O lítio português é alvo da cobiça de poderosos grupos e interesses internacionais. O que, sendo o lítio um minério estratégico indispensável à actual revolução tecnológica, pode ser considerado normal.
Tal como é normal que o governo de qualquer país possuidor de lítio procure defender os seus interesses nacionais. Procure um controlo estratégico das suas reservas e procure "subir na cadeia de valor". E não queira limitar-se a exportar o lítio em bruto. A refinação no país produtor é, assim, o primeiro passo para "subir na cadeia de valor". Para criar mais emprego e para aumentar (e muito) o preço da tonelada exportada.
A existência de capacidade de refinação é, portanto, decisiva para a economia do país produtor. Só um governo de tontos (e já temos tido disso...) ignoraria a magna questão da localização da refinaria. Mas, pelas notícias que vão chegando, há senhores magistrados que acham isso estranho... Só pode ser ingenuidade, própria de alguém que não tenha conhecimento das guerras económicas que o controlo das cadeias de valor de recursos raros gera.
Guerras económicas que dispõem de imensos recursos financeiros (e outros...) para alimentar guerras de informação e para comprar tudo o que for necessário.
Os nossos magistrados, polícias, serviços de inteligência, políticos, media e outros decisores deverão, para evitarem ser instrumentalizados por interesses estranhos, ter muito cuidado... Sentido de Estado precisa-se!
Nota 1: Ainda está por fazer a história das "pressões" que o governo de Felipe Gonzalez organizou para controlar a cadeia de valor do cobre de Neves Corvo e desviar a sua refinação... É pena porque muito se pode aprender com esse triste processo.
"António Costa pergunta pelo lítio em escuta com Ministro do Ambiente
Presidente do Supremo Tribunal de Justiça terá considerado conversa normal.
António Sérgio Azenha | CM | 24 Jan.2021
A estratégia energética nacional, os contratos na área da energia e a localização da futura refinaria de lítio, em Portugal, serão o tema da escuta entre o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, que foi validada pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
A escuta foi feita pelo Ministério Público (MP) no âmbito do caso Hidrogénio, no qual são investigadas suspeitas de alegados benefícios do Governo ao consórcio constituído pela Galp, EDP, REN, Martifer e a dinamarquesa Vestas, que tem em vista construir uma fábrica de hidrogénio verde em Sines.
O ministro foi colocado sob interceção telefónica neste inquérito, tendo Costa sido apanhado nessa escuta.
O presidente do STJ, António Piçarra, terá considerado o tema da conversa normal entre membros do Governo, mas admitiu que a escuta possa ter interesse futuro para a investigação no caso Hidrogénio. E, por esse motivo, validou-a.
Neste inquérito, são investigados os negócios do hidrogénio verde.
Quanto ao lítio, o Governo quer que os privados
instalem uma refinaria em Portugal, para rentabilizar o minério."
Nota 2: Num país em que os magistrados escutam os membros do governo e o conteúdo das escutas fechadas "num cofre" circulam pelas manchetes dos jornais, é um mistério insondável que o primeiro-ministro e outros decisores políticos ainda falem ao telefone ou por mail... Um mistério insondável! E, por favor, não se culpem os jornalistas que fazem o seu trabalho...
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