José Mateus
"La sagesse de l'Espion", de Alain Chouet, tem já uma boa década. Na altura que o livro foi editado, li-o numa tarde, sentado na esplanada de um café do Boulevard St-Germain, mesmo ao lado da livraria onde o tinha comprado. O meu principal interesse na obra tinha uma explicação simples. Alain Chouet era, depois do 11 de Setembro, o primeiro patrão do contra-terrorismo de um estado europeu a escrever e publicar. O interesse era, portanto, tentar perceber que "ambiente" reinava no Ocidente, sobre a ameaça terrorista no momento do terrível atentado.
Fui bebendo cafés (a empregada passava pela mesa a cada hora e perguntava que mais me poderia servir) e, já a tarde ia avançada, pedi uma sandes de paté e uma guiness, seguidas, claro, de mais um 'express tassé'... Tudo isto sem tirar os olhos do livro e sem parar de virar páginas. Mas valeu bem a pena. Chouet (um homem de vastíssima e sólida cultura) não defraudou as minhas expectativas.
O "ambiente" estava ali muito bem "pintado" e esclarecido. Claro que, quando me levantei da mesa, ia a pensar, enquanto descia para St. Paul, nas perguntas que gostaria de lhe fazer (vestígios dos meus tempos de jovem jornalista) e no que poderiam ser as suas respostas. Tal entrevista, é evidente, nunca teve lugar e quedou-se meramente imaginária, durante aqueles minutos de caminhada.
Agora, uns dez anos depois, com os constrangimentos do confinamento (como gostaria, ocorre-me de repente, de o entrevistar sobre o vírus, suas origens e sequentes estratégias "laterais"...), surge a oportunidade de releituras, das mais variadas coisas. E eis que um acaso (enquanto procurava numa estante a biografia de Egas Moniz, o médico Prémio Nobel), me faz cair debaixo dos olhos o "La Sagesse de l'Espion". Releitura imediata. Agora liberta do foco inicial e, portanto, mais atenta à "filosofia". E volto a encontrar uma explicação (de que já me tinha esquecido) para a razão de ser dos "serviços" e sua "ontologia". Uma lapidar e implacável explicação:
"C'est ne rien comprendre que d'accuser les services secrets de faire "dans l'illégalité". Bien sûr, qu'ils font dans l'illégalité. Ils ne font même que cela. C'est leur vocation et leur raison d'être. Le renseignement se recueille en violant ou en faisant violer la loi des autres.
Le problème n'est pas d'obtenir, fût-ce avec virtuosité, ce que les autres peuvent dire ou montrer, mais bien ce que leurs lois, leurs coutumes ou leur environnement social leur interdisent formellement de communiquer ou de faire.
Considérant cette fin, il va de soi que les moyens mis en oeuvre seront en rapport: manipulation, séduction, corruption, violence, menace, chantage, au terme d'un processus qui aura mis à nu toutes les facettes de l'objectif visé, pénétré son intimité, exploité toutes ses vulnérabilités."
Os responsáveis políticos desta nossa República (cega e surda mas muito tagarela e descerebrada) muito ganhariam em "perder" uma tarde de sábado a ler esta "Sagesse" de Alain Chouet...
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