quinta-feira, 5 de março de 2020

Paris: O regresso da Esquerda e da Direita


Entre as duas, Paris hesita... Entrega-se à espanhola ou à marroquina?

As duas são morenas. Sim, há uma loira, de última hora, mas essa não conta. É entre a marroquina e a espanhola que este campeonato autárquico se vai decidir. A espanhola já lá está há anos, é a incumbente, a marroquina é uma endiabrada, um inesgotável poço de energia e prega ideias claras, é a challenger.

Uma é de esquerda e, claro, a outra é de direita. Assumidas e alinhadas. E esta é a primeira derrota de Macron, ainda antes dos votos. Ele que tinha convencido a opinião publicada de que, com ele, vinha um “mundo novo” onde “esquerda” e “direita” deixavam de fazer sentido porque eram ultrapassadas pelo seu “mundo novo”...

Afinal, a realidade não é tão volúvel como a opinião publicada e não se deixa convencer por um qualquer aprendiz de feiticeiro. Ou até mesmo por um grande feiticeiro que, obviamente, nunca se meteria em tal alhada.

Anne Hidalgo, uma socialista há anos à frente da câmara de Paris, apoiada por uma espécie de geringonça à francesa, apresenta um balanço polémico a que a classe média torce o nariz (o “Paris popular” há muito que emigrou para a periferia).

Essa classe média quer segurança, limpeza e respeito pela autoridade. Tudo coisas que a socialista, mais preocupada com a criação de obstáculos ao uso do automóvel para diminuir a poluição, não é capaz de lhe oferecer.

Mas segurança, limpeza e respeito pela autoridade é precisamente o que Rachida Dati, a marroquina que foi ministra de Sarkozy e deputada no Parlamento Europeu prega por todas as ruas, praças e mercados de Paris.

Acrescentando-lhe ainda “limites claros à emigração”. Também aqui a marroquina está nos antípodas da espanhola que defende uma “cidade inclusiva” e quer que Paris se abra mais à emigração.

A loira que não conta é a candidata de Macron que saiu de ministra da Saúde para se candidatar à câmara depois da desistência do candidato inicial apanhado numa estória pornográfica a enviar vídeos dos seus actos masturbatórios à companheira de um artista russo exilado em Paris que, para denunciar a hipocrisia desse auto-proclamado “homem de família”, os publicou na internet... A revista  Paris Match tem uma descrição ‘enxuta’ do caso: https://www.parismatch.com/Actu/Politique/Les-jours-ou-Griveaux-a-tout-abandonne-1676282

A “esquerda” (verde, vermelha e cor de rosa) acabará por apoiar, numa segunda volta, a espanhola. A direita, incluindo Marine Le Pen, apoiará, nessa segunda volta, a marroquina de Sarkozy. E, terceira derrota de Macron (a segunda é ter a sua loira atirada para fora de jogo, logo a primeira volta), Rachida Dati arrecadará os votos da maioria dos “macronistas” parisienses.

A 15 de Março é a primeira parte do jogo. Se nenhum candidato obtiver então maioria absoluta, uma semana mais tarde é a segunda volta. Até lá, até ao “lavar das urnas”, vai continuar a vindima dos votos entre a espanhola e a marroquina. Entre as duas, Paris hesita. Por enquanto.

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