O ex-maoísta André Glucksmann, em “Ouest contre Ouest”,
foi talvez quem primeiro na Europa (2003) chamou a atenção para a fractura
estratégica que o “11 de Setembro” podia abrir no mundo transatlântico. Pela
mesma altura, o ex-comunista Alexandre Adler, em “L'odyssée américaine”, via a abertura
de um novo ciclo estratégico (o quarto, para ser mais preciso) da evolução dos
Estados Unidos.
Se ainda é cedo para confirmar a visão de Adler, o alerta de Glucksmann confirmou-se imediatamente e a fractura por ele então referida não parou ainda de se afirmar e desenvolver. Essa evolução fica muito bem retratada num editorial (05 de Outubro de 2016) de um dos mais sonantes e importantes nomes da geopolítica europeia, o francês Pascal Gauchon: “C’est le moment de se séparer”.
Pouco mais de um mês depois deste editorial de Gauchon,
os eleitores americanos escolhiam o seu novo presidente, surpreendendo todos os
que gostam de ser surpreendidos. Donald Trump entra na Casa Branca, num
ambiente de “desbragadas” críticas emocionais e de pesadas disfunções no
próprio aparelho do estado americano, num clima de histeria nunca antes visto.
É neste contexto que a imperadora da Europa Angela
Merkel aparece a pretender dar lições de democracia ao novo presidente e a
impor-lhe condições, regras políticas e a sua visão do mundo. Este “desvio soviético”
de Merkel foi catastrófico, foi o exemplo perfeito de cegueira política e foi
um dos seus maiores (e ela tem muitos...) disparates políticos (que, de resto, está
a pagar bem caro).
Depois das declarações, entrevistas e outras posições
públicas do presidente americano, no seu recente périplo europeu, fica
oficializada a fractura antecipada por Glucksmann, há claramente e à vista de
todos um ocidente contra outro ocidente, há um mundo novo a emergir e há uma
Europa sem destino definido (nem previsíveis possibilidades de o definir).
Se, de Glucksmann a Gauchon, não faltaram na Europa
vozes proféticas a anunciar a vinda de um Trump, a verdade é que isso não
serviu de nada a uma classe de decisores políticos incapazes, incompetentes e
impotentes. A figura de Jean-Claude Juncker trôpego, incapaz de andar por si e tendo
de ser amparado/arrastado por dois ou três “amigos” é o retrato fiel desta
Europa. E é muito difícil culpar Trump por tal...
P.S. Para Portugal, cujo território nacional se espalha
arquipelagicamente pelo Atlântico, esta fractura pode assumir aspectos muito
complexos e configurar situações de graves ameaças. E parece que ainda ninguém
(entre quem de direito) se lembrou de estudar tal matéria...
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