quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Das relações tóxicas de "i hate myself" às relações de poder do "triangle of sadness"

i hate myself

Evoluções no cinema. Evoluções dos tempos. O "i hate myself", de Joanna Arnow, data de 2012, enquanto o "triangle of sadness", de Ruben Östlund, deve estrear no próximo Outubro. Uma década separa estes dois filmes. Descubram as diferenças, digo, as evoluções... E tentem perceber como isto aconteceu.

triangle of sadness

O humor (subtil, muito subtil, mas bem presente nos diálogos do "triangle of sadness") é um dos aspectos mais visíveis dessas evoluções. A conversa entre duas das personagens, sendo que uma defende uma narrativa "tipo Reagan" e a outra tem um discurso vagamente marxizante, é uma pequena jóia. A relação de poder entre "dinheiro" e "beleza" é outra jóia... Tal como o é a importância de saber pescar. Uma importância que acabará por colocar tudo de pernas para o ar. E mais não digo.

Apenas diria, em síntese e para poder citar um clássico, que temos razões para não desesperar. Se o humor ainda existe (ou está de volta...), nem tudo está perdido. Portanto, sejamos optimistas, estejamos preparados para o pior. E tudo se passará bem. Com umas pitadas de humor.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

China: Xi reaparece (depois dos rumores de "golpe de Estado")

Bill Bishop, no Sinocism, dá hoje o "como" e o "quadro" deste reaparecimento do imperador vermelho.

  • Xi reappears - Xi led the Standing Committee, the rest of the Politburo, and many other top leaders on a visit to the “Forging Ahead in the New Era“ exhibition in Beijing, “an exhibition on the great achievements of the Party and the country over the past decade”. At a speech for the opening of the exhibition Wang Huning said “The fundamental reason why historic achievements and historic shifts have been made in the cause of the Party and the country is the helmsmanship and leadership of General Secretary Xi Jinping and the sound guidance of Xi Jinping Thought on Socialism with Chinese Characteristics for a New Era 新时代之所以发生伟大变革,根本在于习近平总书记掌舵领航,在于习近平新时代中国特色社会主义思想科学指引”.

  • Pre-Party Congress propaganda - More on the “Revitalization Library” and another argument for needing Xi to stay in charge.

  • More tax and fee relief - This week’s State Council Executive meeting again focuses on fee and tax relief, with deepening concerns about unemployment as the backdrop.

  • World Bank cuts 2022 GDP projections - The World Bank now forecasts that the PRC’s 2022 GDP growth will grow at 2.8%, barely half the rate of the rest of the Asia-Pacific region. The PRC leadership really set themselves up for disappointment by setting a GDP 5.5% “guidance” at the NPC in March, wish I understand the political logic of setting a target that just about everyone assumed was too high, even before the Shanghai lockdown disaster.

  • Local governments selling land to themselves? - Caixin on the growing trend of local governments desperate for revenue using their local government financing vehicles to buy land from the local governments, funded by bank loans. That does not sound either sustainable or like deleveraging?

  • Patriotic films for the October Holiday - One that it is a Top Gun-like story and another that is about bringing trapped PRC nationals home from a conflict zone.

  • Meta says stopped PRC campaign to influence US election - The campaign sounds small and poorly executed, but is a bad sign. If there are similar efforts on TikTok or Wechat, will we get reports on the activities from Bytedance or Tencent?

  • Ding Jaixi - A long and disturbing look by Reuters at the crackdown on lawyers through the case of Ding Jiaxi.

  • https://sinocism.com/p/xi-reappears-more-tax-and-fee-relief

  • terça-feira, 27 de setembro de 2022

    Conflito na Ucrânia: Guerra Híbrida, Guerra de Informação e Dezinformatsiya

    A guerra da Ucrânia não é uma "operação militar" ("especial" ou não), é uma guerra que se desenvolve, ao mesmo tempo, em vários tabuleiros e em que o "militar" pode nem ser (ou vir a ser) o mais importante, mas apenas o que serve para desencadear outras acções e outras dinâmicas que poderão tornar-se as decisivas, ou seja, uma espécie de detonador.


    É, portanto, uma "hybrid war", como o  povo, as criancinhas e os políticos mainstream já começam a ver. Uma guerra híbrida que, como os manuais russos das últimas três décadas a concebem e definem, se desenrola, em simultâneo, nos tabuleiros da política, da informação, da economia e do militar, utilizando uma larga palete de técnicas e de metodologias para confundir, desnortear e desorientar o inimigo (mais do que para o vencer no campo militar). Uma guerra em que nada é proibido e tudo é permitido, tal como na versão chinesa, chamada de "Unrestricted Warfare"  (ver aqui: https://www.c4i.org/unrestricted.pdf).

    A guerra de informação aqui desempenha um papel fundamental ao permitir moldar as mentes e os corações das populações do inimigo. A escola russa de guerra de informação sempre adoptou uma posição de "fraco" a enfrentar o "forte", sempre deu a primazia aos "conteúdos" e não, como a americana o faz, aos "continentes" e, desde há quase um século, desenvolveu como uma das  suas armas principais o que Estaline cunhou como "dezinformatsiya"... Caso exemplar e recentíssimo desta guerra de informação e da sua "dezinformatsiya" é o referido na foto acima. 

    segunda-feira, 26 de setembro de 2022

    China: Rumores de 'Golpe' parecem não ter fundamento

    Há escassas horas, uma das "fontes bem informadas" do IntelNomics, em Pequim, relativizava os "rumores" de "golpe" e fazia-nos o ponto da situação: 

    "The rumor was originally hyped by an account with a track record of making bogus claims, and in the frenzied amplification no one has presented any credible sourcing or evidence, just lots of wishful thinking.

    "Today Xinhua announced the full delegate list for the 20th Party Congress and the statement about the selection, also read out on the Sunday CCTV Evening News, opens with the line “Under the strong leadership of the Party Central Committee with Comrade Xi Jinping as the core”...

    Xinhua, comunicado do dia 25 09 2022

    terça-feira, 6 de setembro de 2022

    Bases de um ''SoftPower'' de Portugal

    Portugal não tem sabido gerir os seus recursos, tanto os materiais como os imateriais, nos últimos dois séculos. Tem mesmo conseguido a espantosa proeza de ignorar a existência de alguns dos seus principais recursos... No campo do imaterial (e do que agora se convencionou chamar "soft power") as "proezas" da ignorância portuguesa batem todos os records. Veja-se o ranking abaixo e pense-se um pouco no assunto, na sua fabulosa riqueza e no que com isso poderá ser feito.


    segunda-feira, 5 de setembro de 2022

    Tempos de Guerra pela Hegemonia Global

     José Mateus

    A potência marítima enfrenta, desde o início do século XXI, os mais sérios e perigosos desafios colocados, desde a II Guerra, pelos "chalengers" continentalistas. 

    Este tempo é, portanto, como há anos venho a escrever, de decisiva disputa por uma nova hegemonia global e, consequentemente, por um novo modelo global.

    Há anos, logo no início da passada década, chamei a atenção para a necessidade de bem ler o então ideólogo-mor de Vladimir Putin, em cujo sub-texto era possível descortinar já tudo o que veio a desenvolver-se e a que agora se chama "crise ucraniana". 

    Infelizmente, às "elites" políticas ocidentais, enredadas em assuntos mais prementes, faltou o tempo para dedicar à leitura da "ficção política" de Vladislav Surkov. Falta de tempo que hoje pagamos caro, demasiado caro, incomportávelmente caro. Um preço que ninguém via desde a II Guerra.



    Hoje, se Surkov continua a ser de leitura obrigatória, é absolutamente necessário, imprescindível mesmo, que as "elites" políticas ocidentais (ou, pelo menos, aqueles que são os cérebros dessas "elites"...) travem conhecimento com o ideólogo-mor de Xi Jinping e a sua obra capital, o "America Against America" do aterrador teórico principal do PCC, Wang Huning. 


    Que a distração destas "elites" não se repita, espera-se.

    Acabou a ilusão globalista... A geopolítica volta a governar o mundo

    Durou 3 décadas o tempo da “globalização feliz”, abriu-se em Berlim e fechou-se em Moscovo. Começou com a queda de um muro e acabou com uma ...