Há dias em Paris, um cafezinho com bolinhos acabados de sair do forno, numa esplanada aquecida, mesmo em frente da Lipp (às tantas até me pareceu ver o fantasma do Mitterrand, de sobretudo, chapéu e cachecol, a dirigir-se para lá, mas não, não era ele, este era um pouco mais alto ou menos baixinho). Sentado à minha frente, um amalandrado e bem-humorado, mas letal, especialista de guerra económica. A conversa divaga.
Estamos a falar há uma boa meia-hora e ainda não percebi o que ele realmente quer com esta reunião. Apostei comigo mesmo que, depois de andar pela Europa, Ásia Central e Américas, a conversa iria “aterrar” em África. A empregada, uma trintona belíssima, traz-nos mais uns bolinhos “encore chauds” e esta intrusão interrompe o saltitar da conversa que estava no Cáucaso.
Quando a senhora do tabuleiro se retira, com um belo sorriso, ele olha para mim, enquanto trinca um dos bolinhos, com um deliciado ar sorridente, e atira: “Então, meu caro, quem foi o génio que teve a ideia de contratar o vosso “Ministério Público” (é assim que se diz não é...?) para nos abrir as portas de Angola...? Vamos ter ainda de resolver o problema da Espanha mas vocês é que eram o perigo e agora já estão fora da corrida... Mas, diz-me lá, quem foi esse génio?”
Aproveitei para agarrar um dos bolinhos, levá-lo à boca e, dadas duas trincadelas, responder-lhe com o ar mais beatífico que consegui arranjar, “sabes, amigo, o nosso Ministério Público (sim, é assim que se diz) nem precisa ser contratado, faz estes “serviços” por iniciativa própria... mas vocês, a tua empresa, pessoas inteligentes, educadas e civilizadas, deveriam mandar um enorme ramo de rosas à PGR... ficava-vos bem, se quiseres dou-te o endereço”. Riu-se, bem disposto. “Pensamos abrir uma representação em Lisboa, não um escritório só uma representação, nessa altura, mandamos as flores, fica tranquilo...”.
Quando a senhora do tabuleiro se retira, com um belo sorriso, ele olha para mim, enquanto trinca um dos bolinhos, com um deliciado ar sorridente, e atira: “Então, meu caro, quem foi o génio que teve a ideia de contratar o vosso “Ministério Público” (é assim que se diz não é...?) para nos abrir as portas de Angola...? Vamos ter ainda de resolver o problema da Espanha mas vocês é que eram o perigo e agora já estão fora da corrida... Mas, diz-me lá, quem foi esse génio?”
Aproveitei para agarrar um dos bolinhos, levá-lo à boca e, dadas duas trincadelas, responder-lhe com o ar mais beatífico que consegui arranjar, “sabes, amigo, o nosso Ministério Público (sim, é assim que se diz) nem precisa ser contratado, faz estes “serviços” por iniciativa própria... mas vocês, a tua empresa, pessoas inteligentes, educadas e civilizadas, deveriam mandar um enorme ramo de rosas à PGR... ficava-vos bem, se quiseres dou-te o endereço”. Riu-se, bem disposto. “Pensamos abrir uma representação em Lisboa, não um escritório só uma representação, nessa altura, mandamos as flores, fica tranquilo...”.
A jovem “balzaquiana” trouxe-nos a conta, fiz questão de pagá-la e enquanto ela nos brindava com um sorridente “merci, messieurs, au revoir” fomos saindo. Ele virou para o lado da rue de l’Université e eu fui andando em direcção a Notre Dame com um objectivo bem definido, ir ao meu spot/stop preferido desde há décadas, para comer uma magnífica sandes de “paté de campagne” acompanhada de uma guiness bem “esmaltada” e à temperatura ambiente. Questão de confortar a alma...
Ao descer o Bd. Saint-Germain, ia pensando como a estupidez é ainda rainha em Portugal. E como é isso que faz de nós os pobrezinhos que somos. E faz a riqueza de quem sabe aproveitar-se da nossa burrice...
Quando cheguei ao destino, lembrei-me que tinha ganho a aposta que fizera comigo mesmo: a conversa fora, de facto, “aterrar” a África. E, afinal, o que ele queria era, por antecipação, informar-me dos projectos que a sua "boite", agora com a África lusófona no horizonte imediato, tem para Lisboa. "Conta connosco lá em baixo", foi a mensagem. "Ok, mas não te esqueças de mandar as flores a quem te abre mercados...", foi a última coisa que pensei antes do empregado, um velho conhecido berbére marroquino, me saudar com um amistoso "tout va bien?". Sim, claro, "tout va bien"...
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