ou de como precisamos urgente e absolutamente de "uma ideia de Portugal"
e de superar as meras e apátridas "engenharias e técnicas" de governanças...
Durou 3 décadas o tempo da “globalização feliz”, abriu-se em Berlim e fechou-se em Moscovo. Começou com a queda de um muro e acabou com uma ...
Subscrevo integralmente o teor do artigo do Vítor Ramalho, que vai muito além da vulgata que se escreve sobre este tema. Apenas um pequeno comentário, partindo do último parágrafo do artigo, mencionando os ensinamentos possíveis para um novo modelo de desenvolvimento a partir da experiência e da cooperação desenvolvidas a partir do combate à COVID 19. Primeiro, o quadro da globalização que se desenvolveu dos últimos 30 anos, foi assente nas Cadeias de Valor Globais (GVC), por definição cadeias de valor fragmentadas, mas que permitiram a integração da maioria das economias do mundo no atual sistema, naturalmente com contributos muito diferenciados em matéria de valor acrescentado, consoante as suas especializações, com os múltiplos aspetos críticos que o autor do artigo aflora, e bem. Foram também estas Cadeias de Valor Globais que estão subjacentes à lógica das deslocalizações, em boa parte protagonizadas pela América multinacional que, na atualidade, a América territorial questiona. Foi também esta lógica que fez da China a grande fábrica do mundo. E, foi no contexto da COVID 19 que se percebeu que as maiores economias do mundo, do Estados Unidos à Europa e outras, das coisas mais simples (como os equipamentos médicos ) às mais complexas (como as componentes mais críticas tecnologicamente e estrategicamente do 5G), tinham as suas cadeias de abastecimento, no essencial, localizadas na China e outros países asiáticos. É aqui que se tornou evidente que este modelo não é sustentável. Doravante, nem as economias, nem as grandes empresas e multinacionais, por razões de segurança económica e estratégica, quererão continuar a apresentar os níveis de dependência e de vulnerabilidade atuais. Colocar-se-á seguramente a questão da diversificação das cadeias de abastecimentos globais, migrando para Cadeias de Abastecimento Regionais, e mesmo locais, em relação a algumas produções. Creio, que existe aqui uma oportunidade para Portugal, se tiver a inteligência e a capacidade para, numa perspetiva euroatlantica e global, atrair algumas destas empresas, nomeadamente multinacionais que, nesta lógica de diversificação, vão protagonizar estas cadeias de abastecimento regionais. Em segundo lugar, também se percebe que as próprias instituições de regulação e de cooperação internacionais estão em crise e, como tal, terão que operar mudanças profundas para fazer face aos novos alinhamentos internacionais e aos mais diversos fatores de imprevisibilidade que se adensam. Por exemplo, quando olhamos para os desenvolvimentos tecnológicos em curso, verificamos que a Manufatura Aditiva ou Impressão 3d Industrial, só por si, à medida que se for disseminando, vai altera muito significativamente esta lógica das atuais cadeias de valor globais, fragmentadas (vamos falar cada vez mais em cadeias de valor paralelas), reduzindo drasticamente o número de operações para a execução de um produto, com as implicações que isso terá no comércio internacional de mercadorias, reduzindo-o significativamente em favor do comércio internacional de serviços. Além de que vai reforçar o papel do conhecimento e da inovação. São questões que colocam problemas em matéria de cooperação internacional, na medida em que poderão subtrair a presença de muitas economias que se integravam nestas cadeias globais de valor. Nada disto estará para acontecer amanhã. Mas, também é verdade que a aceleração é uma característica do tempo em que vivemos. Vale a pena debatê-las enquanto é tempo para tirar o devido partido e alcançar o melhor posicionamento.
ResponderEliminarAndré Magrinho
André, completamente de acordo contigo mas é preciso reconhecer que há quem há muito o tivesse percebido e o tenha escrito e repetido, desde há muitos anos.. O Covid-19 apenas o tornou evidente para os distraídos e outros que gostam de ser surpreendidos. Hoje, é imprescindível colocar o tema da mudança do modelo global no centro da discussão. Como diziam alguns clássicos, "hic Rhodus, hic salta". E não o perceber é falhar toda a discussão...
ResponderEliminar