quarta-feira, 30 de maio de 2018

Itália: A “Múmia”, o “Senhor Tesouras” e a Traição dos “Mercados”

O presidente italiano Mattarella fez capotar o “governo populista” em formação e, para “tranquilizar os mercados”, nomeou o tecnocrata Carlo Cottarelli, homem do FMI e dos financistas, como primeiro-ministro. Os “mercados” não se comoveram e infligiram uma terrível correcção a Mattarella.


As acções do presidente e as palavras de Cottarelli visaram imediatamente “tranquilizar os mercados”. Não se lembraram de perguntar quem tranquilizava os italianos que tinham votado massivamente no “populismo”. Resultado: perdem nos dois tabuleiros: não tranquilizam os "mercados" e enervam ainda mais os italianos.

Mattarella, já chamado “a múmia que diz não”, um velho aparatchik da velha Democracia Cristã, viu o seu golpe de Estado palaciano ser coroado por uma muito substancial subida do custo da dívida italiana.

Os seus queridos “mercados” trairam-no. Como diz o porta-voz britânico desses “mercados”, o Economist, “He was wrong. The yield gap between Italian and German government bonds has soared to more than 300 basis points”.

Assim, tudo indica que Cottarelli já não governará até ao fim do ano (quando o presidente previa convocar de novo eleições) e não apresentará um orçamento de Estado à medida dos “mercados”.

Cottarelli, conhecido como o “Senhor Tesouras”, terá um pequeno e atribulado reinado e Mattarella já não descarta novas eleições daqui a meia-dúzia de semanas, em Julho.

Com a crise política ao rubro, a Itália está a deixar a Alemanha e os eurocratas de Bruxelas mais que preocupados e muito mal-dispostos. Matteo Salvini, líder da Liga (soberanista e euro-céptica) responde-lhes à letra: “Não se pode formar governo em Itália, sem autorização de Berlim, Paris e Bruxelas”... Como vão os italianos responder a isto nas urnas, já em Julho ou lá para o Outono, eis a questão de muitos biliões de euros.

A Limes – Rivista Italiana di Geopolítica (que não é populista...) coloca a questão nos seus exactos termos geopolíticos: “Davvero subiamo i diktat di Berlino? 


Esperemos, então, pela resposta dos italianos.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Os Mistérios do 28 de Maio 1926

Não houve comemorações ontem. Ainda bem. Qualquer comemoração, de quem quer que fosse, seria um equívoco. A acrescentar a muitos outros ao longo de décadas fabricados. E de todas as suas peças montados. O “28 de Maio” é, de facto, a data mais mal conhecida de todo o século XX português (apesar de ser a de maiores referências, só ultrapassada pelo 25 de Abril) e a mais oculta em equívocos e outras narrativas “convenientes” (tanto de esquerda como de direita). É incrível como a Universidade portuguesa, em quatro décadas, não teve ainda tempo para ter sido capaz de “deslindar” este assunto...

Sob a presidência do Almirante Mendes Cabeçadas, reunião do Governo saído do golpe de 28 Maio 1926. O General Gomes da Costa está à direita de Cabeçadas e, de braços cruzados, em posição de expectativa, o General Carmona que, a 9 de Julho de 1926, assumiria a presidência até à sua morte em 1951.Salazar sentar-se-ia a esta mesa, pouco depois da reunião documentada na foto, a convite do Presidente Mendes Cabeçadas.

Há um aspecto fascinante neste golpe de Estado. Fascinante para a equipa de Intelnomics, esclareça-se. É que o “28 de Maio” é um golpe em que a guerra de informação desempenhou um papel decisivo e até talvez mais importante que o da própria tropa sublevada. Os “Correios” valeram por vários quartéis... Mas isto é matéria ainda a trabalhar e é cedo para aqui a explanar.

Há também um aspecto bizarro. O golpe está classificado de “fascista”. Ora, o triunvirato que o concebe e organiza é constituído por um (prestigiado mas isolado) general oriundo dos campos de batalha da Flandres e por dois altos quadros republicanos, dirigentes da Maçonaria (um general e o outro almirante) e com vasta experiência política e de governo. O isolado mas prestigiado general perde, numa curta meia-dúzia de semanas todo o seu prestígio e é exilado sob prisão militar para os Açores.

O bizarro da coisa reside no facto de ainda ninguém ter explicado como é que a Maçonaria (republicana até à medula...) faz um golpe “fascista”... Aliás, também nunca ninguém se lembrou de explicar como é que o almirante maçon (e, na altura, dirigente máximo do triunvirato militar) vai pessoalmente a Coimbra buscar um professor que ninguém conhecia, um tal Salazar (que se demitirá, pouco depois, solidário com o almirante, entretanto, caído em desgraça às mãos de outro membro do triunvirato, o general Gomes da Costa). Voltará ao governo, a 27 de abril de 1928, pela mão de outro maçon e último sobrevivente do triunvirato inicial, o general Óscar Carmona (não deixa de ser curioso e também bizarro que, no 25 de Abril, o máximo responsável operacional tenha escolhido Óscar para nome de código...).


28 de Maio de 1926 é uma data ainda à espera de ver os seus mistérios desvendados... E, consequentemente, todo o nosso século XX está "uma história muito mal contada".


Caso Maddie Volta no Verão

Caso Madeleine McCann, daqui a pouco, lá mais para o Verão, volta às manchetes com a revelação de mais umas histórias e situações surpreendentes... Vai uma aposta? 




segunda-feira, 28 de maio de 2018

Faceboobs... ou a diferença entre “notícias” (de ontem) e “inteligência” (do amanhã)

Nas vésperas do Natal passado, alertámos, aqui no Intelnomics, para a ‘espiolhagem’ de redes sociais e operadoras nos telemóveis dos utilizadores e a devassa das suas vidas íntimas, muito em especial de mamas e rabos. Jornais de hoje (28.05.2018) dão a notícia desta ‘espiolhagem’ pelo Facebook dos telemóveis dos utilizadores, com destaque para as tais fotos de nus femininos ou de senhoras meias-despidas. Meio ano depois e só porque uma empresa da Califórnia processou o Facebook nesta matéria.

A foto que ilustra o post do Intelnomics de 22 Dezembro 2017

Chegam, portanto, ao caso com longos meses de atraso e nem sequer se apercebem que a “coisa” é muito mais vasta que o Facebook.

Nas vésperas do Natal passado, alertámos, aqui no Intelnomics, as senhoras para terem cuidado com fotos de intimidades e banirem “as fotos femininas com muita pele à vista”.

Escrevemos, então, num post com o título Senhoras Nuas e iPhones Malandros, “Senhoras e meninas, atenção ao que fazem com o vosso iPhone...”

E, assim, se estabelece a diferença entre “notícias” (de ontem) e “inteligência” (do amanhã). Quantas senhoras e meninas teriam evitado pôr as mamocas e o rabo à disposição do Facebook (que neste caso melhor se chamaria de Faceboobs...) se tivessem lido (e entendido...) o que aqui se escreveu como alerta? Esperemos que as senhoras que nos lêem tenham ganho alguma coisinha...


ERDOGAN: O "CALIFADO" QUE SE SEGUE...

O sultão neo-otomano Erdogan (que liquidou a república kemalista perante a benigna passividade de Obamas e Merkels) é um louco perigoso mas é também um pândego.


Assim, nos últimos dias, ele manda dizer que “EE UU se comporta como un Estado canalla” e que ”Turkey will not make a choice between West and Russia” mas, depois, tal como um rapaz "bem comportado" faz com a tia velha e rica, manda… “Congratulations for the #Europe Day of May, 9”.

E quer que o deixem entrar para a União Europeia e o deixem permanecer na NATO (porque as “contrapartidas” lhe dão muito jeito...).



É caso para perguntar se está tudo doido (ele, já está visto, é um louco perigoso), mas na Europa e nos EUA também está tudo doido?!

Felizmente, a imprensa ocidental (algum tempo fascinada por esta sinistra figura) começa, finalmente, a perceber quem realmente é este tipo que se toma por um califa neo-otomano... E que promete revelar-se um problema muito mais grave e bicudo do que o outro "califado", o Daesh.


sexta-feira, 25 de maio de 2018

A Carta de Trump a Anular Cimeira com Kim

"Uma profunda falta de boa-fé" e uma agressiva alteração no discurso norte-coreano levaram Trump a anular a cimeira de Singapura com Kim Jong Un.

Na carta, Trump manifesta disponibilidade para retomar o diálogo quando Kim alterar o comportamento e lhe "escreva ou telefone".

Vladimir Putine foi o primeiro a manifestar-se sobre esta decisão. O líder russo "lamenta" este desfecho e "espera que o diálogo seja retomado" e que "a cimeira acabe por se realizar".

Pequim demora a reagir e durante horas tudo o que chega da "cidade proibida" é um pesado silêncio... 

A carta do Presidente Trump:


quinta-feira, 24 de maio de 2018

George Friedman sobre as insuperáveis contradições da Europa

É um vídeo curto (escassos minutos) mas muito esclarecedor. George Friedman a uma invulgar capacidade analítica junta um grande poder de síntese, como fica bem claro nesta breve entrevista em que escalpeliza a inviabilidade geopolítica da Europa, suas causas e consequências.

https://www.youtube.com/watch?v=Vf8Dc1qotAc


Peter Zeihan, um ex-colaborador de Friedman, tem trabalhado também o tema europeu e procurado as raízes geopolíticas das incoerências, incapacidades e vulnerabilidades europeias. Nos últimos anos, Zeihan (que conhece muito bem Portugal, desde os tempos que trabalhava com Friedman, um velho amante da zona de Sagres) tem apresentado pontos de vista que vale a pena conhecer e, sobretudo, aprofundar:




E, para encerrar, uma visão europeia, divulgada pelo "blog A Lupus un regard hagard sur l'écocomics et ses finances", que sintetiza com humor a actual conjuntura da "União Europeia".


terça-feira, 22 de maio de 2018

A Conquista do Espaço Económico no Mundo Contemporâneo, na "Capitale Intellettuale"

Três páginas sobre o trabalho do nosso amigo Giuseppe Gagliano, sobre a inovadora visão da globalização produzida pela École de Guerre Économique sob a direcção de Christian Harbulot, na edição de 'Capitale Intellettuale' que acaba de sair. Um enorme destaque para a obra de Gagliano "Sfide Geoeconomiche - La conquista dello spazio economico nel Mondo contemporaneo", num artigo assinado pelo Direttore della Scuola di Competizione Internazionale di Venezia e Direttore accademico dell’Istituto Italiano di Studi Strategici Niccolò Machiavelli di Roma, Arduino Paniccia.


Como, neste seu “Sfide geoeconomiche”, Gagliano bem explica: “A inizio anni '90, la caduta del muro di Berlino e la dissoluzione dell'URSS vennero celebrati da molti politologi come l'avvio di una nuova epoca di collaborazione internazionale. Il tempo ha purtroppo disatteso le aspettative ottimistiche di coloro che vedevano nel nuovo millennio un'era di pace: la fine della guerra fredda, lungi dall'aver portato alla fine dei conflitti, ne ha piuttosto sancito la riallocazione dalla sfera politica a quella economica. Il presente saggio, sulla base degli schemi analitici elaborati dagli studiosi raccolti attorno all'"École de guerre économique", fornisce una lettura circa l'attuale competizione fra gli Stati mettendo in luce soprattutto il ruolo che hanno oggi le strategie comunicative.”


segunda-feira, 21 de maio de 2018

Imagens do Amor e da Guerra na Grécia Clássica

No fundo dos “Kylix” (taças para beber) da Grécia clássica, pinturas que nos dão a imagem que os velhos gregos, de Sócrates e Platão, de Herodoto e Homero, de Pitágoras e Péricles, tinham do Amor e da Guerra – as duas constantes decisivas na produção histórica da humanidade, uma para garantir a reprodução e a outra para lhe assegurar os meios ou, como hoje se diz, o “bem estar”, isto é segurança+recursos económicos suficientes. Quem sabe se o Aristóteles não bebeu por uma das aqui representadas...









Física Teórica: O Tempo Não Existe, É uma Ilusão Humana

Time is really nothing but an illusion, according to quantum physics.

Cf. theoretical physicist Carlo Rovelli’s new book, The Order of Time


Apresentação da Penguin Books:

“The bestselling author of “Seven Brief Lessons on Physics takes us on an enchanting, consoling journey to discover the meaning of time

'We are time. We are this space, this clearing opened by the traces of memory inside the connections between our neurons. We are memory. We are nostalgia. We are longing for a future that will not come.'

Time is a mystery that does not cease to puzzle us. Philosophers, artists and poets have long explored its meaning while scientists have found that its structure is different from the simple intuition we have of it. From Boltzmann to quantum theory, from Einstein to loop quantum gravity, our understanding of time has been undergoing radical transformations. Time flows at a different speed in different places, the past and the future differ far less than we might think, and the very notion of the present evaporates in the vast universe.

With his extraordinary charm and sense of wonder, bringing together science, philosophy and art, Carlo Rovelli unravels this mystery. Enlightening and consoling, The Order of Time shows that to understand ourselves we need to reflect on time -- and to understand time we need to reflect on ourselves.

sábado, 19 de maio de 2018

Os 3 Superiores do Estado: Marcelo Ferro da Costa

A apresentação do manifesto pelo Interior valeu, sobretudo, por esta extraordinária foto porque, quanto ao resto, nada de novo tinha para apresentar...



História e Geopolítica: “As Grandes Correntes” de Jacques Pirenne

É, obviamente, uma obra datada. Mas continua, apesar disso, a ser de conhecimento imprescindível. A ideia desta monumental ‘opus’ surgiu a Pirenne quando, tendo abandonado a sua Bélgica, para escapar aos tanques alemães de Guderian, procurou refúgio em França (onde a universidade de Grenoble o acolheu) mas que teve rapidamente de abandonar (1941) depois de ter sido denunciado ao governo fantoche de Vichy como “anglófilo”. Foi, portanto, só na Suíça, segunda etapa do seu exílio (universidade de Geneve), que Pirenne pôde começar a concretizar o projecto que lhe viria a ocupar um largo número de anos da sua vida. As “grandes correntes” são um verdadeiro monumento de conhecimentos excepcionais, mas o que mais distingue a obra e a torna singular é a matriz de trabalho, que a organiza, criada por Pirenne e que, como ele dizia, “peut seule amener à la fois des conclusions sociologiques, scientifiques” e, digo eu, geopolíticas. É desta matriz que abaixo se deixa um "aperçu" ou, em moderno linguajar de marketing, um "teaser".


“Les grands courants de l'histoire universelle”, Jacques Pirenne

“Dans l’avant-propos de son dernier volume, M. Pirenne examine quelques unes des grandes évolutions historiques et arrive ä la conclusion que les processus d'évolution se presentent de façon semblable depuis les époques les plus lointaines jusqu'ä nos jours. II en déduit que, pas plus que celle des individus, la nature profonde des societés humaines n'a changé. (...)

A travers toutes les vicissitudes de l'histoire, l'auteur voit l'humanite divisée en deux types essentiels de civilisation: les pays maritimes sont individualistes et liberaux, les pays continentaux sont «sociaux» et autoritaires, mais ces conceptions se manifestent, sur le plan politique, par des institutions nouvelles. L'auteur les analyse clairement jusqu'ä nos jours.

L'evolution du monde, marquée ä l'epoque contemporaine par l’essor de la technique moderne, voit certes la notion de liberté, par exemple, s'adapter aujourd'hui à des necessités imposées par la concentration qui s'opère sur le plan technique, économique et politique.

Mais la difference demeure entre les civilisations fondées sur la valeur individuelle et celles qui n'envisagent l'individu que comme la partie d'un tout que represente la societé.


Quant a l'humanité tout entière, envisagée comme un seul groupe humain, elle évolue aussi selon un processus qu'il serait possible de suivre.

Ainsi donc, si l'auteur voit l'histoire marquée par quelques grandes evolutions qui la traversent tout entière, l’analyse de ces evolutions elles memes amene M. Pirenne à constater que la forme du progres intellectuel et economique se manifeste dans les institutions par un developpement toujours plus accentue du droit individualiste et de la conscience individuelle.

On sent que c'est lä la these essentielle que defend M. Pirenne. Elle est sousjacente à l’exposé des evenements et ressort frequemment dans les introductions et les conclusions propres a chaque tranche d'histoire etudiée.”

https://www.e-periodica.ch/cntmng?pid=szg-006:1957:7::828

sexta-feira, 18 de maio de 2018

quinta-feira, 17 de maio de 2018

O Que Nos Diz Merkel

Angela Merkel, tomando a ruptura por Trump do Iran Deal como pretexto, voltou a repetir o que tinha dito em Maio de 2017: "Está na hora da Europa tomar o seu destino em mãos..." Sim, mas que significa realmente isto?



Isto é o que ela disse explicitamente. Subjacente a isto e, portanto, implícito está algo mais, um algo ainda muito maior: "Está na hora de a Europa virar as costas aos EUA e entregar o seu destino nas mãos da Alemanha..."

Já senhora e imperadora da economia europeia, a Alemanha prepara-se para um novo "Sacro Império Germânico" (sim, fica mal falar de IV Reich...). Assim sendo, os próximos anos vão ser de rearmamento da Alemanha. Aliás, a campanha de comunicação para viabilizar esse rearmamento já começou há uns largos meses.

Quem está atento aos "sinais fracos" já detectou certamente um fluxo sucessivo de notícias, amplamente distribuídas por tudo quanto é media, a "explicar" o lamentável estado do material ao dispor dos bravos soldados alemães...

Ao mesmo tempo (desculpem lá este uso da expressão favorita do actual presidente de França, Emmanuel Micron), vai subir de tom a velha campanha alemã pela "desnuclearização" da França e da Inglaterra (as únicas potências nucleares da Europa).

Merkel não será um agente "undercover" de Putin, mas se o fosse não faria melhor trabalho para tornar a Europa um impotente "saco de gatos", agitado e descredibilizado mas, claro, em proveito próprio da Alemanha.

Ah, pois é, a maldição de Bismarck está novamente de volta e Putine (bom conhecedor da Alemanha, onde viveu e trabalhou muitos anos) prepara-se para brincar com essa sociopatia política alemã. Os tempos estão a ficar sombrios! Take care, cuidem-se.

Estes Iranianos São Muito Sérios... E Alguns Políticos Europeus Também!

“If Europeans stop trading with Iran and don’t put pressure on US then we will reveal which western politicians and how much money they had received during nuclear negotiations to make #IranDeal happen.”


Hassan Ghasghavi, the deputy Foreign Minister of Iran, 12th May, 2018



Nota final: Depois disto, só podemos dizer “Thanks, President Trump!


PS: Haverá alguma portuguesa ou português que se sinta "desconfortável" com esta promessa iraniana de "transparência"... Pergunta-se só por curiosidade, claro.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Relatório: Estado chinês atrás de uma década de “hacks” a alvos nos EUA, Europa e Rússia...

Burning Umbrella: An Intelligence Report on the Winnti Umbrella and Associated State-Sponsored Attackers

03 May 2018 in analysiswinntiLEADBARIUM Tom "Hollywood" Hegel 

The Winnti umbrella is associated with the Chinese state intelligence apparatus


Key Judgements

  • We assess with high confidence that the Winnti umbrella is associated with the Chinese state intelligence apparatus, with at least some elements located in the Xicheng District of Beijing.

  • A number of Chinese state intelligence operations from 2009 to 2018 that were previously unconnected publicly are in fact linked to the Winnti umbrella.

  • We assess with high confidence that multiple publicly reported threat actors operate with some shared goals and resources as part of the Chinese state intelligence apparatus.

  • Initial attack targets are commonly software and gaming organizations in United States, Japan, South Korea, and China. Later stage high profile targets tend to be politically motivated or high value technology organizations.

  • The Winnti umbrella continues to operate highly successfully in 2018. Their tactics, techniques, and procedures (TTPs) remain consistent, though they experiment with new tooling and attack methodologies often.

  • Operational security mistakes during attacks have allowed us to acquire metrics on the success of some Winnti umbrella spear phishing campaigns and identify attacker location with high confidence.

  • The theft of code signing certificates is a primary objective of the Winnti umbrella’s initial attacks, with potential secondary objectives based around financial gain.

Report Summary

The purpose of this report is to make public previously unreported links that exist between a number of Chinese state intelligence operations. These operations and the groups that perform them are all linked to the Winnti umbrella and operate under the Chinese state intelligence apparatus. Contained in this report are details about....

domingo, 13 de maio de 2018

Alain Juillet: “Perde Sempre Quem Não Tiver Inteligência Económica...”

Esta conversa com Alain Juillet tem já uns anitos mas,

porque parece manter-se bem actual, aqui a recuperamos.



Alain Juillet, figura de topo da Inteligência Económica, esteve em Lisboa para uma conferência da Business Intelligence Unit (da AICEP), dirigida por Joana Neves, mas antes falou connosco.




Intelnomics- É um homem da gestão de topo, dirigiu grandes empresas, e é também um homem de topo na Intelligence… Isso faz de si uma das únicas pessoas bem familiarizadas com ambos os mundos. Além disso, fez a síntese destes dois mundos quando foi alto responsável pela Inteligência Económica junto do primeiro-ministro. Foi também muito próximo de presidentes da República. Tudo isto o torna uma pessoa excepcional, com uma perspectiva única sobre o Mundo… Posso perguntar-lhe como o vê?

Alain Juillet - Eu penso que, depois de passada a crise financeira, vamos viver uma época de mudança muito importante, mudança do poder detido pelos europeus e pelos americanos para a Ásia. Eu julgo que há uma transformação do equilíbrio do mundo e que esta mudança de equilíbrio vai alterar, progressivamente, todas as regras do jogo. E isto será muito importante.

Não quero dizer que os europeus já perderam, quero dizer que é preciso saber o que fazer com a mudança, senão perdemos mesmo. Isto para mim é o fundamental na visão do mundo actual.

Em segundo lugar, temos o problema financeiro ocidental, onde percebemos que a Finança considera estar acima das leis nacionais para praticar uma política internacional que não é do interesse dos estados. E isto coloca uma grande questão de fundo, porque, se os financeiros não jogam segundo regras definidas, teremos um grande problema no futuro.

Neste mundo hiper-competitivo que é o nosso, considera possível a afirmação, ou mesmo a sobrevivência, de um estado ou de uma empresa que não se dote de capacidades de Inteligência Económica?


Eu julgo que cada vez mais será difícil para as empresas ou os estados que não utilizam a Inteligência Económica dar resposta aos problemas que encontram. Estou seguro disto porque o mundo está a tornar-se cada vez mais competitivo, os concorrentes estão muito melhores e, portanto, se quisermos ganhar ou manter vantagem sobre a concorrência, é preciso ter boas informações para poder antecipar o que se vai passar e fazer-lhes face.


“É preciso saber o que fazer com a mudança, senão perdemos mesmo. Isto para mim é o fundamental na visão do mundo actual”

Por isso, sim, eu creio que, hoje, se uma empresa e um estado não tiverem boas informações sobre a situação económica dos seus concorrentes e do mundo ficam numa situação cada vez mais difícil.

Ou seja, terão problemas para se afirmar ou sobreviver…


Exactamente, é isso. É necessário afirmar-se, porque aquele que não é combativo, no mundo actual, perde e é o mais combativo que ganha. É necessário também que seja capaz de resistir face à concorrência e aí também é preciso ter os meios para se bater. E o primeiro meio para se bater, no caso dos homens, são os elementos de informação que permitem tomar a boa decisão.



O que une Inovação, Competitividade e Inteligência Económica?

Para mim, a Inovação é a capacidade de criar novos produtos, novos serviços e novas actividades que são realmente diferentes das que já existem. Ou seja, que geram uma ruptura. Porque, hoje, vivemos num mundo onde se “inova” através da declinação de produtos, serviços e actividades, com melhorias graduais. Mas o mais difícil é ter uma verdadeira ruptura, uma verdadeira inovação. Se nós queremos fazer face à concorrência e formos capazes de inovar, criamos uma vantagem concorrencial em relação aos outros. Se criamos algo totalmente novo, os outros vão tentar ver como o podem copiar e perdem tempo, o que nos dá vantagem.

A Competitividade é outra coisa, é a capacidade de uma empresa ou estado encontrar nos recursos humanos, materiais, etc., os meios para competir de igual para igual com os concorrentes. Nós não podemos ser bons em tudo, é impossível, mas, pelo menos, é necessário que, em certos domínios, sejamos verdadeiramente melhores que os outros, ou seja, competitivos.

Eu penso que os americanos definiram bem o que denominam por Inteligência Competitiva, quando dizem que o que conta são os concorrentes e não o mercado. Se nós conhecermos os concorrentes, conhecemos as falhas, as qualidades, sabemos onde somos melhores que eles e onde podemos ser competitivos.

“A guerra económica é (…) a utilização de todos os meios da Inteligência Económica, mas também da capacidade das empresas e também, a nível dos estados, do sistema legal, ou seja, tudo o que pode servir, no quadro da actividade económica, para destruir uma empresa ou uma actividade feita pelo outro. E acontece muito e cada vez mais entre estados.”

E eu penso que isto é verdade, mas entendo que a Competitividade não nos faz forçosamente ganhar. Se do outro lado tivermos alguém que inova, podemos ser competitivos, mas perdemos… É necessário ter as duas coisas: ser competitivo e inovador.

E para ser inovador é preciso praticar a Inteligência Económica, porque é necessário ter muita informação para compreender o que se passa, e para ser competitivo também a Inteligência Económica é necessária para saber o que fazem os concorrentes, como se comporta o mercado. Para ser melhor, na Inovação e na Competitividade, é preciso Inteligência Económica. É mesmo indispensável.

O senhor tem uma perspectiva única sobre as ONG…

Temos hoje, no mundo actual, um problema de comunicação em todos os domínios. Porque a Imprensa, a Rádio, a Televisão, a Internet passam inúmeras informações e cada um procura comunicar através de todos estes meios. A comunicação tradicional funciona cada vez menos. Ou seja, se antes bastava dizer que esta garrafa de água é a melhor garrafa de água e isso vendia, hoje isto já não é suficiente. Hoje, é preciso explicar porque se deve comprar e as agências de comunicação sabem muito bem como fazê-lo.

Mas, desde há alguns anos, noto que temos um meio de chegar às pessoas que é mais eficaz que a tradicional comunicação publicitária: a influência… Ou seja, chegar às pessoas jogando sobre o campo emocional, para as seduzir. É outra forma de comunicação, através da qual enviamos mensagens que agem sobre o coração e não sobre a razão, para estabelecer uma ligação emocional e fazer as pessoas agir.

Constato que as empresas e os estados já compreenderam muito bem isto e questionaram-se sobre quais são as organizações que no mundo são hoje capazes de enviar essa mensagens e tocar as pessoas. E aperceberam-se que as melhores são as ONG. Porque as ONG são criadas por pessoas com fortes convicções e que defendem, através dessas organizações, as suas ideias. Ao olharem para as ONG, os estados e empresas questionaram-se sobre o porquê de não utilizar a mesma abordagem para fazer passar os seus produtos ou as suas ideias.

E o que vejo hoje é que cada vez mais as ONG no mundo (70 por cento) são organizações controladas pelos estados ou por empresas. E há poucas ONG (30 por cento) realmente claras. Eu respeito muito as ONG, mas há muitas que defendem ideias que não creio serem do interesse geral.

“Cada vez mais será difícil para as empresas ou os estados que não utilizam a Inteligência Económica dar resposta aos problemas que encontram.”

Podemos ver o caso do Brasil, onde há uma aposta no álcool de cana-de-açúcar como combustível, há uma campanha internacional para dizer que a produção de combustível de cana-de-açúcar do país é demasiado grande, que há exploração de mão-de-obra, que há poluição, nomeadamente em São Paulo… Mas, quando analisamos a realidade, isto não é verdade. Há um pouco de verdade, mas grande parte dos argumentos são falsos. E porquê? Porque estamos perante uma manipulação feita por pessoas que não querem que os brasileiros vendam álcool de cana-de-açúcar por rivalizarem com outros produtos… É claro.

Creio que todos nós devemos estar atentos para percebermos que há boas ONG, com ideias verdadeiras, mas não sermos vítimas de outras ONG controladas pelos estados ou por empresas.

A propósito da cana-de-açúcar do Brasil, o desenvolvimento sustentável é também um assunto que lhe interessa muito…

Sobre o desenvolvimento sustentável tenho uma teoria muito pessoal. Creio que há um legítimo interesse em chamar a atenção para os riscos do planeta, porque é preciso pensar nas gerações futuras e que cada pessoa tome consciência disso. Mas, tal como referi para as ONG, não podemos ser vítimas de um discurso catastrófico de que o planeta está em risco de morte breve, porque ainda me lembro do relatório do Clube da Europa que nos anunciava que no ano 2000 seria o apocalipse, por falta de uma série de recursos, de petróleo, etc. Mas já passámos o ano 2000 e até não vivemos mal e ainda há petróleo. É preciso estar atento às questões do desenvolvimento sustentável, mas não se pode ir demasiado longe.

Para mim, o importante é a dúvida, é preciso duvidar. Dou-lhe um exemplo: a Gronelândia [Greenland] tem um nome que significa país verde. Se lá formos hoje não é verdade que seja um país verde, mas há mil anos toda a parte sul da Gronelândia era uma gigantesca pastagem, onde se vivia muitíssimo bem. Hoje, dizem-nos que o degelo da Gronelândia vai provocar um cenário catastrófico em todo o globo, mas atenção que há mil anos o país era verde, não havia gelo, e no resto do mundo não tínhamos inundações. Eu não digo que não estamos a assistir a uma degradação, mas não podemos ir demasiado longe.

Como tenho uma formação em Inteligência Económica, pergunto: porque é que as pessoas vão demasiado longe? É verdade que há pessoas que estão honestamente convencidas que a situação é má, mas há situações menos claras a correr em pano de fundo. Por exemplo, em relação à concorrência dos países emergentes, para fazer face à supressão das barreiras aduaneiras, há a ideia de alguns estados se servirem da poluição praticada por todos para dizer que vão implementar medidas de protecção ambiental dispendiosas. Mas como os outros não têm possibilidade de fazer o mesmo, vão ser aplicadas taxas nas importações. Ou seja, cria-se uma barreira aduaneira indirecta, usando o desenvolvimento sustentável como justificação. Por isso, quando falo de desenvolvimento sustentável digo que sim, é preciso preocuparmo-nos com o planeta, mas não podemos exagerar e temos de duvidar.

Mas o aceleramento dessa pressão já valeu um prémio Nobel…


Sim, é verdade, mas vivemos num sistema onde o negativismo é muito importante. Em França, há um ano, toda a gente falava de desenvolvimento sustentável, mas hoje, depois do desastre (pelo menos parcial) da Cimeira de Copenhaga, as pessoas não falam do desenvolvimento sustentável. Houve, a meu entender, uma mediatização e manipulação da informação, porque se assim não fosse toda a gente continuaria a falar disso. Com a Inteligência Económica aprende-se a duvidar e com a dúvida aprende-se a medir.

“Guerra económica” e “guerra de informação”, duas expressões sempre presentes no discurso de Inteligência Económica. Pode explicar-nos cada um destes conceitos?

Estamos a falar de duas coisas muito diferentes. A guerra da informação traduz-se, por exemplo, nas campanhas de comunicação, não de informação mas de desinformação, feitas para desestabilizar um mercado, um concorrente ou um consumidor que compra um produto concorrente. Para mim, é o combate permanente entre os que informam e os que desinformam. A desinformação tem por objectivo neutralizar ou atingir o outro no plano das ideias. Do outro lado, a informação age de um modo mais objectivo. A partir do momento em que há alguém que informa e alguém que desinforma temos uma guerra de informação que só termina com a vitória de um. A palavra guerra pode parecer muito forte, mas a verdade é que estes confrontos têm, muitas vezes, consequências terríveis.

“A palavra guerra [na “guerra de informação”] pode parecer muito forte, mas a verdade é que estes confrontos têm consequências terríveis. E, se o atacado é uma pessoa, pouco pode fazer para se defender e quando se souber a verdade… é tarde!”

Quando se faz um ataque pessoal, através de rumores, estamos perante uma verdadeira guerra, porque a pessoa pode ser destruída. E, em geral, pouco pode fazer para se defender… E depois, quando se acaba por saber a verdade, já é tarde.

E sobre a “guerra económica”...
A guerra económica é, para mim, outra coisa. É a guerra total, é a utilização de todos os meios da Inteligência Económica, mas também da capacidade das empresas e também, a nível dos estados, do sistema legal, ou seja, tudo o que pode servir, no quadro da actividade económica, para destruir uma empresa ou uma actividade feita pelo outro. E acontece muito e cada vez mais entre estados.

Vemos, em todo o mundo, que esta é uma situação corrente. Actualmente, vemos certos actores financeiros, como os edge-funds (que têm uma técnica bem conhecida que consiste em desestabilizar as empresas onde querem entrar para provocar a queda das acções), fazer depois a recuperação e vender com lucro. Quando vamos mais longe nesta análise, temos, por exemplo, edge-funds e bancos que decidem atacar, através da Grécia, o Euro e, se o fizerem cair, tudo é afectado. E isto é guerra económica. É uma situação muito grave, porque todo o sistema económico europeu está em risco e, se este for afectado, ficamos vulneráveis em relação a todas as outras partes do mundo.

Todo o projecto europeu pode ser posto em causa…

Exactamente. Por isso mesmo digo que esta é uma situação de guerra económica. E, neste momento, a seriedade do assunto está a criar na Europa a vontade de impor regras para evitar que isso suceda. Como nas guerras convencionais, temos de respeitar a Convenção de Genebra, é necessário que, no campo económico, a guerra se faça num quadro de regras.

Hoje, o Estado moderno depara-se com um paradoxo: a tendência para exigirem dele coisas para as quais são necessários meios que lhe são retirados…

Sim, mas julgo que depende dos países. Penso que, na Europa, estamos habituados, há muito, a exigir ao Estado muitas coisas, sobretudo no sul da Europa. Mas, mesmo na Europa do norte, pede-se muito ao Estado. Nós pedimos hoje muito, mas, ao mesmo tempo, o dinheiro não é muito e estamos a aproximar-nos muito rapidamente de um grave problema, com as pessoas a estarem descontentes 

com a situação económica e os estados, apesar da falta de meios para fazer mais, não podem dizer que não dão, pois seria a revolução.

“A inteligência económica é justamente esta capacidade de ir para lá do que dizem os políticos ou os sindicatos e ver os factos.”

Estamos, pois, numa situação de bloqueio e de conflito permanente que outros países evitaram, pois do Estado não exigem tanto. Quando só agora vemos, nos Estados Unidos, o presidente Obama a tentar colocar em prática um sistema de apoio social, é porque lá a ideia é que cada um tem de fazer por si, trata-se de uma lógica e uma cultura diferentes.

Mas, em relação a este paradoxo de que falamos, que contributo pode dar a Inteligência Económica para o resolver?

Julgo que há coisas que se podem fazer. As populações estão cada vez mais instruídas, do ponto de vista intelectual, e, por isso, chegamos a um ponto em que é necessário dar mais explicações. E os políticos não podem explicar porque não acreditamos… E do lado dos que pedem, como os sindicatos, não há interesse em discutir, dizem apenas que querem algo. E precisamos, por isso, de encontrar intermediários do estado e da sociedade em geral para fazer passar as informações o mais reais possível sobre a verdade. E as pessoas descobrem o que se passa.

“A Inteligência Económica é a base de toda a estratégia. (…) toda a acção deve começar pela recolha de Intelligence. Sem a boa informação, sem a Intelligence, nada se pode fazer. E se os outros a têm então perdemos.”

Em França, por exemplo, quando se diz que o défice é enorme, as pessoas não percebem o que isso significa. Veja-se a luta dos sindicatos em relação à idade de reforma, que insistem manter nos 60 anos. O estado diz ser necessário aumentar e os partidos políticos dizem sim, não, um pouco. E há algo que constato estar em vias de mudar completamente esta situação. A televisão anuncia aos franceses que a Inglaterra está em vias de passar a idade de reforma para 65 anos, os alemães para 67 e que os espanhóis manifestam-se… Ou seja, vê-se que todos os países da Europa estão a passar a 65 anos, ou mais, a idade da reforma. E, em França, os sindicatos e partidos políticos querem ficar nos 60… Isto não é sério, há um problema e é preciso ter a coragem de explicar claramente a situação. Veja-se a tabela, vejam-se os países europeus e note-se que a França tem a idade de reforma mais baixa. O que podemos fazer?

Se queremos manter a actual situação temos de baixar o valor das reformas ou aumentar os impostos. E, se isto for explicado, talvez as pessoas entendam que o aumento da idade de reforma até não é mau. Esta capacidade de olhar cruamente para os números e para a realidade é Inteligência Económica. Porque a Inteligência Económica é justamente esta capacidade de ir para lá do que dizem os políticos e os sindicatos e ver os factos. Cada um pode ter a sua ideologia, mas é necessário que sobressaiam os factos, a informação real e não as considerações subjectivas sobre esses factos.

Isso lembra-me um autor português do século XVII que penso ter sido o primeiro a usar a expressão “ter a inteligência das coisas”…

Sim, e di-lo com toda a razão, é necessário ter a inteligência da situação e é, sobretudo, necessário ter dúvidas em permanência. A Inteligência Económica aplica-se a inúmeros domínios diferentes, a sua metodologia encontra-se no desporto, no turismo, na cultura, porque, na realidade, para lá da técnica, a Inteligência Económica é um estado de espírito, uma procura permanente de intelligence, para, a cada momento, sabermos dar resposta à questão sobre qual o caminho a seguir. 


A Inteligência Económica é a base de toda a estratégia. É indiscutível que, como diz Sun Tzu, toda a acção deve começar pela recolha de Intelligence. Sem a boa informação, sem a Intelligence, nada se pode fazer. E se os outros a têm então perdemos.

Lembro-me do filme “Os Sete Samurais”, onde, numa cena, dois samurais se vão confrontar. Estão parados em frente um do outro e, a dado momento, um diz: “eu perdi”. E não é porque o outro é mais forte, é porque ele vê que o outro está de costas para o Sol, enquanto ele está de frente e isso vai afectar-lhe a visibilidade… É isto a Intelligence, a inteligência da situação…

sábado, 12 de maio de 2018

Turquia: A Fragilidade do País e a Força de Erdogan

A ascensão em potência da Turquia, desde a chegada ao poder do islamista AKP, o partido construído por Erdogan, criou grandes expectativas e outras falsas esperanças. O que até já foi chamado de “milagre turco”, parece ter ofuscado os analistas de folhas de excel e mesmo obnubilado quem vê mais do que tais folhas. A Turquia de Erdogan, com a sua ditadorial política interna, o seu errático posicionamento externo, o seu “milagre económico” (adorado por todo o universo neo-liberal), a imposição das práticas islamistas, a caça aos republicanos kemalistas, aos intelectuais e outros laicos e até a islamistas não aderentes ao AKP, a sua corrupção desenfreada e a loucura de imperiais ambições neo-otomanas, tornou-se um... mistério. Todos os dias os media falam da Turquia mas não se sabe o que é aquilo de que falam. Daí a importância desta análise de Selim Sazak, publicada na WPR, e que pela sua importância, para sabermos do que se fala quando se fala da Turquia, aqui se regista.


Why Erdogan Is Insulated From Turkey’s Economic Woes

Selim Sazak Wednesday, May 9, 2018

The halcyon days of the Turkish miracle are gone.But what is untenable for Turkey is not necessarily the same for Erdogan.

Turkish President Recep Tayyip Erdogan greets members of his ruling Justice and Development Party, during its weekly meeting in Ankara, May 8, 2018 (Presidency Press Service photo by Kayhan Ozer via AP).


For much of the past 15 years, Turkey had been one of the world’s fastest-growing economies. The “Turkish miracle” earned plaudits from the global financial elite, drew billions of dollars of investment into the country, and helped the political fortunes of its powerful Islamist leader, the prime minister-turned-president, Recep Tayyip Erdogan, who is noweyeing even more authority in snap elections next month. 


But those halcyon days of the Turkish miracle are gone. Over the past year alone, the Turkish lira has lost over 10 percent of its value against the dollar, and this week Turkey’s credit rating was lowered further into “junk” status over inflation fears. While several international factors—weak economic growth in the eurozone, the readjustment of U.S. monetary policy since the financial crisis, and the wars in Iraq and Syria—have dimmed Turkey’s economic luster, many of Turkey’s problems are its own doing. Erdogan’s increasingly strongman-style rule, along with rampant corruption, the erosion of the rule of law and worsening security, are all adding to the country’s economic troubles.

But what is untenable for Turkey is not necessarily the same for Erdogan. The economic system he built is set up so that Turkey’s loss is his gain. As long as he can keep that system running, which is easier than many think, Erdogan can weather these economic woes.

Much of the early economic success credited to Erdogan, who came to power initially as prime minister in 2003, actually belonged to Kemal Dervis, a longtime World Bank economist and former United Nations development chief who became Turkey’s economic minister in 2001 and helped pull the country out of its worst economic crisis. Dervis rolled out an ambitious program of austerity and reforms, securing billions in loans from the World Bank and the International Monetary Fund. He privatized state assets, slashed budget deficits, toughened banking regulations and abolished foreign exchange controls. A year into his tenure, however, the political weight of his reforms sunk the government that hired him. After winning elections in 2002, Erdogan’s Justice and Development Party, or AKP, took over.

Instead of following the playbook of his mentor, Necmettin Erbakan, whose economic policies were a combination of populism, protectionism and interventionism, Erdogan continued Dervis’ reform agenda to a tee. The credit for this smooth transition was due to a small but influential circle of technocrats around Erdogan in his early years as prime minister, like former President Abdullah Gul, who initially served as foreign minister and deputy prime minister, and Ali Babacan, the country’s economic czar for over a decade. Most of these technocrats were economists by training who had studied or worked abroad. They were firmly committed to the orthodoxies of liberal economic thinking.

Erdogan has constructed an economic system that turns Turkey’s loss into his gain.


Yet Erdogan steadily pushed them all aside, freeing his hand to shape economic policies to suit him. The new system he created drew on his mentor’s populist playbook but with a twist: take from your political foes and give to your friends.

The basis of Erdoganomics is unfairly burdening the urban middle class, which generally does not support Erdogan, through absurdly weighted taxation. Though always unfair, Turkey’s tax system has reached new heights under Erdogan. Two-thirds of Turkey’s public revenues are raised through indirect taxes. The 18-percent value-added tax and the special consumption tax—levied on petroleum products, automobiles, tobacco, alcohol and other luxury goods like smartphones—together contribute over half of all tax income.

While the special consumption tax reads like a tax on the rich, its burden falls mostly on Turkey’s middle class. Sixty-six percent of what motorists pay for diesel goes to taxes, but there is no tax on fuel for private jets and luxury yachts. More than half of the price of a smartphone goes to taxes, but diamonds and gemstones are tax-exempt. The special consumption tax alone makes up 40 to 60 percent of the list price of a car in Turkey, not to mention a half-dozen other taxes. The same holds true of services like cellular and broadband. Erdogan’s AKP-led government also uses taxes to advance its conservative, Islamist agenda: 73 percent on a bottle of raki, 68 percent on a can of beer and 65 percent on a pack of cigarettes. From early 2003, when Erdogan came to power, to October 2017, prices of raki have jumped by 665 percent and beer prices by 580 percent.

While Turkey’s middle-class consumers pay taxes with every card swipe, phone call and gas refill, corporations in Turkey enjoy hundreds of exemptions and loopholes. The law allows them to deduct almost every expense from their tax bill. Even then, many choose to evade taxes until the government passes a “tax amnesty,” as it does every few years, and then the companies get a write-off. Official data from the Turkish Revenue Administration shows that large corporations signed 538 tax settlements from 2013 to 2017, paying only 855 million out of 4.83 billion liras in taxes, or just 17 percent, and 41 million out of 3.1 billion liras in fines, or just 1 percent. Under Erdogan, inequality has skyrocketed. The country’s richest one-fifth hold almost half of its entire wealth, while its poorest one-fifth account for less than 5 percent of all wealth.

Meanwhile, Erdogan has used the state’s coffers to pay for the extravagant and expressly neo-Ottoman political and development projects designed to boost his legitimacy and please his base. Over the past decade, Erdogan cronies have substantially expanded their fortunes through public works contracts, privatization tenders, energy licenses, mining permits and media takeovers. From Istanbul’s gargantuan new airport to the Eurasia Tunnel underneath the Bosphorus, megaprojects under Erdogan have always involved a politically connected conglomerate like Cengiz, Kolin and Limak, often in sweetheart deals. When the state privatized the tobacco and alcohol monopoly in 2004, for example, a consortium led by Limak acquired it for just $292 million. Two years later, the consortium sold it to a private equity firm for $810 million, which re-sold it five years later for $2.1 billion.

As taxpayers fund cronies, the cronies fund the parallel welfare state that Erdogan has built for his voters through donations to his party, AKP-controlled municipalities and politically connected foundations. Some 15.5 million Turks, out of a population approaching 80 million, receive government assistance that exceeded $10 billion in 2017. Excluded from this figure are city-funded public programs that, in Istanbul for example, include billions every year on food stamps, neighborhood clinics, after-school programs and jobs training. Political loyalty is rewarded with such preferential treatment that Erdogan-friendly mayors don’t even bother hiding it. Earlier this month, Istanbul’s mayor boasted that neighborhoods that vote for Erdogan and the AKP in next month’s elections would be first in line for subway extensions.

Parallel to this welfare state are over 300 charities indirectly controlled by political interests loyal to Erdogan. All these charities have coveted tax-exempt status that requires Cabinet approval. Most of them are funded through corporate sponsorships, handouts from city governments and contracts awarded by ministries.


Their boards include a who’s-who of Erdogan allies and associates. Every member of the Erdogan family also has his or her own charity, a pet project used to curry support with voters and advance the AKP’s Islamist agenda, through religious education and other programs. These foundations have also been mired in scandal.

If, as the sociologist Rudolf Goldscheid put it, “the budget is the skeleton of the state stripped of all misleading ideologies,” focusing solely on Erdogan’s political fortunes and posturing loses sight of the economic edifice he has built to keep himself in power. A sinking economy or volatile market may not stop Erdogan, no matter how high prices rise or how low the lira falls.

Selim Sazak is a doctoral candidate in international relations at Brown University. He is also a nonresident fellow at the Delma Institute, an Abu Dhabi-based think tank. Previously, he was an adjunct fellow at the Century Foundation in New York.

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