terça-feira, 17 de julho de 2018

Trump, a Europa e a Fractura no Atlântico


O ex-maoísta André Glucksmann, em “Ouest contre Ouest”, foi talvez quem primeiro na Europa (2003) chamou a atenção para a fractura estratégica que o “11 de Setembro” podia abrir no mundo transatlântico. Pela mesma altura, o ex-comunista Alexandre Adler, em “L'odyssée américaine”, via a abertura de um novo ciclo estratégico (o quarto, para ser mais preciso) da evolução dos Estados Unidos.
  

Se ainda é cedo para confirmar a visão de Adler, o alerta de Glucksmann confirmou-se imediatamente e a fractura por ele então referida não parou ainda de se afirmar e desenvolver. Essa evolução fica muito bem retratada num editorial (05 de Outubro de 2016) de um dos mais sonantes e importantes nomes da geopolítica europeia, o francês Pascal Gauchon: “C’est le moment de se séparer”.


Pouco mais de um mês depois deste editorial de Gauchon, os eleitores americanos escolhiam o seu novo presidente, surpreendendo todos os que gostam de ser surpreendidos. Donald Trump entra na Casa Branca, num ambiente de “desbragadas” críticas emocionais e de pesadas disfunções no próprio aparelho do estado americano, num clima de histeria nunca antes visto.

É neste contexto que a imperadora da Europa Angela Merkel aparece a pretender dar lições de democracia ao novo presidente e a impor-lhe condições, regras políticas e a sua visão do mundo. Este “desvio soviético” de Merkel foi catastrófico, foi o exemplo perfeito de cegueira política e foi um dos seus maiores (e ela tem muitos...) disparates políticos (que, de resto, está a pagar bem caro).

Depois das declarações, entrevistas e outras posições públicas do presidente americano, no seu recente périplo europeu, fica oficializada a fractura antecipada por Glucksmann, há claramente e à vista de todos um ocidente contra outro ocidente, há um mundo novo a emergir e há uma Europa sem destino definido (nem previsíveis possibilidades de o definir).

Se, de Glucksmann a Gauchon, não faltaram na Europa vozes proféticas a anunciar a vinda de um Trump, a verdade é que isso não serviu de nada a uma classe de decisores políticos incapazes, incompetentes e impotentes. A figura de Jean-Claude Juncker trôpego, incapaz de andar por si e tendo de ser amparado/arrastado por dois ou três “amigos” é o retrato fiel desta Europa. E é muito difícil culpar Trump por tal...

P.S. Para Portugal, cujo território nacional se espalha arquipelagicamente pelo Atlântico, esta fractura pode assumir aspectos muito complexos e configurar situações de graves ameaças. E parece que ainda ninguém (entre quem de direito) se lembrou de estudar tal matéria...



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