terça-feira, 20 de agosto de 2019

Leituras e Releituras deste Verão

José Mateus

Aprendi, desde muito pequeno, com homens e mulheres da minha família, que "é pecado" perder tempo. "Cada hora que percas nunca mais a agarras", disse-me uma vez a minha avó Luzia. Por isso, há que aproveitar esta calma que o Verão traz para fazer o que dificilmente haverá oportunidade para fazer em "tempo normal". Coisas que requerem disponibilidade de tempo e de espírito, como certas leituras e releituras. 


Das releituras, parece-me ter chegado a hora de "A Próxima Década", do George Friedman, obra escrita em 2010 e editada em 2011, agora que tal década está a chegar ao fim. O que é este "mago da geopolítica" antecipa realmente (um presidente como Trump, por exemplo) e o que não viu ou falhou (a 'economic warfare' da China, por exemplo).

Outra releitura que se impõe (e esta pode ir para a esplanada da praia) é a do romance de Paulo Reis, "Operação Negócios Privados", uma narrativa que mergulha nas mais fundas entranhas do Portugal dos inícios deste século como nenhuma outra o fez. Dizia-me há tempos alguém que "é preciso ler o Paulo Reis para perceber o nosso país, para perceber o que o ameaça, o que o defende e como se tem defendido"...

Das novas leituras, destaco a actualização (a sair já no princípio de Setembro) do "Manuel d'Intelligence Économique", sob a direcção do meu amigo Christian Harbulot. Os desenvolvimentos registados na guerra económica (a tal que se faz em tempos de paz...), na guerra de informação (com o aproveitamento do aumento exponencial das vulnerabilidades na segurança da informação...) e no ciber sugerem boas "actualizações" deste manual.


"Les Droits de l'Homme Contre le Peuple", do jurista Jean-Louis Harouel, e a obra do sociólogo canadiano Mathieu Bock-Côté "Le Multiculturalisme comme Religion Politique" são duas leituras imprescindíveis, a fazer nas próximas 3 ou 4 semanas (depois disso será tarde e terão de ficar para o Natal, mas, então, chegarão outras "leituras imprescindíveis", portanto, estas têm de ser mesmo para agora).

"The Germany Illusion", de Marcel Fratzscher (prof. da Universidade Humboldt, em Berlim, presidente do instituto de pesquisa económica DIW Berlin e ex-chefe de International Policy Analysis do BCE), é indispensável para perceber a visão distorcida que a Alemanha cultiva sobre si mesma e sobre a sua relação com a "Europa" e para identificar e conhecer vulnerabilidades e outras fragilidades (hoje totalmente na ordem do dia...) desta potência falhada (demasiado grande para a "Europa" e demasiado pequena para o mundo...) ou, como avisava Helmut Schmidt, pouco antes da sua morte, sobre as tentações de potência de Berlim, "estas coisas começam sempre bem para a Alemanha e acabam sempre mal".

Como se pode concluir, analisando estas obras e os seus autores, é óbvio (e cito de memória um amigo meu) que estou muito mais interessado no que vai (ou pode...) acontecer do que naquilo que eu gostaria que acontecesse... E, com esta notícula, aqui vos deixo o que me vai ocupar os neurónios nas próximas semanas.

Boas leituras para todos os apreciadores... Aproveitem esta calma do Verão.

Ainda a tempo: no banco de trás do carro anda, já há uns bons 15 dias, o senhor Hugo Pratt, com as suas "Les Celtiques", à espera que eu meta conversa com ele e o seu filho Corto Maltese... Ah, querido fratello Hugo, está tranquilo, vamos passar uns serões juntos e só é pena (muita pena, mesmo) já não podermos passear à noite por Lisboa e ir ouvir a Cristina cantar-nos o fado...






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