segunda-feira, 21 de março de 2022

Conhecer e Perceber a Cultura Russa

José Mateus

Comprei, há anos, umas calças e um blusão russos. Para ver e sentir como seria vestir a normal ‘farpela’ de um russo de Kazan, Moscovo ou Vladivostoque. Andei meses para ‘incorporar’ a sua lógica de organização, tanto das calças como do blusão, e ainda hoje, quando os visto, preciso de uns segundos (ou mesmo mais...) para conseguir descobrir onde guardei os óculos de sol, em que sítio está a caneta ou onde pára a carteira... Roupa bem pensada e eficiente, mas 'matrizada' de forma  completamente diferente da que podemos adquirir na Europa ou nos USA. 

Isto, esta dificuldade de entendimento com uma simples roupa de uso corrente, ilustra bem como a cultura russa é diferente da euro-americana e como o lidar com ela não é coisa óbvia e requer estudo e conhecimento.

Tempos depois, em Paris, conheci a C. que era russa (embora se tivesse fixado em França muitos anos antes) e trabalhava como ‘assistente’ do CEO de uma grande empresa que era minha cliente. Pouco depois, o CEO, durante um almoço de trabalho, perguntou-me o que eu pensava dela. “É – respondi-lhe - o retrato de um tanque T-34, vai tudo à frente”. O T-34 não é uma tecnologia recente, data da II Guerra, mas foi nele que a C. me fez pensar quando a vi a trabalhar.


Russian Butt Slap Competition

Recentemente, foi inventado na Rússia um novo “desporto” que vale bem a pena observar com atenção, vendo para além das (belas) aparências, e reflectir sobre ele... Sobre as suas regras e os seus objectivos e o que nos podem dizer da “alma” russa.

Explicação deste recentíssimo “desporto” russo pelo inglês Daily Star.

Numa perspectiva mais histórica e literária, mas com muito século XX pelo meio e muitos mergulhos na 'alma' russa, veja-se o escritor muito apreciado pelo conde Alexandre de Marenches, Vladimir Volkoff. 


Como refere a Wiki, "With Le Montage ("The Set Up"; winner of the Grand Prix du roman de l'Académie française, 1982) Volkoff illustrated the methods and networks of tricks and traps of Soviet "disinformation" in Europe; the idea of this novel could have come from Alexandre de Marenches, director of the SDECE (now DGSE), who may have provided the factual basis for its plot."


O conhecimento não supõe qualquer justificação e muito menos uma aceitação. É apenas imprescindível. Cinco séculos antes de Cristo, um clássico asiático deixou isso gravado em lâminas de bambu atadas com fios de seda: “Conhece o teu inimigo e conhece-te a ti mesmo e vencerás mil batalhas sem perigo”.



Vídeo do novo "desporto" russo no Youtube: 

quinta-feira, 10 de março de 2022

"The Russia Archive": Novo Capítulo na Guerra de Informação

"ICIJ announces the Russia Archive, an inside look at the hidden wealth of oligarchs and elites close to Putin


"To highlight and advance what our investigations have uncovered about how the offshore system bolsters networks of wealth behind Putin and his longtime allies, ICIJ is launching the Russia Archive.

"In the Russia Archive, you can explore past ICIJ exposés on the financial secrets of Russian elites, insights on the professional enablers who’ve made it possible for them to move and hide money offshore, and our ongoing coverage of sanctions regimes, dirty money reforms and more."

terça-feira, 8 de março de 2022

DEFESA NACIONAL, O QUE É?

Explica-me o que é isso da Defesa Nacional, como se eu fosse muito burro

O termo “defesa nacional” engloba todas as necessidades e o planeamento e preparação para atender às necessidades essenciais de defesa, industrial e militar relativas à segurança, bem-estar e economia nacionais, particularmente resultantes de ações militares ou econômicas estrangeiras.

A Defesa Nacional visa, portanto, preservar a integridade do território nacional e a vida das pessoas, bem como defender os interesses vitais dos países e dos seus aliados. Assim sendo, podemos considerar que a Defesa Nacional é o conjunto de ações adotadas pelos Estados para garantir a sua sobrevivência contra riscos e ameaças.

O objetivo da defesa nacional é, em tempos de paz, preparar o país para uma possível conflagração. E, se se tratar de um conflito aberto, conduzir a guerra e alimentá-la, protegendo a população, o solo e os recursos.

O objetivo da estratégia de segurança nacional é então o de identificar todas as ameaças e riscos que possam afetar a vida da Nação, em particular no que diz respeito à proteção da população, à integridade do território e à permanência das instituições da República, e determinar as respostas que as autoridades públicas devem fornecer.

Uma política de defesa nacional coerente é uma das políticas setoriais fundamentais no setor da segurança. As políticas de defesa devem ser derivadas de políticas e estratégias de segurança nacional devidamente acordadas. A análise e consulta das necessidades da política de defesa normalmente resulta no que é frequentemente chamado de Livro Branco da Defesa que, uma vez aprovado pelos governos, estabelece diretrizes políticas para o setor da defesa durante o período da sua vigência.

Tal como acontece com todas as outras áreas da política, as configurações da política de defesa devem ser mantidas sob revisão contínua. Inevitavelmente, com o passar do tempo, as configurações de políticas tornar-se-ão irrelevantes para o ambiente estratégico, político, econômico, tecnológico ou social, caso em que uma nova estratégia de desenvolvimento de políticas será provavelmente necessária. Uma vez que as atividades, estruturas de forças, ou planos de reequipamento, bem como os orçamentos previstos divirjam significativamente da política traçada, é provável que seja necessário um reexame das configurações da política, caso em que o processo precisa ser reiniciado.

Mesmo depois de implementada, a política ainda precisa ser monitorizada e avaliada para garantir que atende à intenção política por trás dela.

As nações que enfrentam uma ameaça comum geralmente reúnem os seus esforços de defesa em alianças como a OTAN. Embora a OTAN seja uma aliança formal, as nações também podem cooperar implicitamente em alianças informais, compartilhando responsabilidades e encargos de defesa sem as amarras de uma organização internacional.

Função política soberana, a Defesa é nacional porque diz respeito não só à Defesa Militar e às Forças Armadas, mas também a todas as administrações responsáveis ​​pelas grandes categorias de funções ou recursos essenciais à vida do país. E esta é a conceção global que deve ter-se acerca da Defesa. A Defesa Nacional é, portanto, um dos componentes da política de segurança nacional, e baseia-se nos seguintes princípios:


• Globalidade, já que diz respeito a toda a população e a todos os setores da vida do país (defesa civil, econômica e militar);


• Permanência, porque tem de ser organizada desde tempos de paz;


• Unidade, para isso sendo liderada pelo governo;


• Proteção dos interesses fundamentais do país. Esses interesses poderão ser:


- Interesses vitais, nomeadamente a manutenção da integridade do território nacional, o livre exercício da sua soberania e a proteção da sua população e dos seus nacionais no estrangeiro.


- Interesses estratégicos, que consistem principalmente na manutenção da paz no país e nas suas zonas limítrofes, nomeadamente no mar e nos céus, bem como na preservação das condições necessárias ao prosseguimento das atividades económicas e de comércio;


- Interesses de poder vinculados às responsabilidades internacionais do país como membro de uma aliança de defesa;


• Contribuir para a estabilidade internacional, pois como membro da comunidade internacional, os países deverão defender os valores da democracia, bem como a solidariedade entre os Estados. Portugal tem também responsabilidades especiais como antiga potência colonial, particularmente em África onde procura favorecer a emergência de soluções regionais. As responsabilidades internacionais dos países envolvem sua participação em operações de promoção da paz (peace keeping e peace enforcement);


• Trabalhar num quadro europeu, uma visão fundamental para os países europeus, que devem atuar para a emergência de uma Europa forte, embora preservando as ligações transatlânticas.


• Pensar a Defesa como uma conceção global. Essa globalidade tornou-se ainda mais necessária com a proliferação de armas de destruição em massa (nucleares, radiológicas, bacteriológicas e químicas), a ascensão do terrorismo internacional, o desenvolvimento do tráfico (drogas, armas, seres humanos, falsificação...) e crimes cibernéticos.

 

De uma forma geral, uma política de Defesa Nacional estruturada deve poder proporcionar:

 

Proteção. Trata-se de garantir a segurança da população e o funcionamento das instituições e das atividades socioeconômicas do território. Esta função resulta em particular em:


• implementação de medidas de segurança das atividades de defesa económica espalhadas pelo território.


• ação permanente de segurança das ações de polícia (vigilância, neutralização, etc.);


uma posição marítima e uma posição aérea permanentes (assistência, deteção e interdição de aeronaves, etc.);


• Implementação de medidas de segurança dos sistemas de informação;

• sistemas implementados pelas autoridades civis, em caso de desastres naturais ou industriais;

 

Prevenção, Consiste em antecipar ou reduzir o nível de crises para evitar o uso da força. Baseia-se em:


• ação diplomática para uma solução pacífica de conflitos;

  uma política de controlo de armamento;


• recursos de inteligência estratégica (interceção de satélites de telecomunicações e observação);


  arranjos de cooperação militar para ajudar os países com os quais temos acordos de defesa de resolução de conflitos;


  dispor de forças de intervenção rápida.

Projeção de Força e Poder, caso as medidas preventivas não forem capazes de evitar uma eclosão militar. O ato pode ocorrer com uma simples presença, ou com o destacamento de forças beligerantes.

 Conhecimento e antecipação, fundamental para uma ação bem sucedida. Daí a necessidade de dispor de mecanismos eficazes de Inteligência, a todos os níveis (estratégica, económica, etc.)

Em suma, a defesa nacional diz respeito a todos os setores do país. Exige uma organização que cubra não só solo tradicional, mas também dos mares e espaços aéreos. Tem de constituir uma organização completa, bem estabelecida, de implementação instantânea, estável e válida tanto no quadro nacional como no quadro inter-aliado.

Podemos então olhar para a política de Defesa Nacional em três dimensões analíticas. Em primeiro lugar, a política militar, que é o conjunto de decisões destinadas a regular o comportamento político que as Forças Armadas geralmente tendem a desenvolver. Esta dimensão visa fortemente alcançar o controlo civil.

Em segundo lugar, a dimensão estratégica que pode ser definida como as ações, atitudes e medidas estratégicas destinadas a prevenir ou enfrentar diferentes situações de risco, conflito ou ameaças, potenciais ou reais, que ponham em perigo os interesses vitais e estratégicos de um país e que exijam a utilização do Instrumento Militar. Essa dimensão está relacionada à liderança político-civil da Defesa Nacional.

Em terceiro lugar, a dimensão internacional, que é aquela que contribui para a Política Externa e é definida como a política de defesa internacional. Esta última dimensão é a que deve permitir a articulação entre a Política de Defesa e a Política Externa, pelo menos de duas maneiras.

Primeiro, contribui para a Política de Defesa por meio do que os militares chamam de manobra diplomática.

Em segundo lugar, a Política de Defesa é essencial para a Política Externa porque num cenário de incerteza estratégica, onde não está claro quem ou o que é a ameaça, nem a sua magnitude, nem a sua intenção e direção, ela amortece, embora não eliminando os riscos de adoção de uma determinada atitude e posicionamento estratégico. Da mesma forma, a Política de Defesa é essencial para dar credibilidade à Política Externa.

A relação entre estas duas vertentes não termina aqui. A Política Externa precede a Política de Defesa. De facto, seguindo Carl von Clausewitz, consideramos que a guerra é um fato social, mas fundamentalmente político. Consequentemente, como argumentou Raymond Aron, a guerra surge da política, determina a sua intensidade, define o seu motivo e estabelece os seus objetivos políticos. A guerra termina quando os objetivos políticos são alcançados ou, melhor ainda, quando a política afirma que os seus objetivos foram alcançados. Os objetivos da guerra não são militares. Os objetivos estratégicos militares são uma função dos objetivos políticos. Se não há objetivos políticos não há guerra. 

A Defesa Nacional regulamenta assim a obrigação essencial e indelegável do Estado, onde devem convergir todos os esforços necessários para a preservação dos interesses vitais da República. Que tanto o Sistema de Defesa quanto o seu Instrumento Militar se justificam com base na própria existência do Estado e não na definição de um determinado cenário temporal e das suas correspondentes ameaças, e que a sua essência está relacionada ao eventual exercício do monopólio da força para a resolução do conflito em todos os seus âmbitos, da crise à guerra ou ao conflito armado internacional, conforme determinado pelo poder executivo. É então da responsabilidade política estabelecer os parâmetros e critérios a ter em conta para a missão, organização e funcionamento do Sistema de Defesa em geral e, em particular, das Forças Armadas para que se tornem um verdadeiro instrumento de dissuasão, de acordo com a perceção de ameaças aos interesses da Nação e seus correspondentes riscos presentes e futuros. Essa dissuasão é uma das formas de atuação e expressão da Defesa Nacional.

Assim sendo, a Defesa Nacional é também todo o conjunto de disposições, decisões e ações que o Estado adota para garantir a sua própria existência e, ao mesmo tempo, proteger o desenvolvimento do país.

A Defesa Nacional enfrenta um conjunto de problemas complexos e permanentes em cuja solução intervêm igualmente os mais altos órgãos de direção política do Estado, os dirigentes das entidades económicas, sociais, culturais, públicas e privadas, bem como as Forças Armadas.

Finalmente, a Defesa Nacional é obrigação de todos os cidadãos, governantes e governados, bem como estrangeiros residentes no país, sem distinção de raça, credo, partido político, idade e sexo.

Sérgio Campos

(Presidente do Círculo de Estratégia D. João)

 

sábado, 5 de março de 2022

Ucrânia: Vice-presidente do Brasil Diverge de Bolsonaro

Contra a invasão da Ucrânia, 0 vice-presidente do Brasil, General Hamilton Mourão, declarou em nome do governo:

“O Brasil não está neutro. O Brasil deixou muito claro que respeita a soberania da Ucrânia.”

General Hamilton Mourão, vice-presidente do Brasil, contra invasão russa da Ucrânia, em contradição com Bolsonaro, em declarações oficiais a 24 Fev 2022

O vice-presidente do Brasil também apoiou o uso da força militar contra os russos e comparou Putin a Hitler.

Uma declaração nos antípodas da posição putinista do presidente Bolsonaro...

O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, defendeu hoje (24) a soberania da Ucrânia, apoiou o uso da força na região para conter os russos e comparou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao ditador alemão nazista Adolf Hitler (1889-1945). 

"O mundo ocidental está igual ficou em 1938 com o Hitler, na base do apaziguamento, e o Putin não respeita o apaziguamento", afirmou ele a jornalistas nesta manhã. "O Brasil não está neutro. O Brasil deixou muito claro que respeita a soberania da Ucrânia."...

Há alguns dias, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que Putin era uma pessoa de "paz". Mourão não quis responder sobre essa avaliação feita antes. "Não comento palavras do presidente."

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2022/02/24/hamilton-mourao-uso-forca-ucrania-russia-adolf-hitler-vladimir-putin.htm

sexta-feira, 4 de março de 2022

Putin: Ambições, Forças e Fraquezas da Rússia

A 'Diplomatie' (ao contrário de 'boa gente' que anda por aí...) não se deixou distrair  e, nos últimos anos, tem seguido atentamente o 'jogo' de Putin. Não se deixou, portanto, surpreender pelas jogadas do senhor do Kremlin. Agora, para ajudar a perceber os fundamentos e as razões do que se passa na Ucrânia, oferece a leitura dos conteúdos de um dos seus últimos dossiers dedicado aos 'jogos' do Czar.

"Afin de permettre une meilleure compréhension des évènements qui frappent aujourd'hui l'Ukraine, nous partageons GRATUITEMENT le dernier numéro du magazine DIPLOMATIE consacré à la géopolitique/géostratégie russe, réalisé en collaboration avec l’Observatoire franco-russe (CCI-France-Russie) et le Centre Russie/NEI de l’Institut français des relations internationales (IFRI). Bonne lecture!"

terça-feira, 1 de março de 2022

O Fim do Mundo É Apenas o Princípio... Mapeando o Colapso da Globalização

Peter Zeihan tem sido, desde há muito, uma das referências do IntelNomics, por isso é com muito gosto que apresentamos hoje a próxima obra do Peter: 

THE END OF THE WORLD IS JUST THE BEGINNING - Mapping the Collapse of Globalization


2019 was the last great year for the world economy.

For generations, everything has been getting faster, better, and cheaper. Finally, we reached the point that almost anything you could ever want could be sent to your home within days – even hours – of when you decided you wanted it.

America made that happen, but now America has lost interest in keeping it going.

Globe-spanning supply chains are only possible with the protection of the U.S. Navy. The American dollar underpins internationalized energy and financial markets. Complex, innovative industries were created to satisfy American consumers. American security policy forced warring nations to lay down their arms. Billions of people have been fed and educated as the American-led trade system spread across the globe.

All of this was artificial. All this was temporary. All this is ending.

In The End of the World is Just the Beginning, author and geopolitical strategist Peter Zeihan maps out the next world: a world where countries or regions will have no choice but to make their own goods, grow their own food, secure their own energy, fight their own battles, and do it all with populations that are both shrinking and aging.



The list of countries that make it all work is smaller than you think .....

Acabou a ilusão globalista... A geopolítica volta a governar o mundo

Durou 3 décadas o tempo da “globalização feliz”, abriu-se em Berlim e fechou-se em Moscovo. Começou com a queda de um muro e acabou com uma ...