Vai o Governo de António Costa dar aos Chineses o que o Governo de Sá
Carneiro/Balsemão/Amaro da Costa recusou aos Americanos…?
Convém não ter “preconceitos de economista” na reflexão sobre Sines e seu
contexto marítimo. Muito menos convém imaginar ceder Sines por um “investimento”
de 400 milhões… Pensem melhor!
Uma decisão “economicista” sobre Sines (que corresponderia a dar a Pequim o
que um governo da AD recusou a Washington…) pode “apenas” conduzir (rapidamente) a uma fatal quebra da unidade nacional do território português.
Eu sei que (lamentavelmente) os nossos economistas não sabem de geopolítica
(e muitos até ignoram que isso existe…), apesar dos imensos esforços que o
Armando Antunes de Castro fez (de 1978 até 1995) para a introduzir no ISEG. Mas
se eles ignoram a geopolítica, ela não os ignorará. O problema é que o País que
somos será igualmente cilindrado e irremediavelmente fragmentado…
A geopolítica é muito racional e fria, mas é uma dama fatal! Lembrem-se
disso antes de resolver ignorá-la.
Os novos donos de Portugal
Sábado | 05.04.2018 07:00 | por Bruno Faria Lopes
A
influência do capital chinês não vai parar de aumentar. Quem já cá está quer
comprar mais, há o interesse pela economia do mar e investidores a chegarem a
todas as partes do país. Também há riscos – e uma estratégia chinesa para não
levantar ondas.
"Estamos
de olho neste projecto", diz Guan Qing. Guan é gestora em Portugal do
China Development Bank (CDB), o banco público chinês para infraestruturas,
financiador em Portugal da EDP e da REN – o projecto de que fala é a expansão
do porto de Sines.
Estamos
no final de Março, em Lisboa, numa conferência organizada para ajudar a casar
duas partes que se cortejam: o governo chinês, interessado na riqueza e no
valor geoestratégico da zona económica marítima portuguesa, a maior do mundo; e
o governo português, que quer atrair capital para os portos e para a exploração
do mar.
Além
do CDB, pelo auditório cheio do ISEG passam fundos como o China African
Development Bank (com 10 mil milhões de euros) e o China Portuguese Fund (mil
milhões), o primeiro que Pequim montou exclusivamente dedicado a mercados de
uma só língua, o português. Chi Jianxing, o financeiro que lidera estes dois
fundos, seguirá no dia seguinte para o Porto, para uma série de reuniões com
empresários portugueses, que por estes dias fazem fila para este tipo de
encontro. Na conferência onde os portugueses (incluindo o ministro Augusto
Santos Silva) falam em inglês e os chineses em mandarim, o embaixador Cai Run
resume o sentimento: da educação ao mar, passando pelas energias, a China está
interessada em "todas as frentes".
O
interesse chinês em Portugal não pára de aumentar. "O crescimento é de tal
forma acelerado que todos os dias aparecem novos investidores", afirma o
secretário de Estado para a Internacionalização, Eurico Brilhante Dias. A maior
construtora chinesa abriu uma sucursal em Lisboa, várias delegações de
províncias chinesas visitaram cidades como Viseu, Peso da Régua e Lisboa, e o
município da Guarda assinou um protocolo com a Câmara de Comércio Luso-Chinesa
para atrair investimento chinês – e isto foi só em Março, mês em que também foi
noticiado que o Estado chinês comprou mais 2% da EDP (tem agora 28,25%), que a
Fosun comprou mais 2% do BCP (tem 27%) e que a Luz Saúde completou a compra do
grupo de saúde Idealmed por 20 milhões de euros. "Há tanta coisa a
acontecer que é difícil mapear", confirma Fernanda Ilhéu, professora e
coordenadora do China Logus, um serviço de consultoria dentro do ISEG dedicado
à China.
Somando
os mais de dois mil milhões de euros aplicados em imobiliário com os vistos
gold, o investimento total sobe para cerca de 9 mil milhões, valor que faz de
Portugal o segundo país europeu a seguir à Suíça em que o investimento chinês
tem maior peso relativo na economia: quase 5% do PIB. Este peso, concentrado em
sectores estratégicos, vai continuar a subir. Uma fonte chinesa na comunidade
financeira aponta à SÁBADO que o que trava compras maiores neste momento não é
tanto o controlo maior exercido por Pequim sobre a fúria aquisitiva de alguns
conglomerados – como a Fosun e a HNA, accionista da TAP –, mas a escassez de
negócios com dimensão suficiente nos sectores onde os chineses já estão.
Leia
mais na edição 727 da SÁBADO nas bancas esta quinta-feira, 5 de Abril,
2018
O poder chinês em Portugal, in Visão, 27.08.2015
Estamos no escuro sobre os novos donos disto tudo
O poder cada vez
maior dos investidores chineses em Portugal, públicos e "privados",
emana de um contexto interno muito difícil de perscrutar e de antever.
Bruno Faria Lopes | brunolopes@sabado.cofina.pt | 05
de abril de 2018 às 20:13
Na madrugada de 27 de Janeiro
deste ano o bilionário chinês Xiao Jian foi raptado no hotel Four Seasons em
Hong Kong. A imprensa internacional descreve que foi levado para a China
continental por meia dúzia de agentes de segurança chineses numa cadeira de
rodas, com um pano a cobrir-lhe cabeça. Sob interrogatório, Xiao terá explicado
como movimentou milhões em nome de grandes empresários chineses para contas
"offshore". Poucos dias depois, as autoridades chinesas caíram em
cima de quatro conglomerados com grande actividade no estrangeiro, incluindo
três nomes familiares em Portugal: Fosun, HNA e Anbang.
O Financial Times liga o aperto a estes conglomerados às
informações de Xiao. O Presidente Xi Jinping decidiu um aperto a estes grupos
que tiram divisas do país a um ritmo fora do controlo de Pequim. Outros jornais
ligam o cerco ao HNA, por exemplo, ao facto de ser um dos pilares de apoio de
um putativo adversário político do Presidente Xi Jinping. Sejam quais forem as
razões, este caso ilustra um dado importante: o poder dos investidores
chineses, públicos e "privados", emana de um contexto interno muito difícil
de perscrutar e de antever.
A
dificuldade em interpretar a China é secular, mas agora que o país é
omnipresente em sectores estratégicos portugueses, o problema ganha outra
relevância. É difícil escrutinar o risco financeiro destes vastos conglomerados
privados, que cresceram meteoricamente e que em alguns casos - como o HNA, dono
de 20% da TAP - têm estruturas accionistas opacas. E é ainda mais difícil
penetrar nos meandros da força que, no fim do dia, controla todos os agentes
económicos chineses: o Partido Comunista Chinês (PCC).
O PCC
controla os conglomerados "privados" através da banca pública, do
sistema judicial e do aparelho de informação. Nas grandes empresas estatais
chinesas, é a SASAC que controla quer os gestores que vêm ao Ocidente dar a
cara, quer a estratégia das respectivas empresas - e é o PCC que escolhe quem
lidera a SASAC. A sobreposição entre política e economia é profunda e a
opacidade é grande, seja para empresários ou para o Estado português, cujos
serviços de informação pouco conseguem num Estado como a China.
Para
Portugal, isto representa risco e desconforto. Sobre os grandes investimentos
estatais chineses na energia (EDP e REN) é o próprio dispositivo português de
segurança interna que, em 2016, admitia existir um risco para os interesses
económicos nacionais (a referência desapareceu no relatório de 2017). Nos
grandes investimentos de "privados" significa conviver com modelos de
negócio arriscados e expostos à política - de vez em quando há surpresas como o
caso do conglomerado CEFC, que foi intervencionado pelo Estado chinês e que
dificilmente comprará a Lusitânia e a Partex. As dificuldades descem ao longo
da cadeia alimentar: para os autarcas portugueses, que por estes dias fazem
fila para atraírem investimento chinês, é difícil perceber quem está do outro
lado (veja-se o exemplo da Wuhan Industries em Oliveira de Azeméis, que a
Sábado noticia esta semana).
Há
dúvidas sobre se Marco Polo esteve na China e os primeiros relatos fidedignos
no Ocidente sobre a China são de portugueses no século XVI, como o soldado
Galeote Pereira ou o missionário Gaspar da Cruz. Quase 500 anos depois sabemos
muito mais, mas continuamos ainda largamente no escuro sobre as redes de poder
e as motivações de quem agora assume uma posição tão relevante na nossa
economia. O mesmo já não se pode dizer do grau de conhecimento dos chineses
sobre Portugal - o desequilíbrio na relação bilateral não está apenas nos
números dos negócios, está na informação. Em Portugal, sem surpresa, só se
admite disto em surdina. De resto, é "business as usual".
A Investida Chinesa... ou Red flag over Portugal (Visão 27.08.2015)
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