Entre as duas,
Paris hesita... Entrega-se à espanhola ou à marroquina?
As duas são morenas. Sim, há uma loira, de última hora,
mas essa não conta. É entre a marroquina e a espanhola que este campeonato
autárquico se vai decidir. A espanhola já lá está há anos, é a incumbente, a
marroquina é uma endiabrada, um inesgotável poço de energia e prega ideias
claras, é a challenger.
Uma é de esquerda e, claro, a outra é de direita.
Assumidas e alinhadas. E esta é a primeira derrota de Macron, ainda antes dos
votos. Ele que tinha convencido a opinião publicada de que, com ele, vinha um
“mundo novo” onde “esquerda” e “direita” deixavam de fazer sentido porque eram
ultrapassadas pelo seu “mundo novo”...
Afinal, a realidade não é tão volúvel como a opinião
publicada e não se deixa convencer por um qualquer aprendiz de feiticeiro. Ou
até mesmo por um grande feiticeiro que, obviamente, nunca se meteria em tal
alhada.
Anne Hidalgo, uma socialista há anos à frente da câmara
de Paris, apoiada por uma espécie de geringonça à francesa, apresenta um
balanço polémico a que a classe média torce o nariz (o “Paris popular” há muito
que emigrou para a periferia).
Essa classe média quer segurança, limpeza e respeito
pela autoridade. Tudo coisas que a socialista, mais preocupada com a criação de
obstáculos ao uso do automóvel para diminuir a poluição, não é capaz de lhe
oferecer.
Mas segurança, limpeza e respeito pela autoridade é
precisamente o que Rachida Dati, a marroquina que foi ministra de Sarkozy e
deputada no Parlamento Europeu prega por todas as ruas, praças e mercados de
Paris.
Acrescentando-lhe ainda “limites claros à emigração”.
Também aqui a marroquina está nos antípodas da espanhola que defende uma
“cidade inclusiva” e quer que Paris se abra mais à emigração.
A loira que não conta é a candidata de Macron que saiu
de ministra da Saúde para se candidatar à câmara depois da desistência do
candidato inicial apanhado numa estória pornográfica a enviar vídeos dos seus
actos masturbatórios à companheira de um artista russo exilado em Paris que,
para denunciar a hipocrisia desse auto-proclamado “homem de família”, os
publicou na internet... A revista Paris
Match tem uma descrição ‘enxuta’ do caso: https://www.parismatch.com/Actu/Politique/Les-jours-ou-Griveaux-a-tout-abandonne-1676282
A “esquerda” (verde, vermelha e cor de rosa) acabará
por apoiar, numa segunda volta, a espanhola. A direita, incluindo Marine Le
Pen, apoiará, nessa segunda volta, a marroquina de Sarkozy. E, terceira derrota
de Macron (a segunda é ter a sua loira atirada para fora de jogo, logo a
primeira volta), Rachida Dati arrecadará os votos da maioria dos “macronistas”
parisienses.
A 15 de Março é a primeira parte do jogo. Se nenhum
candidato obtiver então maioria absoluta, uma semana mais tarde é a segunda
volta. Até lá, até ao “lavar das urnas”, vai continuar a vindima dos votos
entre a espanhola e a marroquina. Entre as duas, Paris hesita. Por enquanto.
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