O presidente italiano Mattarella fez capotar o “governo populista” em formação e, para “tranquilizar os mercados”, nomeou o tecnocrata Carlo Cottarelli, homem do FMI e dos financistas, como primeiro-ministro. Os “mercados” não se comoveram e infligiram uma terrível correcção a Mattarella.
As acções do presidente e as palavras de Cottarelli visaram imediatamente “tranquilizar os mercados”. Não se lembraram de perguntar quem tranquilizava os italianos que tinham votado massivamente no “populismo”. Resultado: perdem nos dois tabuleiros: não tranquilizam os "mercados" e enervam ainda mais os italianos.
Mattarella, já chamado “a múmia que diz não”, um velho aparatchik da velha Democracia Cristã, viu o seu golpe de Estado palaciano ser coroado por uma muito substancial subida do custo da dívida italiana.
Os seus queridos “mercados” trairam-no. Como diz o porta-voz britânico desses “mercados”, o Economist, “He was wrong. The yield gap between Italian and German government bonds has soared to more than 300 basis points”.
Assim, tudo indica que Cottarelli já não governará até ao fim do ano (quando o presidente previa convocar de novo eleições) e não apresentará um orçamento de Estado à medida dos “mercados”.
Cottarelli, conhecido como o “Senhor Tesouras”, terá um pequeno e atribulado reinado e Mattarella já não descarta novas eleições daqui a meia-dúzia de semanas, em Julho.
Com a crise política ao rubro, a Itália está a deixar a Alemanha e os eurocratas de Bruxelas mais que preocupados e muito mal-dispostos. Matteo Salvini, líder da Liga (soberanista e euro-céptica) responde-lhes à letra: “Não se pode formar governo em Itália, sem autorização de Berlim, Paris e Bruxelas”... Como vão os italianos responder a isto nas urnas, já em Julho ou lá para o Outono, eis a questão de muitos biliões de euros.
A Limes – Rivista Italiana di Geopolítica (que não é populista...) coloca a questão nos seus exactos termos geopolíticos: “Davvero subiamo i diktat di Berlino?”
Esperemos, então, pela resposta dos italianos.