quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Cisnes Negros, Inteligência e Ética


Trump terá sido, para Clinton, Obama e um certo tipo de “elites”, um ‘Cisne Negro’. Que não viram chegar e que lhes disruptou os planos e a vida... Não viram e não quiseram ouvir. Nassim Taleb, precisamente o autor de ‘The Black Swan’, já tinha avisado a 30 de Junho 2016: Voters tired of elitism.

Pouca gente parece tê-lo ouvido e muito menos tê-lo percebido. Aqui, no Tornado, há anos que o vínhamos a dizer e, desde Maio 2016, que vínhamos a antecipar a vitória de Trump. Por isso, ver depois aparecer  Nassim Taleb com uma análise coincidente fez-nos sentir em muito boa companhia...


Nas vésperas da eleição, Nassim Taleb anunciava na televisão, com toda a precaução, a vitória de Trump e esclarecia que tal não seria um qualquer apocalipse. Depois de Trump ganhar, apareceu, claro, um imenso coro de “esclarecidíssimos” comentadores a explicar como Trump era um “cisne negro”... Se necessário for um exemplo para explicar a diferença entre “comentário” e “inteligência”, este caso da vitória de Trump esclarece toda essa diferença.

É justo e imprescindível referir que John Robb  e  George Friedman anteciparam igualmente o que veio a passar-se. Robb foi dos primeiríssimos a destacar o crescimento exponencial da desigualdade na repartição da riqueza nos USA, desde os anos setenta, como responsável pelo fim do “sonho americano” e as consequências sociais e políticas (e, portanto, eleitorais) desse facto maior. Robb antecipou igualmente o anquilosamente dos dois grandes partidos e previu uma campanha “open source” (ou seja, o que Trump fez com o seu twitter).

George Friedman, ainda antes de 2010, aponta o “fim da legitimidade” da elite política de então (o universo de Obama e Clinton mas também dos republicanos institucionais como John McCain), identifica os elementos e argumentos políticos daí derivados (sobre os quais Steve Bannon vai construir a sua estratégia eleitoral ganhadora) e estabelece inclusive o novo perfil de candidato que o eleitorado espera (um perfil em que Trump irá encaixar perfeitamente). Portanto, só não via quem era cego ou quem não queria ver... E é perfeitamente “pornográfico” falar de “surpresa” para justificar à posteriori cegueiras e burrices! Sentimo-nos, portanto, aqui no Tornado, muito bem com a companhia de Taleb, Robb e Friedman.

O autor do “Cisne Negro” gosta de referir que há muita gente a captar “barulho” e muito pouca atenta ao “sentido”... Agora, ele vem dizer-nos que há demasiada gente a inventar-nos problemas e muito, muito pouca a resolver os que realmente existem!

Este tema é um dos vectores do seu recentíssimo livro “Jouer sa peau” (a edição em inglês só sai daqui a umas semanas). Neste “Jouer sa peau”, Taleb explica-nos que “nous ne devrions certainement pas nous fier à ceux qui ne jouent pas leur peau car ces gens manquent d'éthique”.



Além da sua habitual e brilhante racionalidade de análise, Taleb introduz uma componente imprescindível, mas regra geral esquecida e arredada, a ética... Uma obra de leitura urgente.

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