São leituras mas também releituras, revisões e um pouco mais.
Há muitos anos, por exemplo, que ninguém da equipa “intelNomics” pegava nos "Escritos Militares" de Mao, excepto talvez apenas no "Da Guerra Prolongada". Pois bem, está na altura. Mao fundou a matriz do pensamento militar do Partido Comunista Chinês e do seu Exército Popular de Libertação, logo da actual República Popular da China.
Quando se tornou claro para toda a gente (chineses incluídos) que o PCC e a RPC se assumem já como o challenger na disputa da hegemonia global contra os Estados Unidos (e, portanto, se afirmam como a segunda superpotência mas já candidata a primeira...) e quando já é claro que pretendem substituir a actual hegemonia marítima por uma hegemonia continentalista, está na altura de revisitar Mao e os seus escritos.
Revisitar Mao e com a sua obra matricial confrontar, por exemplo, o trabalho dos coronéis chineses (datado de 1999), o já famoso "Unrestrited Warfare" (“written by two PLA air force political officers, Senior Col Qiao Liang and Senior Col Wang Xiangsui” e sobre o qual escrevemos, no 'Diário de Notícias', na altura que apareceu a tradução em inglês, cremos que em 2002).
Mas, ao fazer estas confrontações, não se pode esquecer o fundamento da cultura estratégica chinesa. E, não, não é à obra de Sun Tsu que nos refirimos, embora ela tenha a sua importância. É aos, entre nós, pouco conhecidos, (creio que nem há tradução em português) mas muito influentes na cultura político-militar dos comunistas chineses, "Les 36 stratagèmes: traité secret de stratégie chinoise".
Sobre o "grande jogo" dos comunistas chineses e os seus estratagemas, um dos europeus que melhor conhece a China e melhor a sabe "ler" escreveu, nos últimos anos algumas notas muito interessantes e deu algumas entrevistas (a imprensa escrita mas também audio-visual).
É imprescindível ver atentamente estas "leituras" do ex-maoista (dos anos 60/70) e actual "papa" da inteligência económica e, claro, da guerra económica, o nosso velho amigo Christian Harbulot que há muito tem estudado a fundo tanto as concepções chinesas de estratégia como as suas práticas. (Ver, por exemplo: “L’Europe est dans une «posture suicidaire à terme» dans ses relations avec Pékin” ; “Harbulot décrypte pour Atlantico la stratégie de la Chine pour projeter sa puissance” ; "Les Chinois en ont trop fait pour masquer leurs responsabilités" ; “La Chine est-elle devenue une puissance nocive?” ; “Christian Harbulot Desencripta o Jogo de Pequim “ ; "Stratégie Indirect et Matrice Culturelle Chinoise - Réflexions autour du Traité de l'Efficacité"...)
O grande jogo dos comunistas chineses inspira-se, claro, do jogo do "Go" (designação japonesa por que é conhecido) ou, como Mao preferia designá-lo, numa manifestação nacionalista, "Wei Chi" (game of Go and the chinese word for "crisis"). Olhando para o tabuleiro global em que o PCC desenvolve o seu "wei-chi", outras leituras surgem como necessárias.
Por exemplo, "A Vingança da Geografia", de Robert Kaplan (e se outras razões não houvesse bastaria a de procurar saber como a potência marítima vê o mundo actual e com que lentes...). Mas também as notas dos últimos anos de John Robb e ainda o seu clássico "Brave New War" com os conceitos de "disruption" e de "systempunkt disruption". (Ver, por exemplo: Partial vs. Complete System Disruption ; Cascade-based attacks on complex networks ; Cascading System Failure ; Basic Systems Disruption ; War Nerd: How the IRA Used Systems Disruption...).
Falamos, é evidente, de Bento de Espinosa (o filho de uns alentejanos emigrados, por estúpidas razões religiosas, para a Amesterdão do século XVII) e do seu grupo amigos e partners em que não se pode deixar de incluir um homem da geração anterior, o filósofo português Uriel da Costa, também exilado pelas mesmas bandas.
Boas leituras e que 2021 seja marcado pelo que mais se
precisa: resiliência, inteligência e estratégia.
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