Vítor Ramalho: Os riscos para Portugal e para o PS
Expresso | 30 Junho 2018
O mundo mudou. Há cerca de trinta anos os regimes políticos na U.E. eram marcados pelos ideários do socialismo democrático e da democracia cristã. Daí para cá os socialistas, quando nos governos, passaram, na maioria dos casos, a aplicarem politicas que descaracterizaram o seu ideário. Claudicarem nas funções do Estado, na regulação dos mercados, na liberalização do emprego, no domínio nacional das empresas estratégicas, muitas vezes transigiram no tráfico de influência, na porta giratória da política com negócios e na judicialização da politica.
Quanto às privatizações e no que nos respeita, as receitas previstas no Memorando da Troika eram menos de metade do que se alcançou. O governo anterior não deixou nada por vender. No sector bancário, em que o domínio nacional era de 86%, é agora de 8%. Sendo as empresas quem internacionaliza a economia e dependendo o investimento em grande parte da banca, estamos num círculo vicioso. A política de empobrecimento conduziu a um mau resultado.
Noutro plano, contrariando a política que vinha sendo seguida, Portugal votou a favor da entrada da Guiné Equatorial na CPLP não percebendo sequer os motivos pelos quais os movimentos de libertação no período colonial criaram a CONCP – Conferencia das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas.
Em 2015 o líder do PS percebeu que o mundo mudara e os riscos políticos do passado bipolar se esfumaram. A política de empobrecimento tinha de ser barrada. A CDU e o BE caucionaram este objectivo, passando-se a priorizar a reposição de rendimentos dos trabalhadores e dos pensionistas.
Esgotados em grande parte estes objectivos e perante um quadro de evolução agora negativo a nível político e económico internacional, Portugal, como país dependente, não deixará de ser influenciado.
Acresce que a afirmação de Portugal no mundo vem-se definhando e o que hoje se discute não são grandes desígnios mas saber qual o capital estrangeiro que deve dominar as empresas estratégicas. Nem sequer se aprofundaram as causas que conduziram Portugal contra o tratado que criou a CPLP a abdicar, em tempo próprio, da indicação do Secretário Executivo desta, com diminuição para metade do mandato.
À luz desta realidade vamos entrar num novo ciclo, a exigir respostas claras em vários desígnios - no plano externo a importância dos oceanos, a relação com os países da nossa língua bem como os afro-ibero-americanos, a Espanha das nacionalidades, o papel da U.E. e o de Portugal nela, numa lógica estratégica.
A estes desígnios acrescem os internos que respeitam às funções do Estado, à responsabilização dos seus agentes, à transparência, ao combate às desigualdades, à recriação de empresas estratégicas nacionais, ao reforço da demografia, entre outros.
O turismo, tem, assim, de ser encarado como conjuntural porque tem reversos.
Aproximando-se o debate sobre o orçamento, são estes desígnios que o devem influenciar. Como disse Jorge Sampaio “há mais vida para além dele” e, no caso, para além da reposição dos rendimentos.
Ao arrepio do que havia dito, o líder do PS, quando eleito, de que o partido e o governo eram realidades distintas, estranha-se o reforço da governamentalização dos órgãos eleitos do partido no último Congresso, face à necessidade de reforço da respiração própria deste com vista aos desafios existentes e atrás elencados, tanto mais que a direita não apresenta uma alternativa de esperança, o que não é positivo para o país.
Os desafios são agora, em grande parte, os do PS e os riscos não são pequenos. O debate do próximo orçamento é assim nuclear para o futuro.
Vítor Ramalho
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