A
"normalidade" que conhecíamos morreu vítima do vírus chinês.A
narrativa neo-liberal sobre a morte do Estado, está agora à vista de
todos, era claramente exagerada. Acabou a era das "governanças",
os governos estão de volta, com um completo refazer do modelo económico global.
Tempo de "re": relocalizar,
reindustrializar, reestruturar, refazer e até renacionalizar... China, Estados
Unidos e Rússia já tornaram claro que a sua escolha (e, recordem-se, governar é
escolher...), a sua prioridade é defender e desenvolver os respectivos aparelhos produtivos. Até
a ordo-liberal Alemanha da CDU/CSU encara mesmo a nacionalização de
empresas para impedir que, feridas pela crise, sejam vítimas dos grandes
predadores estrangeiros, como os chineses.
A implosão/fragmentação do modelo global deixa a
actual estrutura da economia chinesa sem racionalidade. O governo do PC Chinês
já deixou cair a prevista taxa de crescimento dos 6% (o mínimo para suportar a
"normalidade" da economia chinesa), cortou-a para metade, num
primeiro tempo, e já encara uma taxa de... 0,2% ! Resta saber se mesmo estes
0,2% terão alguma realidade...
Na "União Europeia", alguns dos Estados da
fachada marítima (incluindo a Itália) não descartam a possibilidade de taxas de
desemprego da ordem dos 40% (fruto de um colapso das respectivas economias e do
tempo necessário para refazer os aparelhos produtivos). Muito
interessante (e até instrutivo...) será ver como a Alemanha e a sua
"zona marco" ou "zona n.euro" reagem à quebra da China e ao
afundar de boa parte da Europa...
Não isenta de problemas mas muito menos exposta está a
economia americana que tem no seu mercado interno o principal cliente (ao
contrário das economias da Alemanha ou da China que, subordinadas a estratégias
de nacional-mercantilismo, vivem das exportações...). O governo de Washington
já decidiu tomar as medidas necessárias para que os bens e serviços disponíveis
no seu mercado interno tenham uma forte incorporação de trabalho americano. E
isto implica o refazer das cadeias logísticas globais... Ou seja, é uma péssima
notícia para a Alemanha e para a China.
O vírus de Wuhan fez desabar o mundo que conhecíamos,
foi o fim de um mundo. O que está a emergir, por entre violentíssimas dores de
parto, é ainda uma novidade. Preparem-se.
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