmente o anquilosamente dos dois grandes partidos e previu uma campanha
“open source” (ou seja, o que Trump fez com o seu twitter).
George
Friedman, ainda antes de 2010, aponta o “fim da legitimidade” da elite política
de então (o universo de Obama e Clinton mas também dos republicanos institucionais
como John McCain), identifica os elementos e argumentos políticos daí derivados
(sobre os quais Steve Bannon vai construir a sua estratégia eleitoral
ganhadora) e estabelece inclusive o novo perfil de candidato que o eleitorado
espera (um perfil em que Trump irá encaixar perfeitamente). Portanto, só não
via quem era cego ou quem não queria ver... E é perfeitamente “pornográfico”
falar de “surpresa” para justificar à posteriori cegueiras e burrices! Sentimo-nos,
portanto, aqui no Tornado, muito bem com a companhia de Taleb, Robb e Friedman.
Este tema é um dos vectores do seu recentíssimo livro “Jouer sa peau” (a edição em inglês só sai daqui a umas semanas). Neste “Jouer sa peau”, Taleb explica-nos que “nous ne devrions certainement pas nous fier à ceux qui ne jouent pas leur peau car ces gens manquent d'éthique”.
Além da sua habitual e brilhante racionalidade de análise, Taleb
introduz uma componente imprescindível, mas regra geral esquecida e arredada, a
ética... Uma obra de leitura urgente.
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