Amadeu Basto de
Lima
Desde o século XV
que o nosso paradigma é o Mar. Nesta perspectiva e dado o tempo histórico decorrido
compete aos poderes públicos pensar Portugal aplicando os recursos financeiros,
orçamentais e comunitários de modo eficiente. Assim o Programa Nacional de
Infraestruturas não pode ser uma oportunidade perdida, pelo que os
investimentos públicos têm de ser considerados numa lógica nacional que
assegure a Portugal um posicionamento geoestratégico funcionando como
plataforma logística atlântica e não periférica com tem sido até aqui.
Os vectores fundamentais desse plano serão:
- O Porto de
Sines, com a rede ferroviária que lhe dará suporte e escala. I.e., aposta
no aumento de tráfego marítimo no canal do Panamá, com conexão a Sines, na
margem atlântica europeia; bem como ligação ferroviária ao Aeroporto de Beja,
que dele dista cerca de 90 Km e, daí ligando-o à rede de Alta Velocidade
europeia
- O Aeroporto
Internacional de Beja funcionará assim como Hub de carga ao articular-se
com Sines e explorando as sinergias do Alqueva.
- MAS NÃO SÓ...
- O Novo Aeroporto de Lisboa, até ser possível encontrar uma solução sem graves condicionantes, poderá constituir-se em Beja, mantendo-se a Portela. Assim o aeoroporto de Beja, que já funciona como suporte do aeroporto de Lisboa, deverá sair de uma lógica regional, para ser uma infraestrutura estratégica nacional. O que falta fazer implica a mobilização de poucos recursos, sendo que num escasso tempo se poderá realizar, poupando ao país recursos financeiros de que não dispõe para fazer um grande aeroporto internacional nas proximidades de Lisboa, para além dos enormes impactos ambientais que provocaria, como a destruição altamente lesiva de um dos maiores aquíferos da Europa, que julgo ser uma decisão crítica de assumir.
- O que falta fazer são as ligações ferroviárias ao
aeroporto de Beja, que implicam a revisão do Plano de AV, que priveligia a
ligação a Madrid que deve ser reprogramada. Com efeito bastaria ligar directamente o aeroporto ao
nó do Poceirão, numa distância de cerca de 120 Km, daí até Lisboa já está
prevista a nova travessia do Tejo. Fazendo isto o tempo de viagem em TGV, não
seria superior a 35 minutos. Poupava-se dinheiro e rentabilizava-se o eixo
Sines/Beja, cujas principais infraestruturas, o Porto e o Aeroporto constituem
a par da Barragem do Alqueva, e no mesmo paralelo os maiores investimentos
públicos realizados em Portugal nos últimos 50 anos.
Para este projecto são ainda fundamentais as
competências e as capacidades tecnológicas desenvolvidas no âmbito das
comunicações e da energia, com acento no novo modelo energético em que se
prefigura uma oportunidade para futuro da bacia do Atlântico, ligando os EUA ao
Porto de Sines com o aproveitamento dos oledutos peninsulares.
Portugal, no entanto, tem de estar atento a manobras
que nos tentem subordinar a quadros jurisdicionais atípicos nas duzentas milhas
marítimas e na ZEE.
É fundamental, por isso, dar-se também um novo impulso
à CPLP, espaço vital da Língua Portuguesa, na lógica das parcerias económicas,
sem esquecer a vertente cultural e de interesse comum para futuro. Têm de ser
projectadas as nossas capacidades nos domínios da investigação e do
conhecimento, que são vertentes estratégicas no quadro lusófono; o que implica
que se pare a hemorragia da imigração qualificada, apostando-se no ensino e na
investigação científica.
Amadeu Basto de Lima | Cascais, 2 de Julho de 2018
Desde há alguns anos que venho escrevendo sobre este tema, numa perspectiva estratégica, tendo como objectivo qualificar Portugal como Plataforma Atlântica. Para isso é fundamental, considerar também a articulação com o Porto de Sines e a ferrovia em Alta Velocidade. Além disso, este aeroporto teria ainda a vantagem de ser estrutura de apoio tanto a Lisboa como a Faro para a aterragem de aviões de grande porte como o A380, como recentemente ficou comprovado. Anexo por isso o texto de reflexão crítica sobre o TGV, publicado na revista Transit XXI em Dezembro de 2002. Além disso, refira-se o estudo técnico, que elaborei com um especialista do sector ferroviário, em 2007, onde se prova a inviabilidade económica do TGV Lisboa/Madrid, no que se refere à rentabilidade do investimento e sobremaneira a própria exploração anual do mesmo que seria altamente deficitária com impacto nas contas públicas, uma vez que tem enorme desvantagem económica em relação ao avião na ligação a Madrid.
ABL
Porque é que o bom senso e a racionalidade são sempre terrenos tão difíceis?
ResponderEliminarClareza, objectividade, racionalidade, economia. Tudo os ingredientes deste artigo.
Como é que perante o que é tão claro ainda pode haver quem rejeite a alternativa Beja com a muleta argumentativa de que Beja "é longe demais"?