quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

O que fez de 2022 um Ano Histórico

José Mateus | Jornal Tornado | 27 Dezembro, 2022

2022 não é só o ano do grande assalto de Elon Musk ao Twitter. Nem esse assalto é o grande acontecimento do ano, como poderá pensar quem só leia “redes sociais”. O ano de 2022 é um marco na história do século XXI. É o ano do colapso das certezas que dominavam o mundo. O ano em que aconteceu o que não era possível acontecer.


A guerra na Europa era algo não só impossível mas mesmo impensável. A senhora dona Merkel explicaria isso a qualquer transviado do “pensamento único”. E fá-lo-ia corroborada pelos seus colegas e amigos/inimigos (consoante os dias) do SPD e dos Verdes mais os seus vizinhos amestrados da Holanda, Finlândia e outros e ainda toda uma classe política “europeista” sempre pronta a papaguear uma “cassete” muito rodada.

Mas ainda a nuvem negra do “vírus chinês” não se tinha dissipado e já 2022 era o ano em que rebentava a guerra na Europa, com as maiores operações militares desde 1945. Uma guerra que dura há quase um ano e parece não ter fim à vista. Uma guerra muito à maneira russa, cujas armas maiores são a artilharia e o tempo. A artilharia que reduz infraestruturas e cidades do inimigo a cinzas (veja-se o que o marechal Jukov fez a Berlim em 1944/45). O tempo, essa dimensão de que Lénine tanto gostava e que o levou a formular o seu famoso “kto kogo”… E é com este “kto kogo” que a Europa se confronta na Ucrânia.

A inflação fazia também parte do passado. Impensável. Até os pobres dos bancos centrais que, desde há anos, procuravam desesperadamente atingir uma inflaçãozinha de 2% não conseguiam chegar a tanto. Desesperante. A inflação era, decisivamente, uma coisa do passado. Quando a retoma da actividade no pós-covid provocou um não controlado aumento de preços, todos estiveram de acordo: é um fenómeno passageiro e sem dimensão nem consistência. No último trimestre, porém, foi necessário corrigir a “cassete”. Afinal, o monstro estava à solta. Culpa da guerra na Ucrânia, culpa da insustentável subida descontrolada dos preços da energia e das matérias-primas. E assim outro “impossível” se concretizava: 2022 trazia uma inflação histórica como há décadas não se via e de que a maior parte da população da Europa não tem memória.

Mas não foi só de regressos do passado que 2022 se fez, também trouxe algumas amostras do futuro: disrupções nas redes globais em que (levianamente) se assentaram, nas últimas décadas, a economia e a sociedade (o medo agora é que, depois de ter cortado o gás, Putin corte, por exemplo, o GPS…). Não foi, porém, só nas “disrupções” que os limites e alçapões das “novas tecnologias” se revelaram. Também nas fintech e suas “seguríssimas” cripto-moedas, com um dos maiores escândalos financeiros de sempre. Sobre as disrupções, há quase 20 anos que o meu amigo John Robb disse o essencial, no seu “Brave New War”. Sobre as limitações e alçapões das “novas tecnologias”, o meu amigo Alain Bauer tem repetidamente dito também o essencial do que há a dizer. Portanto, quer sobre os regressos do passado ou quer sobre as amostras do futuro, só é surpreendido quem goste muito de surpresas…

De facto, todo o sistema geoeconómico a que pomposamente se chamou globalização assentava e era contido num quadro geopolítico que há vários anos tem vindo a dar mostras e sinais de esgotamento. Alguns desalinhados do “pensamento único” têm mesmo vindo, desde o início do século, a alertar para o regresso em força da geopolítica aos comandos. As elites políticas instaladas apresentam, porém, uma imensa incapacidade para ver tudo e qualquer coisa que não esteja prevista na sua “cassete”… E é assim que 2022 se tornou um ano histórico.


domingo, 25 de dezembro de 2022

Ucrânia, Covid, Autoritarismo, Inflação, Crise... Keep Calm and Study Geopolitics

Geopolitical Child, by Salvador Dali

A geopolítica é a chave para alcançar a compreensão do que se está a passar no mundo. Uma mudança estrutural como, desde 1945, não acontecia. Na segunda década deste século, tornou-se visível a olho nu o regresso do afrontamento entre os "great powers". 

Primeiro, como guerra económica (ainda limitada ao afrontamento China-USA) e, no início desta terceira década, já com choque militar (por enquanto com o campo de batalha limitado à Ucrânia) e com o alargamento da guerra económica. 

Como sempre, as consequências são assimétricas, tanto na guerra económica como na militar. No "nevoeiro" que a guerra cria, nada é claro, nem óbvio e nem evidente. 

E, se as opiniões públicas têm estados de alma, os Estados são monstros frios para quem só os seus interesses e respectiva defesa contam e importam... 

Para conceber a grelha de leitura que permita integrar e "ler" tanto a "espuma dos dias" como os "sinais fracos", a geopolítica é o elemento essencial.

Geopolitics
https://en.wikipedia.org/wiki/Geopolitics

"Democratic Ideals and Reality", by Sir Halford John Mackinder.
An National Defense University Press, [1996] edition of the classic work on geopolitics. Online Version:
http://purl.access.gpo.gov/GPO/LPS51450

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Catar: Um Emirado da Irmandade Muçulmana

O CatarGate veio colocar a questão de saber o que é realmente o Catar, um emirado infiltrado e dominado pela Irmandade Muçulmana. Ora, pouco antes do início do 'Mundial', foi editada uma excelentemente documentada obra sobre a Irmandade Muçulmana, da autoria de uma investigadora egípcia refugiada nos Estados Unidos, Cynthia Farahat. Curiosamente (ou talvez não...), perante a perplexidade da autora, a distribuição do livro tem estado a ser adiada para o próximo... 30 de Dezembro! 

Aqui, no IntelNomics, conseguimos (felizmente!) acesso a uma digitalização da edição, através de bons amigos.
Thanks, Cynthia and friends.


''The Secret Apparatus: The Muslim Brotherhood's Industry of Death'', by Cynthia Farahat

The Muslim Brotherhood’s “Secret Apparatus” is a clandestine incubator for Islamic terrorism, and it exports its “industry of death” to destroy the world through infiltration, disinformation, and jihad .....

About the Autor


Cynthia Farahat is an Egyptian American author, columnist, political analyst, researcher, and fellow at the Middle East Forum. She co-founded the Misr al-Um and the Liberal Egyptian parties in Egypt, which advocated for peace with Israel, capitalism, and the separation of mosque and state. She studied Islamic jurisprudence for more than twenty years and co-authored several books in Arabic, including Desecration of A Heavenly Religion, which was officially banned by Al-Azhar Islamic University in Cairo in 2008 for its critical research of Egyptian Islamic blasphemy laws.

Farahat landed on an Al-Qaeda affiliated groups’ hit list and was officially banned from entering Lebanon for her work fostering regional peace. Egyptian State Security Intelligence Service surveilled her for over a decade and she received daily death threats from radical Islamists. After her brother was tortured by President Hosni Mubarak’s regime, her friend was murdered, and Islamists tried to assassinate her, Farahat immigrated to the United States.

Farahat has testified before the U.S. House of Representatives, briefed more than 120 congressional offices, and advised numerous intelligence and law enforcement agencies. She received the Speaker of Truth Award from the Endowment for Middle East Truth and the Profile in Courage Award from ACT for America. Her writing has been published in many Arabic and western outlets, including National Review online, the Middle East Quarterly, The Hill, Fox News, The Daily Caller, and The Washington Times. She has appeared on ReasonTV, Fox News Live, Voice of America, PJTV, BlazeTV, and i24 News.

Não se pode falar de geopolítica sem ler e reler o clássico dos clássicos...



A palavra "geopolítica" surgiu de repente na boca de toda a gente. 

Poucos saberão, porém, do que falam quando dizem "geopolítica".

Para evitar figuras do tipo "táctico-estratégico!" do famoso Jorge Jesus,

comece-se por ler o clássico dos clássicos que já conta com 103 anitos.

Aqui fica a sugestão e a oferta de um link para a edição gratuita online:

"Democratic Ideals and Reality", by Sir Halford John Mackinder.

An National Defense University edition (1996) of the classic on geopolitics. 

Eva Kaili e o CatarGate: Um ''Romance Negro'' de Desfecho Ainda Imprevisível

O CatarGate é um 'romance negro' em que, por ora, a (ex) vice-presidente do Parlamento Europeu Eva Kaili tem o principal papel feminino...

A vice-presidente do PE tem o nome, biblicamente, adequado ao papel de tentadora e distribuidora de maçãs do Catar... Mas que tipos (e tipas também pois que estamos em tempos anti-discriminação sexista) morderam malas e pacotes, perdão, as maçãs, e as têm agora atravessadas na garganta...? Quem está atolado e preso nas areias movediças do Catar? E as simpáticas e sempre tão opacas ONGs que papeis desempenham neste "romance"? Calma com a curiosidade.

As cenas dos próximos capítulos vão desenrolar-se depois destas "festas" que já estão à porta. Em termos de Europa, 2023 vai, portanto, ser um ano muito divertido... Claro, como em qualquer bom 'romance negro', o desenlace final será surpreendente!


terça-feira, 13 de dezembro de 2022

O "MUNDIAL" DAS GUERRAS DE INFORMAÇÃO...

...E da honra perdida do Catar e da... União Europeia.

No mapa dos "Estados do Golfo", o Catar está isolado, mas tem o apoio discreto do Irão, face a uma coligação liderada pela Arábia Saudita...

O Catar quis este Mundial para construir uma reputação e uma imagem de Estado competente e confiável.

Mas algures, para derrotar este propósito, ter-se-à criado uma boa equipa de guerra de informação, com bons orçamentos, capacidade de recolha de informação e o melhor know how de gestão e projeção da informação. Assim, o que já está a emergir é o contrário do que o Catar queria...

Ao Catar saiu-lhe o tiro pela culatra. A guerra de informação é assim. E de novo se prova que não é para amadores nem para 'public relations', mas para 'information warriors' que dominem a palete de técnicas, sejam criativos e tenham pensamento estratégico. Como qualquer bom general.

E - dano colateral? - a onda de lama já chegou a Bruxelas e ameaça inundar o Parlamento Europeu e sapar os fundamentos do "edifício europeu"...

PS.
Perguntou-me alguém se um tal "Mr. Soriano" não teria nada a ver com esta derrota do Catar... Pois não sei mas que seria menino para isso, seria.

PPS
Mr. Soriano ou como a "Guerra de Informação" Continua a Ser um Mistério para os Políticos
https://intelnomics.blogspot.com/2019/09/a-guerra-de-informacao-continua-ser-um.html

Mr. Soriano, um 'information warrior' de que não existe, ao alcance dos media, nem uma única foto...

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Ao serviço do KGB: Ministros, deputados e jornalistas...

As línguas começam a soltar-se... A invasão da Ucrânia veio pôr na ordem do dia a realidade da guerra fria (e às vezes morna...) e das muito especiais manobras na sombra conduzidas pelo KGB, agora chamado de FSB. Três ex-dirigentes da secreta francesa começaram (cautelosa e parcimoniosamente...) a abrir o livro. E o que mostram não é bonito... Há, porém, quem nos diga que em Portugal ainda é pior. Quando será, então, que em Portugal poderemos saber quem foram, quem são, os ministros, deputados e jornalistas que...?


O L'Express regista o facto histórico protagonizado pelos três ex-patrões da DST francesa:

"Ministres, députés, journalistes... Ces Français identifiés comme des espions russes par la DST 

Le récit est inédit: trois ex-dirigeants de la DST révèlent leurs soupçons et leurs preuves contre des ministres ou députés... espions du KGB jusque dans les années 1980.

Dans "La DST sur le front de la guerre froide" (Mareuil Editions), Raymond Nart (ex-directeur adjoint de la DST), Jean-François Clair (ex-directeur adjoint de l'anti-terrorisme) et Michel Guérin (ex-chef de l'inspection générale de la DST) révèlent les preuves et les témoignages obtenus par le contre-espionnage français sur la compromission de plusieurs journalistes et hommes politiques éminents, parlementaires ou ministres. Surtout des cadres de ....."

Acabou a ilusão globalista... A geopolítica volta a governar o mundo

Durou 3 décadas o tempo da “globalização feliz”, abriu-se em Berlim e fechou-se em Moscovo. Começou com a queda de um muro e acabou com uma ...