Merkel foi posta na rua pelos seus "amigos e
aliados" da CDU e da CSU, o SPD encolhe todos os dias, enquanto os
"Verdes" se tornam o segundo maior partido alemão e a direita dura se instala com "armas e bagagens" dentro dos muros do parlamento e
espreita a sua oportunidade... Foi você que apontou a Alemanha como modelo ou
como referência ("accionista de referência"...) para a Europa? Ora,
pense lá melhor...
O sistema partidário alemão implode enquanto no
seu solo emergem, como cogumelos depois da chuva, "populismos", uns
mais "verdes" e outros mais "castanhos". Mas não é só o
sistema político (com Merkel já em fuga) que implode.
Toda a narrativa corrente sobre a consistência e
o dinamismo da Alemanha é uma "storytelling" montada por um
eficiente dispositivo de gestão da percepção mas sem qualquer correspondência
na realidade.
George Friedman há muito que identificou a
Alemanha como uma das economias mais frágeis e vulneráveis pela sua excessiva
exposição ao exterior. Uma economia baseada na exportação, como a alemã ou a
chinesa, construída por uma estratégia nacional-mercantilista, fica totalmente
nas mãos dos seus clientes e à mercê das flutuações que o quadro geopolítico
possa sofrer.
Ora, o quadro geopolítico esteve muito estável
até 2008 mas começou, desde então, a produzir terramotos e maremotos,
cada vez mais preocupantes e cada vez mais frequentes, e apresentar
uma crescente tendência de instabilidade global... Trump é aqui não um causador
mas apenas uma consequência.
Jacques Sapir, pelo menos desde 2010, que estuda
a estrutura interna da Alemanha, nos seus aspectos sócio-económicos, e
considera-a desequilibrada, frágil e em vias de desindustrialização, num "processus de basculement du Made in Germany vers le Made by Germany"...
Este processo de desindustrialização faz baixar os salários (relativamente e até mesmo em termos absolutos) pelo que, apesar dos bons números apresentados pela Alemanha, os alemães vivem cada vez pior, desde há uma boa dúzia de anos (excepto, claro, os tais do "1%" que aumentam a cada ano a parte da riqueza gerada que acaparam).
No plano financeiro, a situação da Alemanha é
realmente catastrófica e constitui a maior ameaça à zona euro. Só a ladainha do
"too big to fail" tem valido ao maior banco privado alemão... Já
alguém escreveu mesmo que “la Deutsche Bank c’est Lehman Brothers au cube!”
Mantido artificialmente com a cabeça fora de
água pelo estado alemão, o Deutsche Bank acumula perdas gigantescas e
situações menos claras e mais que duvidosas. Se o mesmo se passasse em Portugal
já cá tínhamos uma dúzia de troikas e uns destacamentos da wehrmacht,
assessorados por umas brigadas da gestapo...
O segundo maior banco privado alemão, o Commerzbank,
igualmente levado ao colo pelo estado alemão, anda desde 2008 pelas ruas da
pior amargura e não consegue sair de lá. Como toda a banca privada alemã, de
resto! Quanto às caixas regionais têm dois imensos privilégios: estão excluídas
da supervisão do BCE e muito bem amparadas e escudadas nos governos dos ‘landers’.
Portanto...
Finalmente, na instância política a situação não
é melhor. Para além da presente desagregação do sistema partidário, criado logo
após a II Guerra, acontece que a fragilidade estrutural do estado alemão é
enorme. Há mesmo quem o considere como a mais frágil estrutura política da
União Europeia... passível de implosão em tempo curtíssimo.
A narrativa da “storytelling” do sucesso alemão
não tem qualquer base de sustentação na realidade. A Alemanha é hoje o maior
perigo que ameaça a Europa não pela sua força ou dinamismo mas sim pelas suas
fraquezas e vulnerabilidades.
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