terça-feira, 20 de outubro de 2020

19 de Outubro de 1921: A Noite em que a República se Suicidou

José Mateus 

Foi a chamada "Grande Noite Sangrenta" ou a noite em que a República matou o pai e se suicidou. Uma noite que quase um século depois continua um mistério. Um mistério que resiste ao tempo e em que, aparentemente, ninguém tem estado interessado em esclarecer ou ver esclarecido.
 


O almirante Machado dos Santos (o pai da República) e vários outros altos dirigentes republicanos, incluindo o primeiro-ministro em funções, são arrancados das suas casas e vão sendo escabrosamente liquidados a tiro e a golpes de armas brancas.

Quando estamos na véspera de comemorar um século sobre o mais vergonhoso e triste momento de toda a história republicana é mais do que tempo de esclarecer este mistério e seus enigmas que acabaram por determinar muito do que foi o nosso século XX. E muito para além do que pretendiam e de forma muito diferente...


É necessário e urgente tal esclarecimento. Até para perceber como o golpe de 28 de Maio de 1926 (liderado por um "Herói da Rotunda", um dos que tinha proclamado a República em 1910...) foi apenas o funeral dessa I República que se suicidara quatro anos antes.

E, num país com este histórico de magnicídios, Salazar ainda teve o topete de "explicar" que este era "um país de brandos costumes". Mentindo por conveniência, Salazar lançou, como dizia o Eça, "sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia". A história do nosso século XX anda embrulhada em "mantos diáfanos de fantasia" e outras narrativas de conveniência. E isso é inaceitável, trágico e perigoso.

2 comentários:

  1. A "noite sangrenta" não é uma "revolução" nem um golpe de Estado, é o suicídio da República que, numa outonal madrugada, assassina os seus fundadores, todos eles homens da Carbonária e também da açonaria e todos eles adversários políticos do Partido Democrata de Afonso Costa... Não por acaso, escassos anos depois, o golpe de Estado de 28 de Maio é gizado e executado por sobreviventes do grupo fundador da República, liderados por um "Herói da Rotunda" (que lá estivera ao lado e sob as ordens de Machado dos Santos), o almirante Mendes Cabeçadas...

    No próximo ano, comemora-se o centésimo aniversário desta tragédia que abriu as portas ao descalabro político do republicanismo e a uma aliança entre o núcleo duro da Carbonária (os amigos de Machado dos Santos) e uma nova corrente católica, a de Salazar e Cerejeira (como é sabido de todos os que estudam esta coisas, para fazer uma boa aliança basta um bom inimigo comum...).

    ResponderEliminar
  2. Treze dos 22 assassinos foram condenados a penas de prisão e degredo por um tribunal especial que tinha como promotor da justiça Óscar Carmona, futuro Presidente da República. A mais gravosa foi a do cabo Abel Olímpio (10 anos na Penitenciária de Coimbra e 20 no degredo).

    ResponderEliminar

Acabou a ilusão globalista... A geopolítica volta a governar o mundo

Durou 3 décadas o tempo da “globalização feliz”, abriu-se em Berlim e fechou-se em Moscovo. Começou com a queda de um muro e acabou com uma ...