sim, esse mesmo, o tal da 'Tabacaria' e que recomendava sem rir "come chocolates, pequena, come chocolates"... O tal que disse (muito justamente) que todas as cartas de amor são ridículas e que escreveu dos mais belos poemas de amor da língua portuguesa. Sim, também o tal de quem o muito misterioso Agostinho da Silva dizia "o Pessoa não era uma pessoa... mas, sim, todo um movimento literário"! Para que não possam dizer que aqui não se fala de amor. Mas não só, claro...
Presságio
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa visto, percebido e
retratado pelo Rui Perdigão
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